quarta-feira, agosto 31, 2005
não sei se isto é amor # 30
já não importa o medo de perder-te
agora que ao espelho vi o segredo
das folhas de chá no fundo das chávenas
que foram os meus olhos
dantes
quando te esperava sentado no passeio
frente à casa onde com data errada dizem
que nasceu mário de sá-carneiro
existia em mim um medo sublime
que se espalhava por toda a baixa de lisboa
mas o tempo passou
sem asas
daqui a uns minutos terei envelhecido
e tu terás [eu sei porque tudo me foi revelado] a tentação
de me telefonar para me saber vivo ou jovem
ou ainda vivo ou ainda jovem
não terá sentido – até o meu nome terá mudado de lugar
e os cabelos crescido
e as unhas
e os dentes
..........não te vou responder
não te sei responder apesar de ser maior
em tamanho e cabelo branco que qualquer deus
?não percebes – sei demais para te poder revelar
o tempo que me resta que é tanto |
daqui a uns minutos
(ao espelho) verei nos meus olhos
[côncavas chávenas de chá]
o menino sentado no passeio junto à alcova
onde sá-carneiro nasceu – e apenas soará
o sino de um morfema idêntico a uma mão
ao rio – à escuridão de um círio a acender-se
..........perante a beleza
..........a bondade se não morre
..........é porque já morreu
já não importa o medo de perder-te
vou finalmente conhecer o fundo do chão
agora que ao espelho vi o segredo
das folhas de chá no fundo das chávenas
que foram os meus olhos
dantes
quando te esperava sentado no passeio
frente à casa onde com data errada dizem
que nasceu mário de sá-carneiro
existia em mim um medo sublime
que se espalhava por toda a baixa de lisboa
mas o tempo passou
sem asas
daqui a uns minutos terei envelhecido
e tu terás [eu sei porque tudo me foi revelado] a tentação
de me telefonar para me saber vivo ou jovem
ou ainda vivo ou ainda jovem
não terá sentido – até o meu nome terá mudado de lugar
e os cabelos crescido
e as unhas
e os dentes
..........não te vou responder
não te sei responder apesar de ser maior
em tamanho e cabelo branco que qualquer deus
?não percebes – sei demais para te poder revelar
o tempo que me resta que é tanto |
daqui a uns minutos
(ao espelho) verei nos meus olhos
[côncavas chávenas de chá]
o menino sentado no passeio junto à alcova
onde sá-carneiro nasceu – e apenas soará
o sino de um morfema idêntico a uma mão
ao rio – à escuridão de um círio a acender-se
..........perante a beleza
..........a bondade se não morre
..........é porque já morreu
já não importa o medo de perder-te
vou finalmente conhecer o fundo do chão
terça-feira, agosto 30, 2005
não sei se isto é amor # 29
westclox
tenho por este relógio despertador
uma ligação numérica de veias comunicantes[um amor] –
vasos de sangue invisíveis / subtis
cadentes
cardíacas
batidas secretamente transmitidas
não houve nenhum tormento –
nenhuma curva mortal de gesto – que do seu ponteiro
vermelho dos segundos não tivesse bombeado
uma força de salvamento – como um anjo de sargaço
movido pelo animo de um tempo
que não vê nem se agita pela ilusão dos minutos
até no dia em que abortei o cérebro
foi este relógio
este westclox de mostrador negro
com o seu estrídulo gritar
que me despertou a vida como um beijo de romã
de piano ou de pinheiro
fazendo-me atear no céu uma imaginária floresta
.........a força de uma asa real
para sobre as dores sentado poder escrever e respirar-me
nada do que sinta ou faça – por mais inferno que espalhe
vale mais que um caractere desenhado por rilke
ou um acidental borrão de bach numa partitura
mas o som deste relógio despertador westclox
comprado numa tarde de maio
em évora
na drogaria do senhor sardinha
só eu sei ouvir com verdadeiro entendimento
aqueles que me lerem depois de morrer e a vida
começar em espasmos de sol a rebentar e mar revolto
talvez consigam sentir como um longínquo silvar de cobras
o metálico fonema que este relógio guarda na sua espécie de ventre
nem os magos
ou as rosas mais puras
tiveram o tempo abraçado assim
eu morro mas tive-te
segundoasegundogiratoriosortilégiodeponteiros
tenho por este relógio despertador
uma ligação numérica de veias comunicantes[um amor] –
vasos de sangue invisíveis / subtis
cadentes
cardíacas
batidas secretamente transmitidas
não houve nenhum tormento –
nenhuma curva mortal de gesto – que do seu ponteiro
vermelho dos segundos não tivesse bombeado
uma força de salvamento – como um anjo de sargaço
movido pelo animo de um tempo
que não vê nem se agita pela ilusão dos minutos
até no dia em que abortei o cérebro
foi este relógio
este westclox de mostrador negro
com o seu estrídulo gritar
que me despertou a vida como um beijo de romã
de piano ou de pinheiro
fazendo-me atear no céu uma imaginária floresta
.........a força de uma asa real
para sobre as dores sentado poder escrever e respirar-me
nada do que sinta ou faça – por mais inferno que espalhe
vale mais que um caractere desenhado por rilke
ou um acidental borrão de bach numa partitura
mas o som deste relógio despertador westclox
comprado numa tarde de maio
em évora
na drogaria do senhor sardinha
só eu sei ouvir com verdadeiro entendimento
aqueles que me lerem depois de morrer e a vida
começar em espasmos de sol a rebentar e mar revolto
talvez consigam sentir como um longínquo silvar de cobras
o metálico fonema que este relógio guarda na sua espécie de ventre
nem os magos
ou as rosas mais puras
tiveram o tempo abraçado assim
eu morro mas tive-te
segundoasegundogiratoriosortilégiodeponteiros
segunda-feira, agosto 29, 2005
não sei se isto é amor # 28
num lugar de mim
de cujo o nome não quero lembrar-me
não há muito tempo vivia um fidalgo desses de lança
no cabide
adarga antiga
rocim magro e galgo corredor
?que amor posso eu empreender
se sou a bela adormecida
à beira de um poço de cristal
onde jaz uma água com sabor a agonia
..........mais do cair no poço para apanhar a lua
..........perigo
..........é própria lua alar pela pedra –
..........ferindo-se de desejo
..........só para me consumir
fui expulso do reino vegetal
por um fechado olor a pêssegos
...........ávido odor que me odiou
num lugar de mim
de cujo o nome não quero lembrar-me
não há muito tempo vivia um fidalgo
desses com ossos e escuridão –
fui um monge sob a abobada celeste
com espada e olhos vermelhos
capuz negro – cego – pronto para lutar
?que luta – hoje
se sou a lua adormecida – bela mulher
caída dentro de um cristal
onde já caídas ficaram mortas tantas luas
depois de beijadas
?que hei-de fazer se envés de um maçã
sou a bela adormecida
e a floresta está irremediavelmente perdida
se hoje um comboio partir
vou a madrid – voar
a esse lugar da mancha com o teu nome
miguel
e dormir sem bússola / sem estrelas
repetindo até ao sono o mantra do verdadeiro sabor:
c-e-r-v-a-n-t-e-s
de cujo o nome não quero lembrar-me
não há muito tempo vivia um fidalgo desses de lança
no cabide
adarga antiga
rocim magro e galgo corredor
?que amor posso eu empreender
se sou a bela adormecida
à beira de um poço de cristal
onde jaz uma água com sabor a agonia
..........mais do cair no poço para apanhar a lua
..........perigo
..........é própria lua alar pela pedra –
..........ferindo-se de desejo
..........só para me consumir
fui expulso do reino vegetal
por um fechado olor a pêssegos
...........ávido odor que me odiou
num lugar de mim
de cujo o nome não quero lembrar-me
não há muito tempo vivia um fidalgo
desses com ossos e escuridão –
fui um monge sob a abobada celeste
com espada e olhos vermelhos
capuz negro – cego – pronto para lutar
?que luta – hoje
se sou a lua adormecida – bela mulher
caída dentro de um cristal
onde já caídas ficaram mortas tantas luas
depois de beijadas
?que hei-de fazer se envés de um maçã
sou a bela adormecida
e a floresta está irremediavelmente perdida
se hoje um comboio partir
vou a madrid – voar
a esse lugar da mancha com o teu nome
miguel
e dormir sem bússola / sem estrelas
repetindo até ao sono o mantra do verdadeiro sabor:
c-e-r-v-a-n-t-e-s
domingo, agosto 28, 2005
não sei se isto é amor # 27
não
isto não é amor
nem sequer o hálito do afecto
dou por mim a duvidar se realmente existiram
todos os lugares onde escrevi
nada muda e tudo ilude
nesta cidade fria de agosto..........lisboa
aqui preso em janeiro..........esquadrinho
uma memória:
..........o mais subtil do meus nomes
que de tão secreto o perdi numa inquieta cripta
procuro-te / meu ter / na floresta – procuro-te
minha sagrada e incólume sintra –
..........morte sem ser precisa vida
isto não é amor
nem sequer o hálito do afecto
dou por mim a duvidar se realmente existiram
todos os lugares onde escrevi
nada muda e tudo ilude
nesta cidade fria de agosto..........lisboa
aqui preso em janeiro..........esquadrinho
uma memória:
..........o mais subtil do meus nomes
que de tão secreto o perdi numa inquieta cripta
procuro-te / meu ter / na floresta – procuro-te
minha sagrada e incólume sintra –
..........morte sem ser precisa vida
sábado, agosto 27, 2005
Notas Sobre Livros...
Luiz Pacheco no Notas sobre Livros...
sexta-feira, agosto 26, 2005
não sei se isto é amor # 26
há véus há sulcos há sementes há segredos
há o espaço disponível para o coro dos feios em alegria
há o som do sol a suar
há água e na água o mar a nadar
há a comida de odores ocultos na floresta dos inesperados
as coisas concentram-se numa pele amarela
as coisas parecem facas a queimar
as coisas parecem pele de lua
as coisas parecem silhuetas de terra a abandonar a estrada
as coisas são um rosto e o um rosto não é ninguém
assim te invoco meu deus tão ténue
assim te despejo meu deus tão osso
assim te beijo meu deus tão intimamente conjugal
assim te abençoo meu deus ordenhado por mãos de livros
assim te desejo o óleo o suco o chorume
eu não te quero mal meu querido deus invertido
não te quero mal porque um dia fui abendiçoado
pela música celeste divina e carnal do senhor bach
..........senhor criador de todas as coisas
..........de todos os homens
..........de todas as mulheres
..........de todas as crianças que nem são homens nem mulheres
..........dos animais peludos
..........das teclas dos pianos
..........das cordas dos violinos
eu não te quero mal meu querido deus invertido
porque te amo tão profundamente que nada de ti penso ou concebo
eu quero-te bem meu deus invertido
eu quero-te no menor dos gestos
eu quero-te em gestos
eu quero-te gesto
eu quero-te
eu te gesto
há o espaço disponível para o coro dos feios em alegria
há o som do sol a suar
há água e na água o mar a nadar
há a comida de odores ocultos na floresta dos inesperados
as coisas concentram-se numa pele amarela
as coisas parecem facas a queimar
as coisas parecem pele de lua
as coisas parecem silhuetas de terra a abandonar a estrada
as coisas são um rosto e o um rosto não é ninguém
assim te invoco meu deus tão ténue
assim te despejo meu deus tão osso
assim te beijo meu deus tão intimamente conjugal
assim te abençoo meu deus ordenhado por mãos de livros
assim te desejo o óleo o suco o chorume
eu não te quero mal meu querido deus invertido
não te quero mal porque um dia fui abendiçoado
pela música celeste divina e carnal do senhor bach
..........senhor criador de todas as coisas
..........de todos os homens
..........de todas as mulheres
..........de todas as crianças que nem são homens nem mulheres
..........dos animais peludos
..........das teclas dos pianos
..........das cordas dos violinos
eu não te quero mal meu querido deus invertido
porque te amo tão profundamente que nada de ti penso ou concebo
eu quero-te bem meu deus invertido
eu quero-te no menor dos gestos
eu quero-te em gestos
eu quero-te gesto
eu quero-te
eu te gesto
começar o dia
bom-dia joão
quinta-feira, agosto 25, 2005
não sei se isto é amor # 25
conhecer-te – olhar de fada
não me trouxe qualquer paz
sacrifico este mês de agosto
à geada que a tua falta me provoca
e tu fada sem brilhos de azulejo
é a mim que devoras num amplexo conjugal
o único abraço que tudo mata
depois da própria morte velar
saio das veias como se saísse para o café
numa manhã de sábado
– impeço o plasma de passar
e nada acontece no meu cérebro
não há vento nem espuma nem cinzas
que justifiquem o regresso às veias
..........ao
..........túmulo
..........às almofadas
às passadas da minha idade
é inútil tentar ter-te ó fada – retenho-te
porque não podes ser livre sem a senha que possuo
com o nome
o teu nome – papel livre-trânsito
que te franquearia o sol deste janeiro absurdo
espalhado como um verbo nos teus cabelos
vejo-te há tantos anos que nada sei
de cravo ou rosa que valha dizer-te
à força de te relembrar lembro a noite
em que te ergui do caixão e te encontrei
sob a acácia e o esquadro e o compasso
delta sol e lua – não sei bem –
vejo-te há tantos anos e nem a mão
sei dar-te com o segredo do sinal
a marcha – a palavra que liberta os leões do pulmão – tu
és a fada que alaga a própria luz
da luz que a luz não contém
não te posso ter – fada [única fada que conheci]
porque – hoje sei – não nasci
não me trouxe qualquer paz
sacrifico este mês de agosto
à geada que a tua falta me provoca
e tu fada sem brilhos de azulejo
é a mim que devoras num amplexo conjugal
o único abraço que tudo mata
depois da própria morte velar
saio das veias como se saísse para o café
numa manhã de sábado
– impeço o plasma de passar
e nada acontece no meu cérebro
não há vento nem espuma nem cinzas
que justifiquem o regresso às veias
..........ao
..........túmulo
..........às almofadas
às passadas da minha idade
é inútil tentar ter-te ó fada – retenho-te
porque não podes ser livre sem a senha que possuo
com o nome
o teu nome – papel livre-trânsito
que te franquearia o sol deste janeiro absurdo
espalhado como um verbo nos teus cabelos
vejo-te há tantos anos que nada sei
de cravo ou rosa que valha dizer-te
à força de te relembrar lembro a noite
em que te ergui do caixão e te encontrei
sob a acácia e o esquadro e o compasso
delta sol e lua – não sei bem –
vejo-te há tantos anos e nem a mão
sei dar-te com o segredo do sinal
a marcha – a palavra que liberta os leões do pulmão – tu
és a fada que alaga a própria luz
da luz que a luz não contém
não te posso ter – fada [única fada que conheci]
porque – hoje sei – não nasci
quarta-feira, agosto 24, 2005
não sei se isto é amor # 24
quero manchar-me..........retomar-te
[sombra] como tantas vezes nesses lugares
..........onde o cabelo nos enforcava
..........e a língua comparecia como halo ou lua –
..........espancamentos de terra
as janelas alastram [sombra] como campos:
gatos cantantes nesta cidade de estranhos pe
quenos frutos de humidade incontida
quero relembrar-me..........arder-te
sei que um dia te vi chegar só para me tocar
e sem saber do que falo [me assombro] –
– no dia do meu nascimento (aquele em que me abandonaste)
creio que me firmaram nalgum lugar do braço
com invisível tinta chinesa
um secreto código antigo que perdi – inês
a noite nunca chega ao fim
[sombra] como tantas vezes nesses lugares
..........onde o cabelo nos enforcava
..........e a língua comparecia como halo ou lua –
..........espancamentos de terra
as janelas alastram [sombra] como campos:
gatos cantantes nesta cidade de estranhos pe
quenos frutos de humidade incontida
quero relembrar-me..........arder-te
sei que um dia te vi chegar só para me tocar
e sem saber do que falo [me assombro] –
– no dia do meu nascimento (aquele em que me abandonaste)
creio que me firmaram nalgum lugar do braço
com invisível tinta chinesa
um secreto código antigo que perdi – inês
a noite nunca chega ao fim
terça-feira, agosto 23, 2005
não sei se isto é amor # 23
23 de agosto de 2005
espero-te sem saber o que és
neste jardim onde só cresce o canto convulso dos
anzóis q
.......u
.......e
.......os pássaros beijam
.......uma só vez em toda vida
.......silvando ao redor do centro
.......de um sabor
.......sem a sombra [sequer] de um curto amor
a lua nasce e sinto que tenho de ir
ao túmulo das romãs venerar-lhes a dádiva
do permanente sangue que daquelas
bagas pétreas e multiplicadas se oferendam
aos deuses em sinal de doces misericórdias
neste pequeno jardim onde ao ver-te
sei que só anzóis podem ser beijados
/ como trutas num cinema em madrid /
duvidaremos das próprias mãos –
dos pássaros – do lago – do bater sinaleiro dos restos de c
oração
neste jardim só cresce um canto convulso
eu / hoje / anzol – mordendo fios de chuva
como se imolasse uma uva –
num tempo sem linha
nem chumbos
nem isco
os pássaros pousam no túmulo e as romãs
crescem com os anjos – é agosto – quase dezembro
e é tudo o que me lembro
espero-te sem saber o que és
neste jardim onde só cresce o canto convulso dos
anzóis q
.......u
.......e
.......os pássaros beijam
.......uma só vez em toda vida
.......silvando ao redor do centro
.......de um sabor
.......sem a sombra [sequer] de um curto amor
a lua nasce e sinto que tenho de ir
ao túmulo das romãs venerar-lhes a dádiva
do permanente sangue que daquelas
bagas pétreas e multiplicadas se oferendam
aos deuses em sinal de doces misericórdias
neste pequeno jardim onde ao ver-te
sei que só anzóis podem ser beijados
/ como trutas num cinema em madrid /
duvidaremos das próprias mãos –
dos pássaros – do lago – do bater sinaleiro dos restos de c
oração
neste jardim só cresce um canto convulso
eu / hoje / anzol – mordendo fios de chuva
como se imolasse uma uva –
num tempo sem linha
nem chumbos
nem isco
os pássaros pousam no túmulo e as romãs
crescem com os anjos – é agosto – quase dezembro
e é tudo o que me lembro
segunda-feira, agosto 22, 2005
não sei se isto é amor # 22
tomei a decisão de um lento suicídio
e não chorei
ouvi os pássaros – vi as raparigas andando à pressa
senti o sol a trespassar-
-me como só o sol sabe trespassar os que se deixam trespassar
vi um gato amarelo riscar a porta de um automóvel
cheirei flores ainda não plantadas n
um ponto qualquer da minha imaginação
..........hesitei –
pensei que te faria falta, que talvez te destruísse
a infância
..........meu menino
mas que interesso se tu és rosa e arco triunfal
se os teus olhos são paris nadando em lisboa
..........tu já és tudo
que posso eu –
gira-discos afónico
no meu sono-vontade de dar-te um beijo com
tudo o que o mar transporta
quis tanto fazer-te feliz que nada aconteceu
pus-me a olhar para as árvores
vi algumas estrelas e enganei-me em tudo
tomei a decisão do meu suicídio lento
e não chorei
não há choro no desejo da morte – só dignidade
o desejo da morte é a dignidade da derrocada
e não chorei
ouvi os pássaros – vi as raparigas andando à pressa
senti o sol a trespassar-
-me como só o sol sabe trespassar os que se deixam trespassar
vi um gato amarelo riscar a porta de um automóvel
cheirei flores ainda não plantadas n
um ponto qualquer da minha imaginação
..........hesitei –
pensei que te faria falta, que talvez te destruísse
a infância
..........meu menino
mas que interesso se tu és rosa e arco triunfal
se os teus olhos são paris nadando em lisboa
..........tu já és tudo
que posso eu –
gira-discos afónico
no meu sono-vontade de dar-te um beijo com
tudo o que o mar transporta
quis tanto fazer-te feliz que nada aconteceu
pus-me a olhar para as árvores
vi algumas estrelas e enganei-me em tudo
tomei a decisão do meu suicídio lento
e não chorei
não há choro no desejo da morte – só dignidade
o desejo da morte é a dignidade da derrocada
sexta-feira, agosto 19, 2005
não sei se isto é amor # 21
esta tarde deus quis
q
u
e
pudesse esconder-
-me entre
os dedos
e as pernas me chegarassem à altura dos olhos –
..........chegaram-me tíbias aos ouvidos
...............um forasteiro de nadas e tempo lembrando-
...............-se da praia
esta tarde só vapor – até a alegria se evapora
e a tristeza parou à porta
escurecendo o ar com nuvens isoladas
como a morte num campo de estradas e
folhas de chá
não há idade nos pés e o peito é um sino
que chama por piedade
pombas-mata-moscas para me salvar
ao princípio éramos satie e eu
hoje
louvado pelo vapor
pude voltar à melancolia dos plátanos sem fronte
sinto-me nutrido
com espumas na boca – é agosto
sol posto – geada devorada num trabalho sem mãos a medir
tudo é ávido neste meu centro cerebral como
no chão do laboratório de carne e osso
onde as janelas de sol e mar me afogam
aninhado num livro de invertida leitura
..........adormeciminhaqueridacomatuaoferenda
..........esseexemplarbeloecompletoondecadabrisa
..........correocorpocomoumdesertoegípcio
..........foiocorãoquemedesteaalmofadadaminhabênção
descansada
eis tudo quanto o tempo me levou
q
u
e
pudesse esconder-
-me entre
os dedos
e as pernas me chegarassem à altura dos olhos –
..........chegaram-me tíbias aos ouvidos
...............um forasteiro de nadas e tempo lembrando-
...............-se da praia
esta tarde só vapor – até a alegria se evapora
e a tristeza parou à porta
escurecendo o ar com nuvens isoladas
como a morte num campo de estradas e
folhas de chá
não há idade nos pés e o peito é um sino
que chama por piedade
pombas-mata-moscas para me salvar
ao princípio éramos satie e eu
hoje
louvado pelo vapor
pude voltar à melancolia dos plátanos sem fronte
sinto-me nutrido
com espumas na boca – é agosto
sol posto – geada devorada num trabalho sem mãos a medir
tudo é ávido neste meu centro cerebral como
no chão do laboratório de carne e osso
onde as janelas de sol e mar me afogam
aninhado num livro de invertida leitura
..........adormeciminhaqueridacomatuaoferenda
..........esseexemplarbeloecompletoondecadabrisa
..........correocorpocomoumdesertoegípcio
..........foiocorãoquemedesteaalmofadadaminhabênção
descansada
eis tudo quanto o tempo me levou
quarta-feira, agosto 17, 2005
Em memória, em homenagem
O irmão Roger Schutz foi assassinado esta noite durante uma cerimónia religiosa em Taizé, a comunidade ecuménica que fundou em França, em 1940. O religioso de 90 anos foi esfaqueado três vezes durante a oração da noite que se celebrava na igreja da Reconciliação.
Em memória do Irmão Roger Schutz.
Em homenagem de todos os que lutam pela unidade ecuménica no mundo.
Em memória do Irmão Roger Schutz.
Em homenagem de todos os que lutam pela unidade ecuménica no mundo.
terça-feira, agosto 16, 2005
não sei se isto é amor # 20
esta dúzia de casas que me lambem
e abrasam – fazem-me não querer ouvir os pássaros
.....................nem sequer
q
u
e
r
e
r ser pássaro aninhado numa almofada
(escondido nos véus [meios-véus])
não me sinto em paz e à minha volta tudo melhora
esta dúzia de casas que me lambem
fazem-me querer
eleger a morte
..........dos pássaros
..........por rompimento
nada
esta dúzia de casas que me lambem
fazem-me sorver o anzol e querer sorver o anzol
à minha volta – primeiro só língua
depois só azia
e há a lua com ar de noiva
e a igreja..........o sacerdote a preparar-se
tudo é imortal misto e pétreo – borboletas
com rainhas..........despóticas rainhas minhas pernas
a rua ainda é pior que as casas
a rua é como uma fotografia de mortos
numa cama de família – mesmo ali na sala
onde deitada me esperas e te odeio
já não estou sujeito a ventos
e abrasam – fazem-me não querer ouvir os pássaros
.....................nem sequer
q
u
e
r
e
r ser pássaro aninhado numa almofada
(escondido nos véus [meios-véus])
não me sinto em paz e à minha volta tudo melhora
esta dúzia de casas que me lambem
fazem-me querer
eleger a morte
..........dos pássaros
..........por rompimento
nada
esta dúzia de casas que me lambem
fazem-me sorver o anzol e querer sorver o anzol
à minha volta – primeiro só língua
depois só azia
e há a lua com ar de noiva
e a igreja..........o sacerdote a preparar-se
tudo é imortal misto e pétreo – borboletas
com rainhas..........despóticas rainhas minhas pernas
a rua ainda é pior que as casas
a rua é como uma fotografia de mortos
numa cama de família – mesmo ali na sala
onde deitada me esperas e te odeio
já não estou sujeito a ventos
segunda-feira, agosto 15, 2005
não sei se isto é amor # 19
praia das maçãs
este é o caminho do meio..........a fenda
aberta na cúspide de uma cabeça
entre o mar que nos suga e
a
serra que nos expulsa..........este é
o lugar onde a criação se exalta como se exaltam as romãs
nu
..........fumo
...............de
...................um
........................cigarro
este é o círculo das sete cabeças da hydra e das asas
do anjo s.miguel..........o regenerador
tudo enverdece tudo é nevoeiro e transparência
no meio do caminho somos pai e mãe
seiva e lágrima..........álcool
abertura e cofre.........desmesura
planura e navegação
....................voam
dedos e pincéis – os anéis
(neste lugar não há morte nem nascimento nem nada)
eis o sangue da vacuidade em rosa
maçãs de outro século
na corrente do ribeiro dando à praia caídas de um po
mar longe
contemplemos os espectros vivos do seu olor vermelho ainda
embatendo na violência do fim contra dóceis rochas como facas
antes da madrugada
este é o caminho do meio..........a fenda
aberta na cúspide de uma cabeça
entre o mar que nos suga e
a
serra que nos expulsa..........este é
o lugar onde a criação se exalta como se exaltam as romãs
nu
..........fumo
...............de
...................um
........................cigarro
este é o círculo das sete cabeças da hydra e das asas
do anjo s.miguel..........o regenerador
tudo enverdece tudo é nevoeiro e transparência
no meio do caminho somos pai e mãe
seiva e lágrima..........álcool
abertura e cofre.........desmesura
planura e navegação
....................voam
dedos e pincéis – os anéis
(neste lugar não há morte nem nascimento nem nada)
eis o sangue da vacuidade em rosa
maçãs de outro século
na corrente do ribeiro dando à praia caídas de um po
mar longe
contemplemos os espectros vivos do seu olor vermelho ainda
embatendo na violência do fim contra dóceis rochas como facas
antes da madrugada
RISOCORDETEJO
Agora é a vez de ler o post que a Risoleta colocou no seu blog. As palavras faltam-me.
Aprendo o valor imenso de poder dizer OBRIGADO!
Aprendo o valor imenso de poder dizer OBRIGADO!
Francisco Amaral e a IF
Acabo de chegar de férias. Liguei o computador e mandei um e-mail ao Francisco Amaral para saber se tinha recebido o exemplar que lhe mandara da «caixa negra». Ainda antes dele me responder, dei com um post seu no IF, justamente sobre o livro.
Há pessoas com quem sentimos uma afinidade tão grande, a afinidade do éter, que qualquer agradecimento é sempre tão infinitamente pouco... apenas direi, obrigado Francisco, por tudo.
Há pessoas com quem sentimos uma afinidade tão grande, a afinidade do éter, que qualquer agradecimento é sempre tão infinitamente pouco... apenas direi, obrigado Francisco, por tudo.
segunda-feira, agosto 08, 2005
não sei se isto é amor # 18
o meu sono é uma ferida
uma laceração permanente das pálpebras
em memória de um amor
de fendas e áscuas –
a membrana que me separa
os ossos do excremento
e faz nascer a ideia inconcebível
de uma noite pétrea onde o repouso fosse a tua pele
já nem delírio provoca / só sombras
só vento
na escuridão das torturas nascem jardins de acanto
[ornato de capitel]
e é nos jardins que repousa a lápide sanguínea
do que nunca iremos partilhar
a noite suporta o planeta com
a penumbra de vácuo onde me sufoco
o meu sono é um arquipélago
uma ideia incontida de rosa
uma laceração permanente das pálpebras
em memória de um amor
de fendas e áscuas –
a membrana que me separa
os ossos do excremento
e faz nascer a ideia inconcebível
de uma noite pétrea onde o repouso fosse a tua pele
já nem delírio provoca / só sombras
só vento
na escuridão das torturas nascem jardins de acanto
[ornato de capitel]
e é nos jardins que repousa a lápide sanguínea
do que nunca iremos partilhar
a noite suporta o planeta com
a penumbra de vácuo onde me sufoco
o meu sono é um arquipélago
uma ideia incontida de rosa
domingo, agosto 07, 2005
não sei se isto é amor # 17
não sei se isto é amor..........sei que
tremo e estou caído
cálido como se as pernas se desprendessem pelo fogo
num sangue de larvas e orquídeas sem cabeça
há umas horas eras tu..........e eu [julgava]
conhecia-te como se conhecem os membros
do nosso corpo
como
se conhecem os lábios e as cerejas no tempo das cerejas
e agora – depois de umas breves palavras
olho-
-te
e nem os teus olhos são os t
eus olhos – nem as tuas mãos são as tuas mãos
estou calcinado pelo amor que julguei que sentias
e sentir não é nada
dantes encontrava-te..........foste
o esplendor da confiança a florescer
era o que sentia
e sentir não é nada..........nem sequer
amor
tenho os meus dedos sistinos feitos em membranas
cerradamente pintadas sob um gigantesco candelabro
não sei se isto é amor meu amor
olho-
-te e já não vejo o carrossel de prata que julguei para nós
deus segue na sua carruagem d'asas com a resposta à
prece mais doce das rosas que se perderam
deus corre num fumo espelhado de espadas
quando voltares estarei arrefecido
sob um gigantesco candelabro
cerradamente pintado / rosado
cerradamente
tremo e estou caído
cálido como se as pernas se desprendessem pelo fogo
num sangue de larvas e orquídeas sem cabeça
há umas horas eras tu..........e eu [julgava]
conhecia-te como se conhecem os membros
do nosso corpo
como
se conhecem os lábios e as cerejas no tempo das cerejas
e agora – depois de umas breves palavras
olho-
-te
e nem os teus olhos são os t
eus olhos – nem as tuas mãos são as tuas mãos
estou calcinado pelo amor que julguei que sentias
e sentir não é nada
dantes encontrava-te..........foste
o esplendor da confiança a florescer
era o que sentia
e sentir não é nada..........nem sequer
amor
tenho os meus dedos sistinos feitos em membranas
cerradamente pintadas sob um gigantesco candelabro
não sei se isto é amor meu amor
olho-
-te e já não vejo o carrossel de prata que julguei para nós
deus segue na sua carruagem d'asas com a resposta à
prece mais doce das rosas que se perderam
deus corre num fumo espelhado de espadas
quando voltares estarei arrefecido
sob um gigantesco candelabro
cerradamente pintado / rosado
cerradamente
terça-feira, agosto 02, 2005
não sei se isto é amor # 16
ariadne..........puríssima..........fecundíssima
mãe da cevada
héracles – glória de hera
hermíone – rainha – pilar..........amor
de ilírio – touro selvagem que entorta os olhos
ariadne.....puríssima.....fecundíssima jocasta – lua a brilhar
íon
íris
iros
ishtar
lacedemónio – demónio do lago – amor de ariadne
mãe da cevada
fecundíssima jocasta – lua a brilhar – touro
cada estrela..........álea – aquela que tritura
anipa – égua-rainha..........amor de ilírio
e no campo
todas as noites
as flores
mãe da cevada
héracles – glória de hera
hermíone – rainha – pilar..........amor
de ilírio – touro selvagem que entorta os olhos
ariadne.....puríssima.....fecundíssima jocasta – lua a brilhar
íon
íris
iros
ishtar
lacedemónio – demónio do lago – amor de ariadne
mãe da cevada
fecundíssima jocasta – lua a brilhar – touro
cada estrela..........álea – aquela que tritura
anipa – égua-rainha..........amor de ilírio
e no campo
todas as noites
as flores
segunda-feira, agosto 01, 2005
Fernando Campos no «Notas sobre Livros...»
Fernando Campos no «Notas Sobre Livros...»