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terça-feira, maio 23, 2006

II - novos evangelhos - cartas de amor # 5 

# 5 – 22 de maio de 6006 – tchernobyl

esqueci-vos minhas mãos
ardentes dedos onde dantes
a pele quente das rosas tocava
..........meus dedos amados cheirando a fumo
..........rodeados de anéis e ferozes pérolas
..........tornei-vos inúteis – inférteis
aos treze anos cuidava de um jardim
um pequeno lago de flores na jerusalém celeste
a luz brilhava dos meus pulsos
havia uma fonte de laranjas junto
à casa do templo e estrelas
e constelações imensas sob o sol
nesse tempo via-te
repousando junto às oliveiras e
sonhava as minhas mãos para ti
sonhava-te nas minhas mãos
tu
o grande médico que todos respeitavam
a ti
que nem me sabias
no mundo dos vivos
ofereci o movimento das falanges
o uso destro do polegar
o aperto dos punhos cerrados até à dormência
a ti
tu
médico dos médicos
que descansavas junto às oliveiras
as minhas pequenas mãos
de água e força

domingo, maio 21, 2006

II - novos evangelhos - cartas de amor # 4 

# 4 – 21 de maio de 6006 – tchernobyl

crio galinhas
os americanos gostam
das galinhas mutantes de tchernobyl
crio-as às dezenas nas caves do teatro
alimento-as com os vermes da humidade
e o verdete das canalizações podres
do antigo aquecimento central
nunca as vendo antes de as confessar
quero que cheguem à américa em estado de graça

? lembras-te da manhã em que pedro
nos ensinou a administrar a extrema-unção
a enfermos com dificuldades em engolir –
? a hóstia diluída em água goela abaixo –
é isso que faço com as galinhas

não têm bico nem olhos nem patas
..........são iguais às crianças de tchernobyl
..........mas os americanos não compram crianças de tchernobyl
nem as caves do teatro teriam espaço
para a criação de crianças mutantes

só galinhas
é só o que faço para sobreviver
:comprar pão ázimo no mercado negro à porta da
sinagoga central e
vinho para a semana santa –
à noite vêm uns homens de sotaina azul-celeste
e colarinho de cabeção
,trazem ao pescoço uns grandes corações de ouro
e levam-me as galinhas por alguns dólares

só galinhas
,galinhas mutantes de tchernobyl
,nas caves do teatro

sábado, maio 20, 2006

a banda sonora das nossas vidas-Elvis Costello & Tom Waits 




II - novos evangelhos - cartas de amor # 3 

# 3 – 19 de maio de 6006 – tchernobyl

tenho a pele mortificada
rasgada de sangues e fluidos espessos
tenho as pernas marcadas com
o silício de espinhos –
sim
,guardei-o
,roubei-o
,com os milénios os espinhos tornaram-se
fortes arames de rosa
que na minha pele fazem jorrar
um prazer que nunca senti
mas sei que existe –
tenho a pele tão marcada como
todos os seres deste eido
[poderosa ucrânia de outros impérios]

espeto garfos dentro de mim
ajoelhada
face à cruz ou
erecta
enquanto celebro a eucaristia –
tenho os dedos amarelos dos cigarros
e os olhos raiados de um violeta
aberto e sorridente – um amor leve de violeta

no cálice é o meu sangue e a minha água que se misturam
na hóstia é o meu corpo que se partilha
quebrado em três
e três vezes cruzado sobre o oráculo sacro
da missa – é ao senhor que oferendo estas oblações
mas é por ti que me mortifico
é pelas feridas do meu corpo estilhaçado
que o teu sopro entra
é pelo sangue e água que verte do meu peito
que se espalha este amor que te espera

noutros tempos..........,nestes
campos
,estariam a despontar nas cerejeiras
bagas vermelhas.........,quentes e doces
:tâmaras do oriente
agora...................,que tudo secou
e se decepou
ainda imagino frutos frescos
e pensando em ti o meu sangue
é o sumo de uma romã aberta

quinta-feira, maio 18, 2006

II - novos evangelhos - cartas de amor # 2 

# 2 – 17 de maio de 6006 – tchernobyl

nem navios
nem espelhos
todos os seres são deformações
o ar a terra
o éter
o fogo
:ilusões explosivas..........,mastros
de bandeira que se içam no meu pequeno
corpo – passam comboios
........sem passageiros
........sem maquinistas
comboios automáticos
carregando contentores de sangue
e membranas encefálicas para hospitais
nem livros nem palavras nem gente que come

um teatro
um colossal teatro que serve de templo
aos poucos mutantes humanos
que guardam a vaga memória da presença
de cristo no homem
é na torre desse teatro que está a cruz
a cruz que preparámos para que o senhor
se erguesse à altura das nuvens e pudesse chegar
ao pai sussurrando

às vezes fico terrificamente louca com a tua a
usênci
a
e subo à torre
para encostar a face
,os ouvidos
,à madeira cruciforme –
e daquele pedaço de árvore ouvem-se
antiquíssimos gritos
antiquíssimos gemidos
mas não é o sangue do filho
nem a voz do pai que desejo escutar
nem é o sangue da eternidade
que procuro beber
é a ti
médico das almas
,anjo com vestes de homem
,tu que não baptizaste nem consagraste
,que és apenas guardião –
tu
,a quem não chamam apóstolo nem discípulo
nem mestre nem homem nem vivo nem morto
,tu arimateia
,és o êxtase que procuro enrolada
na cruz mãe do mundo
a mim com-fiada –
o êxtase que na loucura extrema deste
lugar onde até os cães não têm forma de cão
que encontro
desejo
invoco

quarta-feira, maio 17, 2006

II - novos evangelhos - cartas de amor # 1 

# 1 – 16 de maio de 6006 – tchernobyl

guardas um sangue que não te pertence
escondes a água e o sal
a lâmina com que cortaste o mestre
escondes do mundo o portal
das grandes revelações
tu próprio te escondes
? medo de salvar o mundo
e entregar aos homens a pomba
da vida eterna – não te quero mal
quero-te bem............,josé
,muito bem..............,porque te amo
,da mesma forma me escondo
– pior..................:escondo
a cruz
a vera
cruz
a santa cruz de onde tirámos o mestre
naquela tarde quente para que tu o
tratasses e curasses
foi nos sobre os nossos ombros que ele desceu
foi sobre os nossos ombros que o levámos
à cama onde havia de receber a cura
o feitiço

agora estamos sós
feridos
amarrados
a esta roma imensa em que se tornou o mundo
,o universo
,deus

não te julgo meu querido
como sei que me não julgas
nas nossas mãos repousa o cálice e o sagrado lenho
o sangue e a água
o sal que tudo abençoa
mas de nada serviria salvar a humanidade
revelando-lhes
revelando-nos
? quem acreditaria

deixa-os procurar o vaso e a madeira
deixa-os viver a vertigem da ilusão
maya salvadora daqueles de que quem será
o reino dos céus

um dia
se os nossos corpos se unirem
e a cruz tocar no sangue e água do filho
ele
que nos ungiu as mãos e a cabeça
que nos consagrou sacerdotes e bispos
de uma nova era que nunca soubemos
honrar porque nunca honrámos o nosso
amor – porque tivemos medo de um simples beijo –
esse que nos ungiu os pés
sentirá que é a hora
e cumprirá os ditos de joão

não te julgo
não te censuro
não te acuso de nada
sei que não me julgas
sei que não me censuras
sei que não me acusas de nada

deixa-me então
amar-te ainda em vida
junto a ti
deixa-me iluminar-me e
perdoar-me no tempo

II - novos evangelhos - cartas de amor 

de marta a josé de arimateia

sexta-feira, maio 12, 2006

novos evangelhos - cartas de amor # 20 

# 20 – 12 de maio de 6006

Kyrie eléison
Kyrie eléison
Kyrie eléison

Christe eléison
Christe eléison
Christe eléison

Kyrie eléison
Kyrie eléison
Kyrie eléison

novos evangelhos - cartas de amor # 19 

# 19 – 11 de maio de 6006 – hiroshima

vou como cheguei...........:vago
parto hoje
não volto aqui.............é tempo
parto do meu coração para regressar ao meu coração
parto de ti
deixo tudo cá
a vela
o cálice
o santo dos santos
vou hoje como nasci........:vago

adeus

novos evangelhos - cartas de amor # 18 

# 18 – 10 de maio de 6006 – hiroshima

hoje o dia
a dor

dentro de mim fez-se dor
por fim
a dor

até aqui só o sofrimento
hoje deu-se a transmutação
..........o momento em que rebentaram as águas
o milagre
e a tempestade
a dor
por fim

e entendi tudo
e vi tudo
as mil vidas que tive
as mil vidas que terei

senti as costas a estalar
as pernas a arder
o estômago pesado
..........cheio
...............insuportável
os intestinos a fermentar
os olhos fora do cérebro
os pés
os pés
infinitamente pequenos desapareceram
para dentro das pernas
e as mãos choveram
e deixei de sentir a tua pele enquanto a sentia
e deixei de querer-te enquanto te queria
e quis-te e a querer-te não te sentia

as costas a abrir
o peito a fechar
o coração
por fim
a retrair-se
estavas ao meu lado
e
e
tudo se foi tornando pó e arroz
e farinha e flores e bombas e
dentadas e

e

liberdade

hoje
dia de maio
por fim
a dor

sábado, maio 06, 2006

novos evangelhos - cartas de amor # 17 

# 17 – 5 de maio de 6006 – hiroshima

à minha porta..........,na estrada
entre o mar e a escarpa celeste da minha habitação
,passou a procissão de um funeral
traziam o féretro amortalhado em cores
de açafrão e carmim – pararam para o acender
embebido que estava em azeite e assim
o fogo se ergueu
glorioso
majestático
terreno
com a pira a arder o sacerdote mandou marchar
lançando as gentes flores à fogueira
os vivos sorriam de bondade e compaixão
os cães abeiravam-se da pira e baixavam a cabeça
os monges tocavam grandes sinos
tão alto.....,tão som
que o próprio fogo era som de sino ardendo
alguém vestido de negro e branco
xintoísta silencioso com um vaso de terra
aspergiu a fogueira com uma mão
de raízes de amendoeira – purificado pelo ar
,pelo fogo..........,purificado seria pelas águas
toda a procissão entrou no mar deixando
o corpo ardente navegar numa espécie
de jangada maré a dentro
faltava a purificação do éter
:o sumo-sacerdote nadou revestido
com os seus paramentos dourados até
à fogueira e junto a ela invocou
a deusa mãe do mundo com uma voz grave
e aguda – do fogo
da terra
do sopro
levantou-se no espaço um vulto violeta
sorrindo aos céus nu e sem cabelo
nem o movimento se notava nos rostos
da multidão – respondendo ao chamamento
do sumo-sacerdote desceram do alto
os braços maternais da nossa senhora Maria
tara mãe de todos os seres e de todas os planetas
e estrelas nascidas
,mortas
e por fecundar
........abraçou-o
........levou-o
........reanimou o seu olhar
........sob um céu laranja
........e um sol quase negro
e à minha porta
só à minha porta choveu
eu e a minha escarpa feitos oásis de chuva

ainda dentro de água o sumo-sacerdote
olhou-me sem que ninguém visse
submerso até ao queixo
disse-me sem que os lábios de abrissem

«vai jesus
não esperes mais
não será a rocha dessa escarpa que te esconderá
do mundo
tens dívidas de amor contraídas com
todos os homens – foste tu quem
livremente se endividou – enquanto não
as saldares haverá sempre nuvens e chuva
sobre ti»

o sumo-sacerdote regressou à praia
a procissão regressou ao templo
e eu
,eu
,eu aqui estou a escrever-te

joão.........,se ainda és águia
se ainda me amas
ou não me amando é teu religioso desejo
cumprir a revelação de que foste transmissor
peço-te
:vem buscar-me – vem a hiroshima
leva-me deste lugar onde o sol nasce
e deixa-me uma outra vez

no extremo onde o sol de põe
ajuda-me a voltar ao ocidente
ajuda-me a escapar à eternidade
leva-me nas tuas garras para o deserto
onde fomos tão infelizes

sexta-feira, maio 05, 2006

novos evangelhos - cartas de amor # 16 

# 16 – 4 de maio de 6006 – hiroshima

… tinha treze anos quando josé – meu pai
e mestre – depositou nas minhas mãos
as jóias do
meu ministério e acção de graças
:o malho e o cinzel com que ele – josé
meu pai
e
mestre –
talhava
e polia as pedras do templo secreto
sob o disfarce inócuo
da carpintaria – quando hoje entro numa
igreja e observo os retábulos de madeira
que cobrem as pedras magnas dos
sacros altares – supostamente em honra de josé –
meu pai
e
mestre –
dou-me conta da profanação cruel
cometida pelos
imprevidentes doutores da lei
[sempre os doutores da lei
novos fariseus convertidos ao
estrume do presbitério romano]
talvez por ignorância..........talvez
por perversidade...............que
? quem é mais puro.......,o ignorante ou
o perverso

… tinha treze anos quando josé – meu pai
e
mestre
me chamou entre colunas com as mãos cobertas
de algodão branco

na sinistra confiou-me o cinzel e na destra o malho

o meu avental de linho cru
manchou-se de sangue
avental sangrado
com que meu pai ainda havia de me cobrir o rosto
dizendo: «sente o olor a sangue
sente como alguém te traiu sem
que ainda te tivesse traído
hoje estás cego e cego ficarás até que
o santo dos santos te entregue
o malhete do poder
símbolo do teu futuro reino
mas esse dia está longe
demasiado longe
a tua vida terá de ser longa
tão longa como o sofrimento dos teus súbditos
escolhe um homem que te ame acima de
todas as coisas
ama-o tu também até à exaustão dos vossos corpos
e parte
tu só és santo
tu só és senhor
mas terás que viver depois do amor
na solidão das rochas no mar
num local onde a destruição seja superior
à criação – aí nada terás de fazer
delega nesse homem que escolheres
o teu sopro –
abençoa-o todos os dias da tua vida
milénios que passem depois da tua partida –
pede dinheiro para comer
rouba se necessário for
veste-te de nada se o nada te cobrir
e se nada te cobrir de nada te cubras
– meu filho e discípulo – teme a solidão
mas não te deixes consumir antes da revelação
sente a dor do amor apartado do corpo
mas não feches o coração a mim»

escolhi-te a ti meu amado companheiro
continuo traído sem que ninguém [ainda] me tenha traído
permaneço recluso nas rochas........no mar contaminado
apartado do amor
na solidão profetizada

? terá chegado a hora de te reencontrar

? pai

quinta-feira, maio 04, 2006

novos evangelhos - cartas de amor # 15 

# 15 – 4 de maio de 6006 – hiroshima

há muitos anos depositei em ti – joão –
a tarefa de revelar a forma do meu advento
sob a forma de um outro tempo

entendeste mal o meu mistério

o meu advento depois do apocalipse
não será o advento de uma nova idade
tudo será e continuará como antes
apenas eu serei diferente
e o «teu» apocalipse já começou há
tantos
e
tantos
anos
já os cavaleiros vieram e partiram
depois de cumprirem a sua acção justa e perfeita
já as trombetas soaram e o último selo se quebrou

falta pouco para que o armagedão termine a sua função
exorcista..........,o terreno para o meu regresso
está
quase preparado
e o mundo do devir não será o dos justos
dos bons
dos belos

joão..........,tudo
continuará como antes
só eu tomarei uma nova forma
só forma..........,dentro de mim
fora da aparência resplandecente do novo cristo
estará o mesmo homem velho
incapaz e manietado pelo seu próprio movimento

volto porque meu pai assim to ditou

volto porque nada me resta para dar ao mundo
que a ilusão da renovação da minha aparição
mais uma vez
poucos serão os que me reconhecerão
mas assim que
de novo
chegar perto dos homens a ninguém dirigirei a minha palavra
se no princípio foi o sopro
agora o sopro será o fim

nem gentes nem animais ouvirão a vibração
da minha voz – que aliás perdi
perdi o teu amor e o teu corpo
escondi-me nesta cidade onde
a destruição dos homens foi mais forte
que a destruição de todos os demónios
– homens que são os únicos demónios que a terra
conheceu de-
-mónios que foram os únicos homens que a terra concebeu

a pomba do espírito arderá e não será uma fénix
disfarçada de pomba – desta vez não –
tudo o que for destruído não terá renascimento
e tudo o que for criado também o não terá

conto-te a ti esta profecia porque te sei
tão incapaz como eu – enganado pelo poder
das palavras que meu pai te deu a escrever
sei que não terás meios nem energia
para proclamar isto que em verdade te digo

tudo o que farás é queimar o manto
episcopal com que te revestes
cairás..........,cairemos
como o nosso amor caiu nas chamas do leão

novos evangelhos - cartas de amor # 14 

# 14 – 3 de maio de 6006 – hiroshima

não sou um ser solar
refaço-me e destruo-me
mudo de rosto e tenho aberta no peito uma ferida que
dá acesso ao coração
e no meu coração barcos e mares
do pacífico entram em prantos
procurando a salvação sem os gestos
dos ritos
dos paramentos
pão
e vinho

procuras em mim o que não está em mim
procuras no sol o que não está no sol

gabriel
anunciou a minha mãe que
o sol seria o meu guia
mentiu

minha mãe soube que não seria o sol
o meu avatar nem a bússola dos meus passos
calou

depositando na lua a fé do seu silêncio

eu não sou um ser lunar

não há luminária que brilhe ou se oculte
em todos os universos
que possa identificar o meu ser desmedido

eu sou aquele que ainda não nasceu
nem morreu
nem foi criança
nem adulto

em verdade
em verdade te digo
amor
tudo o que presenciaste
e de mim relataste
não passou de um anúncio

dá-me o teu bastão – apóstolo –
e poderei enviar à terra..........ao
a sol à lua
um derradeiro raio
e verás como a destruição em nada me afecta

poderás continuar a santificar o sábado
a glorificar-me ao domingo
todos vós crentes poderão perpetuar a
aparição de minha mãe sobre os montes
mas em cada rito vosso
de mim mais não terão que ilusão
e tristeza e ódio desfeito

terça-feira, maio 02, 2006

novos evangelhos - cartas de amor # 13 

# 13 – 30 de abril – 2 de maio de 6006 – hiroshima

em todos os continentes a vida se desfaz
e no continente peninsular que sou se desfez
a amorosa rosa que mantinha
estreita na garganta

flores andantes
flores inebriadas
garfos
túlipa que guardo nos olhos
e nos botões do manto morado
que vestido na ceia das ceias
te abençoou

? amanhã será mesmo maio
? amanhã
? maio

! é já maio

as gaivotas abrem as asas em fúrias de andorinha
vêm contra mim com a força do cristo que tive
dentro
pombas vêm do centro da terra
e têm unhas
ventres maternos
líquidos soltando-se dos ouvidos
trazem hóstias brancas in-consagradas e
agridem-me cegam-me
tudo se desfaz em continentes amarrados
a península que sou vai-se tornando ilha – évora
:s.miguel

tudo se desfaz arfando
à medida que [tu]
sabiamente
des-
-ligas
o nosso braço de terra estendido antes do céu
aqui onde nada se oculta

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