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terça-feira, agosto 30, 2005

não sei se isto é amor # 29 

westclox

tenho por este relógio despertador
uma ligação numérica de veias comunicantes[um amor] –
vasos de sangue invisíveis / subtis
cadentes
cardíacas
batidas secretamente transmitidas

não houve nenhum tormento –
nenhuma curva mortal de gesto – que do seu ponteiro
vermelho dos segundos não tivesse bombeado
uma força de salvamento – como um anjo de sargaço
movido pelo animo de um tempo
que não vê nem se agita pela ilusão dos minutos

até no dia em que abortei o cérebro
foi este relógio
este westclox de mostrador negro
com o seu estrídulo gritar
que me despertou a vida como um beijo de romã
de piano ou de pinheiro
fazendo-me atear no céu uma imaginária floresta
.........a força de uma asa real
para sobre as dores sentado poder escrever e respirar-me

nada do que sinta ou faça – por mais inferno que espalhe
vale mais que um caractere desenhado por rilke
ou um acidental borrão de bach numa partitura
mas o som deste relógio despertador westclox
comprado numa tarde de maio
em évora
na drogaria do senhor sardinha
só eu sei ouvir com verdadeiro entendimento

aqueles que me lerem depois de morrer e a vida
começar em espasmos de sol a rebentar e mar revolto
talvez consigam sentir como um longínquo silvar de cobras
o metálico fonema que este relógio guarda na sua espécie de ventre

nem os magos
ou as rosas mais puras
tiveram o tempo abraçado assim
eu morro mas tive-te
segundoasegundogiratoriosortilégiodeponteiros

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