segunda-feira, junho 27, 2005
não sei se isto é amor # 5
desapareceu de sua casa o avião em que me transportava
inquieto..........deslizava..........inquieto
e eu com ele desapareci..........inquieto
deslizante sem casa transportado por um sono
oblíquo e transparente.............a quem o encontrar
darei o beijo e o corpo..............inquieto
das horas das viagens dos malmequeres – fazes isso por mim?
achas-me? procuras-me?...........inquieto
desapareci de minha casa avião
vi ao longe os cabelos de tantas árvores oblíquas transparentes
tenho em mim gestos que não entendes
coisas
inquieto..........deslizava..........inquieto
e eu com ele desapareci..........inquieto
deslizante sem casa transportado por um sono
oblíquo e transparente.............a quem o encontrar
darei o beijo e o corpo..............inquieto
das horas das viagens dos malmequeres – fazes isso por mim?
achas-me? procuras-me?...........inquieto
desapareci de minha casa avião
vi ao longe os cabelos de tantas árvores oblíquas transparentes
tenho em mim gestos que não entendes
coisas
quinta-feira, junho 23, 2005
não sei se isto é amor # 4
julles e jim meu ramo de flores-abelha
ana karina de vivre sa vie – tantas noites
maiakovsky meu passaporte vermelho
verdes anos minha rocha - ruth
gerard phillipe com o diabo no corpo
sou finalmente capaz de criar a minha ficção
o lugar e o rebentamento das coisas cinzentas
as tempestades de células no cérebro em catadupa
e limpar o suor da testa enquanto me assoo
ao cabelo e te amo – tu – te – que não sei quem és
já esqueci
...........todos os livros
...........todos os poemas
...........todos os filmes
...........todas as línguas beijadas – idiomas
estou livre da tua saliva e da prisão da sua gomosa existência
no meu corpo..........................é
como se tivesse dinheiro para entrar num restaurante barato
e pedir um bitoque e comê-lo com pão
poder pagar arroz doce
já esqueci
..........toda a gente
..........todos os lugares
..........todos os cigarros
................a tua barriga
sou finalmente capaz de criar a minha ficção
ana karina de vivre sa vie – tantas noites
maiakovsky meu passaporte vermelho
verdes anos minha rocha - ruth
gerard phillipe com o diabo no corpo
sou finalmente capaz de criar a minha ficção
o lugar e o rebentamento das coisas cinzentas
as tempestades de células no cérebro em catadupa
e limpar o suor da testa enquanto me assoo
ao cabelo e te amo – tu – te – que não sei quem és
já esqueci
...........todos os livros
...........todos os poemas
...........todos os filmes
...........todas as línguas beijadas – idiomas
estou livre da tua saliva e da prisão da sua gomosa existência
no meu corpo..........................é
como se tivesse dinheiro para entrar num restaurante barato
e pedir um bitoque e comê-lo com pão
poder pagar arroz doce
já esqueci
..........toda a gente
..........todos os lugares
..........todos os cigarros
................a tua barriga
sou finalmente capaz de criar a minha ficção
terça-feira, junho 21, 2005
não sei se isto é amor # 3
tento perceber os planetas e reconhecer as raízes
externas do poema enquanto os meus dedos
caem sobre as teclas do piano homenageando deuses em
segunda mão e cantares de évora
e os planetas tentam reconhecer-me entre a poeira
dos livros e os nós na garganta
tenho pés
tenho ossos
tenho caspa
tenho dentes
tento perceber as rochas e ser como elas
antigas e dignas e musicalmente coloridas
......vejo os cães que me vigiam
......observo-os
......aos cães
......que me vigiam
......tenho tantos cães que me vigiam
às vezes deixo que algas se instalem no meu trono
às vezes tenho a tua companhia e sei que a mereço
......tu não achas – é verdade – mas mereço
gostava de ter dinheiro para comprar pão com fiambre
e flores encarnadas e tintas – pagar o telefone
tenho.....................ainda
algum...................livro
para.......................ler?
eu sei que os cães me vigiam..........eu sei
tento perceber os planetas reconhecer as raízes dos
nós dos dedos que caem sobre o meu corpo
ao murro
às vezes beijo deuses em segunda mão......só
nota:
nestes poemas a utilização de pontos corresponde a espaços
externas do poema enquanto os meus dedos
caem sobre as teclas do piano homenageando deuses em
segunda mão e cantares de évora
e os planetas tentam reconhecer-me entre a poeira
dos livros e os nós na garganta
tenho pés
tenho ossos
tenho caspa
tenho dentes
tento perceber as rochas e ser como elas
antigas e dignas e musicalmente coloridas
......vejo os cães que me vigiam
......observo-os
......aos cães
......que me vigiam
......tenho tantos cães que me vigiam
às vezes deixo que algas se instalem no meu trono
às vezes tenho a tua companhia e sei que a mereço
......tu não achas – é verdade – mas mereço
gostava de ter dinheiro para comprar pão com fiambre
e flores encarnadas e tintas – pagar o telefone
tenho.....................ainda
algum...................livro
para.......................ler?
eu sei que os cães me vigiam..........eu sei
tento perceber os planetas reconhecer as raízes dos
nós dos dedos que caem sobre o meu corpo
ao murro
às vezes beijo deuses em segunda mão......só
nota:
nestes poemas a utilização de pontos corresponde a espaços
domingo, junho 19, 2005
não sei se isto é amor # 2
aqui estou e tenho um nome e uma angústia masculina
um ventre e um chapéu feito de lã
uma rede e um cavalo
...........que procura
uma lente e um espelho deformados pela tortura
tenho teias com fantasmas urinóis e capacetes
um bilhete de identidade e uma carta tua
...........tão cipreste que já nem se usa
aqui estou e tenho um nome e uma cama dividida
um anel para os olhos e um corpete de diamantes
e uma flor que jura murchar a prestações no braço de uma viola
visto o meu fato de orar e o avental que me ilustra
para desenhar no peito a forma escura de uma alma em ruptura
e sinto potros no meu ombro carregados de traições
...........canetas no meu bolso lavrando erva ao encontrões
o céu já não me assiste nem o olho se acende
aqui estou e tenho um nome com sapatos
ao contrário
...........amarrados a um cadáver
...........legionário
e num pacote de tabaco uma pintura sem assinatura
enterrada num chão que nem sabe em que terra se mistura
um ventre e um chapéu feito de lã
uma rede e um cavalo
...........que procura
uma lente e um espelho deformados pela tortura
tenho teias com fantasmas urinóis e capacetes
um bilhete de identidade e uma carta tua
...........tão cipreste que já nem se usa
aqui estou e tenho um nome e uma cama dividida
um anel para os olhos e um corpete de diamantes
e uma flor que jura murchar a prestações no braço de uma viola
visto o meu fato de orar e o avental que me ilustra
para desenhar no peito a forma escura de uma alma em ruptura
e sinto potros no meu ombro carregados de traições
...........canetas no meu bolso lavrando erva ao encontrões
o céu já não me assiste nem o olho se acende
aqui estou e tenho um nome com sapatos
ao contrário
...........amarrados a um cadáver
...........legionário
e num pacote de tabaco uma pintura sem assinatura
enterrada num chão que nem sabe em que terra se mistura
sábado, junho 18, 2005
não sei se isto é amor # 1
continuo a procurar-te no trigo
nos táxis......nas velas......nas cordas
......com
......que
......decoro os pés e as mãos amarradas do tesouro
e deixo escorrer o sangue na bacia de esmalte
água quente da torneira
......uma maçã verde
......o limão
estou no pasto onde os rebanhos são cristais de rocha
e deixo escorrer o sangue na bacia
sentindo a doçura morna do líquido a esgotar-se
......§
nos táxis......no olhar das gatas......no alvor-
-estival de uma espécie de maio com luvas
nas velas e nas cordas......no garrote
que não porei no braço......espaço
......uma maçã verde?
......um limão?
continuo a procurar-te no esmalte
nota:
nestes poemas a utilização dos pontos corresponde a espaços
nos táxis......nas velas......nas cordas
......com
......que
......decoro os pés e as mãos amarradas do tesouro
e deixo escorrer o sangue na bacia de esmalte
água quente da torneira
......uma maçã verde
......o limão
estou no pasto onde os rebanhos são cristais de rocha
e deixo escorrer o sangue na bacia
sentindo a doçura morna do líquido a esgotar-se
......§
nos táxis......no olhar das gatas......no alvor-
-estival de uma espécie de maio com luvas
nas velas e nas cordas......no garrote
que não porei no braço......espaço
......uma maçã verde?
......um limão?
continuo a procurar-te no esmalte
nota:
nestes poemas a utilização dos pontos corresponde a espaços
não sei se isto é amor
«Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! Nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo»
Camilo Pessanha
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! Nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo»
Camilo Pessanha
terça-feira, junho 14, 2005
o livro das noivas # 40
# 40 – o ataúde
meu derradeiro jantar antes da procissão
não me assustam os teus versos complicados
de sémen e transparências – lá vou andando
ergo-me imortal no topo de uma orquídea
meu derradeiro erguer matinal porque choro
e transpiro
chegará o dia de todos os beijos
e a queda das acácias em meu nome
não me assustam as bandeiras que levanto
o que me consome é esta permanente falta de flores nas jarras
tenho à minha frente um barco onde bondosamente poisarão
o esquife
?lerão salmos?
quando chegar ao mar faço questão
de rebentar em líquidos que se espalhem
pelas ondas numa euforia de espuma
tenho um lírio por abrir e nunca te disse: meu amor
– foi o que contei ao soldador
àquele que vai selar o cofre do meu corpo dormente –
nada me assusta num caixão
é um palácio belo que todos respeitam
e deixam florir – assim eu
ao menos uma vez re
luza entre cristais
não esperes por mim estou gasta
de olhos verdes à deriva
e vou não mais cansada do que o costume
é só um poema – um último poema antes da espuma
meu derradeiro jantar antes da procissão
não me assustam os teus versos complicados
de sémen e transparências – lá vou andando
ergo-me imortal no topo de uma orquídea
meu derradeiro erguer matinal porque choro
e transpiro
chegará o dia de todos os beijos
e a queda das acácias em meu nome
não me assustam as bandeiras que levanto
o que me consome é esta permanente falta de flores nas jarras
tenho à minha frente um barco onde bondosamente poisarão
o esquife
?lerão salmos?
quando chegar ao mar faço questão
de rebentar em líquidos que se espalhem
pelas ondas numa euforia de espuma
tenho um lírio por abrir e nunca te disse: meu amor
– foi o que contei ao soldador
àquele que vai selar o cofre do meu corpo dormente –
nada me assusta num caixão
é um palácio belo que todos respeitam
e deixam florir – assim eu
ao menos uma vez re
luza entre cristais
não esperes por mim estou gasta
de olhos verdes à deriva
e vou não mais cansada do que o costume
é só um poema – um último poema antes da espuma
domingo, junho 12, 2005
o livro das noivas # 39
# 39 – sinto uma grande alegria quando
o meu marido vai beijar o filho
deitamo-nos na cama e fingimos
é costume
é um hábito antigo que já não estranhamos
quando se apaga a luz e se vivem aqueles segundos
de total escuridão nocturna – é a esperança
de que nada aconteça /
mas depois vem o luar
a luz que entra por todas as frinchas
são as pupilas dos olhos que se abrem escancaradas e tudo deixam ver
«a luz brilha mesmo na obscuridade mais profunda» – dizem
os pedreiros no fim das suas secretas reuniões
e
realmente
não há escuro possível – escondo-me entre os lençóis
concentrando-me no cheiro a detergente – a suor lavado – a algas
até que sinto os teus cabelos compridos e negros
enrolarem-se em mim
a entrarem-me pelos ouvidos
as tuas mãos a murmurar nos meus lábios
e é como se uma claridade brutal nada deixasse esconder
nós as duas – ali deitadas – representando
e o espectáculo não leva mais de meia-hora
meia-hora
meia-hora
parece tão pouco...
é então que ele chora lá de longe
e tu te levantas branca e lenta enrolando os cabelos num elástico
enquanto sais do quarto
consola-me saber-te lá a beijá-lo a dar-lhe festas nas mãos
adormeço | quando chegas já estou irremediavelmente baleada
a ver-te secretamente
o meu marido vai beijar o filho
deitamo-nos na cama e fingimos
é costume
é um hábito antigo que já não estranhamos
quando se apaga a luz e se vivem aqueles segundos
de total escuridão nocturna – é a esperança
de que nada aconteça /
mas depois vem o luar
a luz que entra por todas as frinchas
são as pupilas dos olhos que se abrem escancaradas e tudo deixam ver
«a luz brilha mesmo na obscuridade mais profunda» – dizem
os pedreiros no fim das suas secretas reuniões
e
realmente
não há escuro possível – escondo-me entre os lençóis
concentrando-me no cheiro a detergente – a suor lavado – a algas
até que sinto os teus cabelos compridos e negros
enrolarem-se em mim
a entrarem-me pelos ouvidos
as tuas mãos a murmurar nos meus lábios
e é como se uma claridade brutal nada deixasse esconder
nós as duas – ali deitadas – representando
e o espectáculo não leva mais de meia-hora
meia-hora
meia-hora
parece tão pouco...
é então que ele chora lá de longe
e tu te levantas branca e lenta enrolando os cabelos num elástico
enquanto sais do quarto
consola-me saber-te lá a beijá-lo a dar-lhe festas nas mãos
adormeço | quando chegas já estou irremediavelmente baleada
a ver-te secretamente
quinta-feira, junho 09, 2005
o livro das noivas # 38
# 38 – dentes brancos
polegar indicador médio anular mindinho
dália íris orquídea crisântemo tulipa
pimenta cominhos noz-moscada cravinho gengibre
ametista topázio granada venturina esmeralda
porco galinha ovelha cabra vaca
aparo tinteiro tinta êmbolo tampa
medo pai-nosso salve-rainha pia taça
sangue sémen lágrimas suor saliva
basalto granito mármore ardósia grés
oração acção revolução combate desilusão
doença soro sexo adrenalina desagregação
caixão mortalha cruz maquilhagem fétido-odor-a-pés
catarina mafalda rosário francisca angélica
depois de seis horas de intervenção ficou tudo gravado
nos dentes
nome por nome
cinco a cinco
já com as gengivas tratadas e o tártaro tirado
quando olho ao espelho leio cada
1
das
65
palavras
da esquerda para a direita como se estivessem
escritas da direita para a esquerda – o que
é um fenómeno da física das lentes muito usual
tenho 1
especial prazer em ler quando sorrio
envés de revolução no dente grande da frente
oãçulover
polegar indicador médio anular mindinho
dália íris orquídea crisântemo tulipa
pimenta cominhos noz-moscada cravinho gengibre
ametista topázio granada venturina esmeralda
porco galinha ovelha cabra vaca
aparo tinteiro tinta êmbolo tampa
medo pai-nosso salve-rainha pia taça
sangue sémen lágrimas suor saliva
basalto granito mármore ardósia grés
oração acção revolução combate desilusão
doença soro sexo adrenalina desagregação
caixão mortalha cruz maquilhagem fétido-odor-a-pés
catarina mafalda rosário francisca angélica
depois de seis horas de intervenção ficou tudo gravado
nos dentes
nome por nome
cinco a cinco
já com as gengivas tratadas e o tártaro tirado
quando olho ao espelho leio cada
1
das
65
palavras
da esquerda para a direita como se estivessem
escritas da direita para a esquerda – o que
é um fenómeno da física das lentes muito usual
tenho 1
especial prazer em ler quando sorrio
envés de revolução no dente grande da frente
oãçulover
terça-feira, junho 07, 2005
o livro das noivas # 37
# 37 – adrianna
estou bem – claro que estou bem
sinto o peito e os olhos – tenho o cérebro vertical
sobre pés em alinho
sinto rosas como espuma a andar no corpo
e tenho sono
e vejo
... que mais...
um desejo / uma madeixa de cabelo caída sobre os olhos
que
não me incomoda – lábios vermelhos – sinal de viço
...
estou bem – que queres que te diga para te convencer
sim / tenho apetite
e como legumes
e
frutas variadas
e
sim / bebo água – muita água e tenho a urina límpida
se disse o teu nome mais alto foi porque a garganta
se não conteve
e chamei-te como um espasmo
um reflexo
uma reacção descontrolada das cordas vocais
...
mas agradeço a tua preocupação
agradeço o teu carinhoso contacto beijado
e o cesto com nozes que me mandaste
mas sou feliz
muito feliz
muito feliz
iz
iz
iz
...
podes acreditar | não tens qualquer razão para duvidar
apenas gritei por ti porque só existes tu e eu não te conheço
estou bem – claro que estou bem
sinto o peito e os olhos – tenho o cérebro vertical
sobre pés em alinho
sinto rosas como espuma a andar no corpo
e tenho sono
e vejo
... que mais...
um desejo / uma madeixa de cabelo caída sobre os olhos
que
não me incomoda – lábios vermelhos – sinal de viço
...
estou bem – que queres que te diga para te convencer
sim / tenho apetite
e como legumes
e
frutas variadas
e
sim / bebo água – muita água e tenho a urina límpida
se disse o teu nome mais alto foi porque a garganta
se não conteve
e chamei-te como um espasmo
um reflexo
uma reacção descontrolada das cordas vocais
...
mas agradeço a tua preocupação
agradeço o teu carinhoso contacto beijado
e o cesto com nozes que me mandaste
mas sou feliz
muito feliz
muito feliz
iz
iz
iz
...
podes acreditar | não tens qualquer razão para duvidar
apenas gritei por ti porque só existes tu e eu não te conheço
segunda-feira, junho 06, 2005
o livro das noivas # 36
# 36 – as alianças
tenho um dedo a mais – como poderia ter um nariz a mais
ou duas
ou três
bocas
coisas que não tenho – podia ter – sim –
mas não tenho – só tenho um nariz e um boca –
o que tenho is
sso s
im
é um dedo a mais – um dedo para ti prestes a ser cortado
soube que também tu tens um dedo a mais
alguma coisa havia de nos unir – uma afinidade
simples [como esta] que fosse
ainda por cima não se fica por aqui a comunhão
no meu dedo a mais está de nascença gravado
martha
e sei que no teu dedo a mais está de nascença
gravado
ana
?pergunto-te
o teu dedo a mais também está prestes a ser cortado?
se não podes ainda responder
pois não o faças
não precipites a resposta com a ânsia de me tocar com letras
eu espero
como espero desde que à nascença li
o teu nome
inscrito
no dedo a mais que para ti o meu corpo transporta até ser cortado
tenho um dedo a mais – como poderia ter um nariz a mais
ou duas
ou três
bocas
coisas que não tenho – podia ter – sim –
mas não tenho – só tenho um nariz e um boca –
o que tenho is
sso s
im
é um dedo a mais – um dedo para ti prestes a ser cortado
soube que também tu tens um dedo a mais
alguma coisa havia de nos unir – uma afinidade
simples [como esta] que fosse
ainda por cima não se fica por aqui a comunhão
no meu dedo a mais está de nascença gravado
martha
e sei que no teu dedo a mais está de nascença
gravado
ana
?pergunto-te
o teu dedo a mais também está prestes a ser cortado?
se não podes ainda responder
pois não o faças
não precipites a resposta com a ânsia de me tocar com letras
eu espero
como espero desde que à nascença li
o teu nome
inscrito
no dedo a mais que para ti o meu corpo transporta até ser cortado
sábado, junho 04, 2005
o livro das noivas # 35
# 35 – o baptismo dos filhos
pus tudo numa mala – o que tenho é
uma espada
a água e a lamparina – os óleos
o teu azeite
a viagem será breve – distraída | como um choro
um circo de pulgas
| a partir de hoje estarás preso aos fios de cabelo do teu senhor |
(e escrevo senhor com um ésse maiúsculo)
derramo sobre a tua barriga o meu suor
e vejo sal a planar nos olhos
de um menino
[uma amarga fotografia na carteira]
sobre a testa a extrema –
unção – das tuas lânguidas facas
meu tiro de canhão na pia baptismal
leio a liturgia e reparo nas gralhas que deixei escapar
:
leite envés de azeite
mar envés de dar
cruz envés de luz
/
tudo numa mala e tudo é uma espada
corpo mar e mala
derramo sobre a tua barriga a minha faca
o salmo
a taça
pus tudo numa mala – o que tenho é
uma espada
a água e a lamparina – os óleos
o teu azeite
a viagem será breve – distraída | como um choro
um circo de pulgas
| a partir de hoje estarás preso aos fios de cabelo do teu senhor |
(e escrevo senhor com um ésse maiúsculo)
derramo sobre a tua barriga o meu suor
e vejo sal a planar nos olhos
de um menino
[uma amarga fotografia na carteira]
sobre a testa a extrema –
unção – das tuas lânguidas facas
meu tiro de canhão na pia baptismal
leio a liturgia e reparo nas gralhas que deixei escapar
:
leite envés de azeite
mar envés de dar
cruz envés de luz
/
tudo numa mala e tudo é uma espada
corpo mar e mala
derramo sobre a tua barriga a minha faca
o salmo
a taça
Notas Sobre Livros...
Publica-se hoje o primeiro texto no site Notas Sobre Livros....
Hoje:
«Três Respostas» de Eduarda Dionísio.
Hoje:
«Três Respostas» de Eduarda Dionísio.