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domingo, junho 12, 2005

o livro das noivas # 39 

# 39 – sinto uma grande alegria quando
o meu marido vai beijar o filho


deitamo-nos na cama e fingimos
é costume
é um hábito antigo que já não estranhamos
quando se apaga a luz e se vivem aqueles segundos
de total escuridão nocturna – é a esperança
de que nada aconteça /
mas depois vem o luar
a luz que entra por todas as frinchas
são as pupilas dos olhos que se abrem escancaradas e tudo deixam ver
«a luz brilha mesmo na obscuridade mais profunda» – dizem
os pedreiros no fim das suas secretas reuniões
e
realmente
não há escuro possível – escondo-me entre os lençóis
concentrando-me no cheiro a detergente – a suor lavado – a algas
até que sinto os teus cabelos compridos e negros
enrolarem-se em mim
a entrarem-me pelos ouvidos
as tuas mãos a murmurar nos meus lábios
e é como se uma claridade brutal nada deixasse esconder
nós as duas – ali deitadas – representando
e o espectáculo não leva mais de meia-hora
meia-hora
meia-hora
parece tão pouco...
é então que ele chora lá de longe
e tu te levantas branca e lenta enrolando os cabelos num elástico
enquanto sais do quarto
consola-me saber-te lá a beijá-lo a dar-lhe festas nas mãos

adormeço | quando chegas já estou irremediavelmente baleada
a ver-te secretamente

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