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terça-feira, novembro 28, 2006

caligrafia inexplicável 

# 7

imobilizado pela tempestade,
sou um vaso de flores vazio de
coração. uma árvore que perdeu
a raiz. não tenho mãos porque não pertencem a ninguém.
porque não me pertencem.
como vaso de flores, recolho-me por dentro
do sorriso e no meu anel relicário
sentam-se preciosas gotas de chuva.

terça-feira, 28 de novembro de 2006

domingo, novembro 26, 2006

«entre nós e as palavras o nosso dever de falar» 



entre nós e as palavras
para mário cesariny no dia da sua morte


um dia
entre os meus dedos frios
saberei segurar um cigarro com o amor
com que deixavas refulgente no éter
a rosa imensa do poema ou da pintura
(tanto faz)

um dia – (já)
o amor que perdeste
esse homem – esse único ser que amaste
voltará para os teus braços
e todos os poemas terão valido a pena
todas as rosas respirarão ao alto
e a chuva escorrerá entre os dedos amantes
ainda possíveis

um dia
os meus dedos serão como os teus
amarelos de um fumo construtor
:o teu amor

um dia
o mar não terá navios
nem espelhos
nem mastros
nem corações desfeitos

esta noite o teu corpo gastou-se
mas não se esgotou
corre o perfume do teu olhar
como um pássaro de asas imensas
e garras ferozes – hoje
mário
poderás ver-nos de cima
e rir de tudo voando só cabeça
enquanto o corpo se aninha na pele
amorosa do homem-luz que há tanto esperavas

Frederico Mira George

mário cesariny partiu esta madrugada 





Queria de ti um país de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma



caligrafia inexplicável 

# 6

«Nunca é tarde para se ter uma infância feliz
O cavaleiro solitário ainda sonha acordado»

Jorge Palma, 1985

no centro de um escuro cavado
brilha a vela vermelha, o olho amoroso,
uma esfera de luz – coração puro em fogo.
é uma fotografia, mas a vela é
tão real
como o homem que a vê.
tão real
que o homem que a vê se deixa iluminar
e dar. o coração recomeça a bater, é essa
a função do fogo. o homem reacende-se até a sua
face se transformar num campo de girassóis.

domingo, 26 de novembro de 2006
para m

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sexta-feira, novembro 24, 2006

caligrafia inexplicável 

# 5

o vento corre a cento e dez quilómetros por hora.
a chuva nem tem tempo de tocar o chão.
é a terra que ascende ao céu para a beber.
os dragões protectores estão alerta nas grutas.
não há movimento humano possível.
o sangue circula pelas veias erradas.
bendita seja a ira dos elementos.

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

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quinta-feira, novembro 23, 2006

caligrafia inexplicável 

# 4

é o homem que se apoia na bengala
ou a bengala que apoia no homem?
se virmos a cena de cima, é o homem
que se apoia na bengala. se
observarmos de baixo, é a bengala que se
apoia no homem. entre eles
o chão e a mão. eis o mistério da existência
em dois hemisférios justapostos.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

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quarta-feira, novembro 22, 2006

caligrafia inexplicável 

# 3

comprou uma caixa. pequena.
colocou a caixa em cima de uma mesa e
entrou para dentro da caixa.
estando dentro da caixa trancou a caixa por fora.
lá dentro, reparou que também uma serpente tinha entrado.
serpente maior do que ele mas menor do que a caixa.
sem luz. sem saída. sem ar. teriam, apenas, de ali estar.
e confiar na natureza humana da caixa para os salvar.

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

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terça-feira, novembro 21, 2006

caligrafia inexplicável 

# 2

papel branco. tinta branca.
pincel branco. desenho branco.
luz branca. mãos brancas.
olhos brancos. chão branco.

enquanto o desenho secava,
caiu uma pétala de lis sobre ele.
carmim. uma pétala de lis carmim.

o pintor branco, vê a pétala e chora.
depois bebe chá e recomeça.

papel carmim. tinta carmim.
pincel carmim. desenho carmim.
luz carmim. mãos carmim.
olhos carmim. chão carmim.

enquanto o desenho secava,
caiu uma pétala de lis sobre ele.
branca. uma pétala de lis branca.

o pintor carmim, vê a pétala e chora.
depois bebe chá e recomeça.

terça-feira, 21 de novembro de 2006

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domingo, novembro 19, 2006

caligrafia inexplicável 

# 1

não sou montanha. nem rocha. nem concha. nem rio. nem mar. nem peixe. nem barco. nem viajante. nem relógio. nem beijo. nem vida. nem nuvem.

sou
montanha.
e rocha. e
concha.
e rio. e
mar. e
peixe.
e barco. e viajante. e relógio. e beijo. e vida. e nuvem.

não sou um espelho nem o que de mim não se vê no espelho.
não sou «mim» nem espelho. nem reflexo nem trevas.

lucidamente,
olho as baratas a rastejar sobre as teclas do piano e sinto sede.

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quinta-feira, novembro 16, 2006

Tom Waits 

Amazon.com : Entertainment : Tom-Waits

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quarta-feira, novembro 15, 2006

Uma noite com Jorge Palma 


Nunca É Tarde Para Se Ter Uma Infância Feliz

A gente já não sabe o que há-de fazer com a lua
Gerou-se um curto-circuito no canal telepático
E a caverna clandestina por detrás da cascata
Onde os amantes se entregavam à eternidade
Hoje não passa dum moderno armazém de sucata
Existem mil produtos para encher o vazio
Criámos computadores para ampliar a memória
E todos nós temos disfarces para aumentar a confusão
Só não sabemos como fazer o amor durar
O grande enigma continua a dar-nos cabo do coração
«Olá, a que horas parte o teu comboio?
O meu é às cinco e trinta e três
Ainda falta um bom bocado,
Queres contar-me a tua história?
Espera, deixa-me adivinhar,
Vais recomeçar noutro lado...
Trazes escrito na bagagem
Que a coisa aqui não deu...
Quanto a mim, também me sinto um pouco desenraizado... »
Também o amor se adapta às leis da economia
Investe-se a curto prazo e reduz-se a energia
E quando o barco vai ao fundo ninguém quer ser culpado
Mas nunca é tarde para se ter uma infância feliz
O cavaleiro solitário ainda sonha acordado


O Bairro do Amor

No bairro do amor a vida é um carrossel
Onde há sempre lugar para mais alguém
O bairro do amor foi feito a lápis de cor
Por gente que sofreu por não ter ninguém
No bairro do amor o tempo morre devagar
Num cachimbo a rodar de mão em mão
No bairro do amor há quem pergunte a sorrir:
Será que ainda cá estamos no fim do Verão?
Eh pá , deixa-me abrir contigo
Desabafar contigo
Falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
Descontrair um pouco
Eu sei que tu compreendes bem
No bairro do amor a vida corre sempre igual
De café em café, de bar em bar
No bairro do amor o Sol parece maior
E há ondas de ternura em cada olhar
O bairro do amor é uma zona marginal
Onde não há hotéis, nem hospitais
No bairro do amor cada um tem que tratar
Das suas nódoas negras sentimentais
Eh pá , deixa-me abrir contigo
Desabafar contigo
Falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
Descontrair um pouco
Eu sei que tu compreendes bem

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sábado, novembro 11, 2006

O LODO 

O LODO
(finalmente)
Monólogo para Mais que Um

Eu sou o Lodo!
E digo outra vez:
Eu sou o Lodo!
E digo em voz baixa
porque quando se fala em voz baixa
as bestas põem-se de cócoras
........isto porque o Homem é a expressão
........distorcida das galinhas

Eu fui gente!
........(mas só no momento em que nasci)
Sou
Agora terra estrumenta
e
água escura, onde vos hei-de submergir (só até à cabeça).
As vossas cabecinhas hão-de ficar de fora
a ver tudo
com
os
olhinhos à volta nas órbitas, enquanto,
afundados, os vossos pezinhos e mãozinhas
se consumirão em veias abertas e vermes pelos pés.

Eu,
que já fui gente (mas só no momento em que nasci)
Não
Quero mais, nunca,
ser nada que se pareça com a fuça humana.
E a minha única esperança é que pORTUGAL caia
desamparado de um penhasco
e vos engula, vocês os espertos, os delicados, os que se sabem esconder,
os inteligentíssimos, os oradores de esquerda: as pistolas do fascismo.
E vocês fascistas que são as munições das gargantas da esquerda.
Caído, pORTUGAL há-de estatelar-se para arder no mar.
E, se por um azar,
houver um português adulto que se escape, em consequência
de acções bondosas das suas vidas anteriores,
que lhe seja concedida a máxima glória de estar vivo:
a sublime condição de APÁTRIDA.
Ser Apátrida é a única possível oportunidade, para alguns portugueses,
de terem no corpo a latejar uma nação onde o sangue brote
de inteligência e o cérebro de sensibilidade.

Enquanto pORTUGAL não cai,
........(só por uma questão de engenharia.
........Pois continua, como uma ponte, entalado
........entre a Espanha e o Oceano Americano)
eu vos exorcizo da vida, contentes gozadores de fim-de-semana,
tristes turistas de chinelos em excursões, jovens empresários e
obedientes operários da era moderna, escravos de um servicinho,
criadas de servir do nosso tempo,
sempre gratos aos patrões pelo salário de trampa que usam para
as festarolas de sábado à noite.
Também a vós, patrões que são patrões e nem conhecem os vossos
patrões e é só por isso que julgam que são patrões, eu vos exorcizo, e a vós jovens progressistas e a vós jovens conservadores, vós todos que não sabem ser amados porque julgam que amar é andar de gatas.

Quando aqui estiverem,
submersos em mim, Lodo – finalmente,
com as cabecinhas de fora,
então quero ver-vos a engatarem-se nas feiras populares das vossas noites.
Aqui dentro, quero ouvir as vossas vozinhas a dizer os «amo-tes» das bebedeiras com ou sem álcool, deslumbrados pela cópula dos vossos cérebros
com a vossa imbecilidade.
Aqui,
no Lodo,
Engatem-se, vá, façam lá os vossos joguinhos de piscar d’olhos
e apalpões de dança, enquanto toda a merda que fumam e engolem
vos deixa ainda mais brutos,
e nem era preciso porque já são brutos que chegue – Aqui
é que vos quero ver a snifar traços contínuos de auto-estrada e
a fumar erva de urtiga – Aqui
vos quero ver a vomitar a cerveja que não mijaram
ao mesmo tempo que dizem «querida» com os beiços colados
às bocas que vos calham.

Quando aqui estiverem,
com as cabecinhas de fora,
então, quero ver-vos, gente cheia de achar coisas, paquidermes
que nem um só dia se sentaram a respirar só para reparar nisso. E Aqui
que quero ver as vossas boquinhas a mexer em oração a ver se atingem
a iluminação à pressa – é Aqui que quero ver-vos, especialmente a vocês,
sacerdotes de todas as religiões, vocês que para além das farpelas que vestem não são nada, não mudam nada, nem sabem o que são
porque justamente pensam que são as farpelas que vestem.
Aqui se atasquem, unidos, espiritualistas de todo o mundo!

Eu sou Lodo, sim!
E rio-me.
De vos ver a lavar os dentes que é a única coisa
que fazem com competência, burgueses de boca aberta à espera de mais
como os animais no jardim zoológico.
Eis o que são, dentes brancos e sovacos desodorizados.
Até a pele se vos foi no banhinho diário.

Rio-me de tudo o que vocês são
porque já chorei tudo o que tinha para chorar
e fiquem sabendo
que foram as MINHAS lágrimas
que embeberam o estrume com que deus me fez
e dessa amalgama floriu o Lodo que vos engolirá.

Quando aqui estiverem
com as cabecinhas de fora
ó actores, façam lá os vossos teatrinhos,
actores e ex-encenadores que agora são directores artísticos
e conceptualizadores de «engenhos performativos». Pois
venham, venham aqui ter, peões de brega, moscas dos holofotes.

Aqui,
com as cabecinhas de fora,
há-de arrastar-se um país de poetas.
Aqui,
Hão-de arrastar-se os romancistas que continuam a julgar que têm histórias
para contar quando todas as histórias do mundo já foram contadas mas ninguém, nem um cavalo, as viveu.

Quando chegar o dia de todas as bestas,
de todos os países,
com pORTUGAL à frente,
este Lodo mover-se-á para vos engolir,
e com excepção das vossas cabeças que hão-de boiar
pela eternidade numa outra galáxia,
então baterão no fundo deste Lodo,
a água tornar-se-á límpida e salgada e
todos os risos e todas as lágrimas se salvarão.

Livres de vós,
o Lodo – finalmente,
entrará no luminoso vazio.

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quarta-feira, novembro 08, 2006

raiz pé de diabo 

Prólogo

a tília olha-me como um gato
um raio
um último beijo branco despedaçando
nuvens sobre a terra – asas

sobre ti sobrepus as minhas asas e tive medo
nuvens brancas das chuvas
baptismais com que ainda te abraço

a tília
mergulha
num pélago de inumeráveis pálpebras
e o amor é cada vez mais forte
..........indelével
peixes e homens cansados procuram salvar-me
a tília
na sua quietude verde tenta lançar-me os braços
digo a mim próprio que amor não morre
..........e sei que não morre
sinto-o no mais fundo amplexo de ar que
..........os pulmões oferecem à vida
mas eu sim – e renascerei
renascerei nesta mesma cadeira
olhando esta-outra tília
virei à superfície como uma caravela muito antiga
e terei asas de ouro – esse é o meu voto

renascerei
sim
mas com asas de ouro
estas brancas com que te cobri
ficarão suspensas no éter para te aquecer
mesmo que pareçam chuva
mesmo que não as reconheças como asas
mesmo que chova a água pura deste inverno onde tudo é lonjura
..........lágrima e alegria
e uma felicidade plena e oculta

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

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raiz pé de diabo 

# 25
sanctus et benedictus qui venit
para ardavan kamar – sacret persian music over the wind

este é o meu último poema
aqui invoco a beleza última e íntima
dos pássaros chineses
o olor a sândalo
..........sagrado e triste
a vibração divina de um santur
..........som de um antiquíssimo iraque
a pele do amor
o toque na pele do amor
tudo o que se perdeu
aqui invoco a beleza derradeira dos navios
...........dos marinheiros
....................das amarras
aqui me despeço do tejo e da esmeralda partida de dom sebastião
e tomo refúgio nas lágrimas de inês

este é o meu último poema
frente a um altar de pedra direi em voz baixa:
santur
santur
santur

senhor deus dos anjos
cheios estão os céus e a terra da tua glória


glória a ti no altíssimo

bendito seja aquele que vem em nome de… … …

+ hosana nas alturas


aqui
frente a todos vós
..........minhas doces testemunhas
partirei para um outro lugar ocidental
onde o incenso não arda
o pensamento não ascenda
os sentidos se extingam
as mãos se recolham
o corpo se liquidifique

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

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raiz pé de diabo 

# 24

esta rua
tão agitada durante o dia
à noite
torna-se leve e sombria
e as árvores são uma espécie de morcegos angélicos
visitando o claustro
se alguém soubesse espreitar para dentro de mim
saberia como é de noite que as borboletas
enchem o meu pensamento
..........a crisálida se rompe
..........e todo o peso se aligeira deixando-me voar
hoje
monge desta estrada a que chamo convento
........convento dentro de mim
........sem abade
........sem mestre
........sem beijo
a rua transforma-me
e faz-me melhor do que sou (por breves horas)

hoje
monge
nesta rua entre as rosas e a cruz
lembro-me de ti e sei-te tão distante
do amor como eu das estrelas

a meio da noite
na camarata
em sonhos rangem as fechaduras

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

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raiz pé de diabo 

# 23


chuva,,,
como se todos os anjos da terra
nos quisessem abençoar com
a prata de um fino embate
..........cabelos de prata-sensivelmente-ouro
nas nossas mãos entrelaçadas

terça-feira, 24 de outubro de 2006

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raiz pé de diabo 

# 22 – intervalo

eu não sou a dor
..........¡a dor não existe!
eu não sou o sofrimento
..........¡não há sofrimento!

sou deus
..........quem o declara

mas a dor faz-me sofrer
e essa dor que me faz sofrer
é aquilo que constrói todos os versos
..........de todos os poemas
deste e de todos os mundos onde crescem poemas
mas a dor e o sofrimento
..........já o declarei
não existem
¿como posso provar-lo?
pois.....,procurem em mim,
não encontrarão nada
¡nada!
,nem com raios-x..........,ressonâncias magnéticas,
podem até esventrar-me e não encontrarão no meu
corpo
uma treva que seja

mas a dor faz-me sofrer
porque me submeto iludido à dor e ao sofrimento
e submeto-me (iludido) à dor e ao sofrimento como
qualquer um se pode submeter a uma qualquer ideia
há em nós um inquisidor severo da mortífera
..........velha
..............e negra cúria

por isso escrevo
é por isso que há nos mundos
poemas
e versos
e cantos e
no entanto
,cada poema é o verso de uma longa oração
que nos irá levando
subtil e elevadamente
ao fim de todas ideias e de todas as feridas

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

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terça-feira, novembro 07, 2006

Jacques Brel 



La mort

Paroles et Musique: Jacques Brel-1959

La mort m'attend comme une vieille fille
Au rendez-vous de la faucille
Pour mieux cueillir le temps qui passe
La mort m'attend comme une princesse
A l'enterrement de ma jeunesse
Pour mieux pleurer le temps qui passe
La mort m'attend comme Carabosse
A l'incendie de nos noces
Pour mieux rire du temps qui passe

Mais qu'y a-t-il derrière la porte
Et qui m'attend déjà
Ange ou démon qu'importe
Au devant de la porte il y a toi

La mort attend sous l'oreiller
Que j'oublie de me réveiller
Pour mieux glacer le temps qui passe
La mort attend que mes amis
Me viennent voir en pleine nuit
Pour mieux se dire que le temps passe
La mort m'attend dans tes mains claires
Qui devront fermer mes paupières
Pour mieux quitter le temps qui passe

Mais qu'y a-t-il derrière la porte
Et qui m'attend déjà
Ange ou démon qu'importe
Au devant de la porte il y a toi

La mort m'attend aux dernières feuilles
De l'arbre qui fera mon cercueil
Pour mieux clouer le temps qui passe
La mort m'attend dans les lilas
Qu'un fossoyeur lancera sur moi
Pour mieux fleurir le temps qui passe
La mort m'attend dans un grand lit
Tendu aux toiles de l'oubli
Pour mieux fermer le temps qui passe

Mais qu'y a-t-il derrière la porte
Et qui m'attend déjà
Ange ou démon qu'importe
Au devant de la porte il y a toi

quarta-feira, novembro 01, 2006

... et toi? 







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