<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, setembro 30, 2003

AMALGAMA/ESPAÇO ARCANA/CONVENTO DE S.PAULO

A primeira vez que assisti a um espectáculo da Amalgama - Companhia de Dança de Mafra, foi no Convento de S. Paulo, no Alentejo, em plena serra. Foi um baque. A intensidade do espectáculo era deslumbrante. Talvez a profusão de elementos causasse alguma dispersão, talvez, mas o essêncial não se perdeu. Era um espectáculo no limite, desenhado no risco, na coragem de arriscar sabendo que uma falha deitaria tudo a perder. Essa coragem de dar a vida, a generosidade de não ter reservas na criação artística, é rara actualmente. Se fosse só por isso já valeria a pena.

O rigor performativo da companhia, em todas as áreas em que ela se trabalha - música, dança, teatro, ártes plásticas, video - é tão sólido que não é possível, perante um projecto assim, ficarmos adormecidos. A AMALGAMA têm a capacidade de nos envolver, de nos desafiar, de nos pôr à prova. Milagrosamente, ainda se faz arte em portugal, e é extraordinário como é precisamente fora dos centros, das campanhas de exibição social, do marketing, fora das grandes cidades, que essa vitalidade se cumpre.

Este espaço ARCANA, está prestes a estrear uma produção nova. Dela ainda só conheço a música original que a companhia concebeu para o espectáculo. Se "MUTAÇÕES", tiver a beleza da sonoridade que soube encontar, será um espectáculo muito belo. Espero de que tenham sido limados os excessos da produção anterior através de uma melhor racionalização de recursos - tenho a certeza que sim.


TEMPLO ROMANO

Denúncias feitas pelo presidente do Grupo Pró-Évora sobre os atentados à estabilidade do Templo Romano em Évora e ao espólio do Museu de Évora, provocados pela realização de espectáculos de grande amplificação sonora junto ao Templo.

veja aqui

segunda-feira, setembro 29, 2003

"Através das folhas,
no jardim de um velho templo,
a luz do sol encontra o seu caminho.
Meio dia.

Na pedra, uma ondulação de luz;
um antigo rosto de céu sorri
e, do abismo do ser
jorra a luz de lágrimas - serena.

Agora sou um ser sensível...?"

Hogên Yamahata
in «Folhas caem, um novo rebento»
Trad. Manuel Zimbro
Ed. Assírio & Alvim



SOBRE A CULTURA EM ÉVORA

No plano cultural, agora que parecem ter ficado para trás as aberrações da gestão PC da Câmara de Évora, como o "Viva a Rua" ou aquela espécie de clube privado pago pelos contribuintes que foi a "Fábrica da Musica", é precisa uma coragem redobrada para repor integralmente a dignidade da autarquia neste campo. É precisa uma redobrada coragem politica porque o enfrentamento é sempre doloroso e os obstáculos gigantescos. Mas não há alternativa. É imprescindí­vel que se reforme com urgência o tecido cultural do concelho, começando por definir, pela primeira vez, um projecto politico nesta área, sensí­vel e arrojado. Para isso é urgente a criação de uma comissão de cultura, capaz de desenhar uma estratégia clara de intervenção. Nesta comissão têm de estar presentes de forma plural, os agentes culturais, autarcas e empresários. A comissão pode e deve ser um parceiro permanente da autarquia, não como um mero orgão consultivo (o que já não era pouco), mas como uma verdadeira assembleia de debate, democrática e representativa.

Algumas medidas tem que ser tomadas de uma vez por todas.

1- A nomeação de uma Direcção Artística, independente, para o Teatro Municipal Garcia de Resende. Se uma Câmara não tem competências especificas na área das artes do espectáculo, e a CME não tem, é preciso saber delegar em quem as tenha. Um equipamento com a importância do TMGR, (o mais importante equipamento cultural da cidade) não pode continuar abandonado à  falta de projecto, ao desperdício. É preciso restituir-lhe vida, abrir as portas daquele teatro, potenciar as suas qualidades e saber criar novas valências.

2- O mesmo se aplica ás Artes Plásticas. A confrangedora falta de ideias neste sector é inadmissível. A soma de eventos desgarrados, utilizando espaços sem planeamento, sem sequenciação, sem previsão de datas, sem critérios de escolha ou a "compra" de exposições - principalmente na área da fotografia - em detrimento de um investimento projectado, capaz de criar estruturas de continuidade, tem que parar.

&

3- E o Cinema!!!!!...................
4- E uma biblioteca!!!!............


Infelizmente são muitos os exemplos. Continuamos a colher os frutos podres das duas duas décadas de gestão CDU.

A questão é simples, apesar de complexa: ou o Senhor Presidente da CME, assume essa responsabilidade de construção, com a vontade que lhe é carterística, e aí estaremos a semear a nossa identidade cultural. Com sabedoria, com força e com beleza. Ou não, e então, naquilo que se refere à cultura, o seu mandato terá ficado muito longe do possível.

Começaram os dias de Outono. Évora ganha uma tristeza, uma respiração de dor. Há dias tão sombrios que as casas deixam de ser casas, o céu deixa de ser céu. Não há cor. Toda a beleza do mundo se concentra neste lugar.

...num poema do António Cândido Franco:

"Penso neste outro eu.
Nesse que houve no menino que fui.
No passado
Assim já vi.
O presente nunca é só presente.

Há sempre um ontem a decorrer no hoje.
Por isso
Antes de nascer eu nasci
E ouvi antes de ouvir.

Mas ouvi e vi
Para compreender como o silêncio antigo
a escuridão primeira
o vazio sem nada
e o medo amargo
são fatais.

No tempo da minha infância
a escuridão era mesmo escuridão
o silêncio era mesmo silêncio
e o vazio, vazio.
Nada mais.

O outro que lá houve
só esteve para ver como eu fui só menino.

Ontem foi
Como se tivesse sido só ontem.
E isso foi assim
Embora esse ontem
Só hoje esteja a acontecer

Esta quase chuva aquece o ar e a transpiracãoo torna-se lenta e torturante. Ao contrário do suor de verão: um cheiro perfumado a juventude, a transpiração de Outono é surda, fria. Um banho de morte junto ao corpo.

É nesta altura do ano que o fumo de um cigarro, ou o odor do tabaco de cachimbo em combustão, assumem o papel da salvação das horas. Cria-se uma possibilidade de turbulência nas nossas vidas.

A turbulência, o factor da imprevisibilidade matemática, a inesperada salvação de um percurso caminhado na solidão.

O fumo quando sai da ponta de um cigarro sobe recto e vertical. Monótono. Cinzento. Até que por qualquer motivo, que nem a matemática sabe numerar, ele se dispersa e agita e ganha azul para o seu reflexo.

Se soubéssemos criar turbulência na nossa recta-verticalidade-cinzenta, talvez os dias do início de Outono escapassem á sua implacável beleza mas ganhassem a bondade dos dias tranquilos.

A primeira iniciativa "Saudades de Antero" foram os Cadernos de Fotografia. O primeiro "Caderno", editado já em 2003, com o financiamento da Câmara Municipal de Évora, com o titulo "NÃO HÁ MORTE NEM PRINCÍPIO", mostrava fotografias de Frederico Mira George, com base na leitura do livro homónimo de Mário Dionísio. Está neste momento no prelo o segundo número, "A CASA DE A.". Trata-se de uma série de fotografias realizadas na casa-atelier do Pintor António Charrua e da sua mulher Maria Alcina Charrua. Um ano depois da morte de Maria ALcina Charrua, esta edição é-lhe dedicada.
Os Cadernos de Fotografia, podem ser solicitados pelos interessados por email para este blog - saudades_antero@hotmail.com - ou entrando em contacto com a divisão de cultura e desporto da Câmara Municipal de Évora - 266 777 100.

Este é o primeiro dia do resto da vida deste Blog. Saudades de Antero dá-lhe as boas vindas e espera que volte sempre!

This page is powered by Blogger. Isn't yours?