quarta-feira, dezembro 27, 2006
caligrafia inexplicável
#23
eram dois anéis à espera do fim,
na ponta de um pincel.
e o pincel durava, durava, durava.
desenhava, desenhava.
desenhava.
e os anéis à espera do fim. imobilizados.
quarta-feira, 27 de dezembro de 2006
eram dois anéis à espera do fim,
na ponta de um pincel.
e o pincel durava, durava, durava.
desenhava, desenhava.
desenhava.
e os anéis à espera do fim. imobilizados.
quarta-feira, 27 de dezembro de 2006
caligrafia inexplicável
# 22
oh! uma osga sentimental. sei.
imaginava. que existiam osgas
sentimentais.
nas paredes. da capela.
mas não esperava.
vê-la. assim. a ela.
terça-feira, 26 de dezembro de 2006
oh! uma osga sentimental. sei.
imaginava. que existiam osgas
sentimentais.
nas paredes. da capela.
mas não esperava.
vê-la. assim. a ela.
terça-feira, 26 de dezembro de 2006
caligrafia inexplicável
# 21
um disco lunar… outra lua.
um olhar deitado.
um segundo.
e. outro.
segundo.
um ligeiro toque.
de piano com luzes de diamante.
sob o livro, a ara, o cálice e a espada.
sem medo o claustro.
e no jardim, amor e água no rasgar de rosas.
domingo, 24 de dezembro de 2006
um disco lunar… outra lua.
um olhar deitado.
um segundo.
e. outro.
segundo.
um ligeiro toque.
de piano com luzes de diamante.
sob o livro, a ara, o cálice e a espada.
sem medo o claustro.
e no jardim, amor e água no rasgar de rosas.
domingo, 24 de dezembro de 2006
sábado, dezembro 23, 2006
caligrafia inexplicável
# 20
vem deusa. hoje é a véspera do canto,
do credo, dos demónios
e da guerra dos anjos, das fadas, dos
santos.
benditos.
e sagrados.
espíritos da natureza. vem
deusa. amanhã serás rainha do mundo.
sexta-feira, 22 de dezembro de 2006
sábado, dezembro 16, 2006
caligrafia inexplicável
# 18
éramos três.
ponteiros.
num relógio só.
três para um. luta desigual.
marcávamos as horas, claro.
marcávamos o tempo e o que restava dele.
éramos três.
ponteiros.
num relógio só. um dia percebemos.
estávamos presos por um arame a um maquinismo.
que deixou de funcionar.
um.
dia.
percebemos.
nada pode acontecer antes do momento em que acontece.
sábado, 16 de dezembro de 2006
éramos três.
ponteiros.
num relógio só.
três para um. luta desigual.
marcávamos as horas, claro.
marcávamos o tempo e o que restava dele.
éramos três.
ponteiros.
num relógio só. um dia percebemos.
estávamos presos por um arame a um maquinismo.
que deixou de funcionar.
um.
dia.
percebemos.
nada pode acontecer antes do momento em que acontece.
sábado, 16 de dezembro de 2006
caligrafia inexplicável
# 17
assim que possa levanto-me.
não deve ser assim tão difícil.
creio.
assim que possa levanto-me e esbracejo.
tal e qual um caranguejo. olho
para o espelho e estou imóvel.
só olhos mexem. assustados. sós. sentados.
assim que possa levanto-me e sorrio. ao espelho.
sexta-feira, 15 de dezembro de 2006
assim que possa levanto-me.
não deve ser assim tão difícil.
creio.
assim que possa levanto-me e esbracejo.
tal e qual um caranguejo. olho
para o espelho e estou imóvel.
só olhos mexem. assustados. sós. sentados.
assim que possa levanto-me e sorrio. ao espelho.
sexta-feira, 15 de dezembro de 2006
quinta-feira, dezembro 14, 2006
caligrafia inexplicável
# 16
tenho a boca tão seca.
pensou.
será de não falar.
pensou.
pensou.
pensou.
pensou.
tenho a boca tão seca.
será de pensar.
pensou.
quinta-feira, 14 de dezembro de 2006
tenho a boca tão seca.
pensou.
será de não falar.
pensou.
pensou.
pensou.
pensou.
tenho a boca tão seca.
será de pensar.
pensou.
quinta-feira, 14 de dezembro de 2006
quarta-feira, dezembro 13, 2006
caligrafia inexplicável
# 15
ser um seixo. um seixo que.
transporta.
em si todos os mares,
todos os milénios, o toque de todos os seres.
um seixo.
que.
contempla.
sem desejar nada, sem movimento.
sem naufrágio, sem ilusão. sem agora.
quarta-feira, 13 de dezembro de 2006
ser um seixo. um seixo que.
transporta.
em si todos os mares,
todos os milénios, o toque de todos os seres.
um seixo.
que.
contempla.
sem desejar nada, sem movimento.
sem naufrágio, sem ilusão. sem agora.
quarta-feira, 13 de dezembro de 2006
terça-feira, dezembro 12, 2006
caligrafia inexplicável
# 14
certo.
o pássaro-palhaço sentou-se. fez bem. como uma
lápide suspirou e cavou, cavou, cavou, cavou.
rugiu, lá nas entranhas da terra, adormeceu. afinal
não tinha sido difícil. certo. já se podia considerar
uma toupeira. uma feliz toupeira.
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
certo.
o pássaro-palhaço sentou-se. fez bem. como uma
lápide suspirou e cavou, cavou, cavou, cavou.
rugiu, lá nas entranhas da terra, adormeceu. afinal
não tinha sido difícil. certo. já se podia considerar
uma toupeira. uma feliz toupeira.
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
caligrafia inexplicável
# 13
o carrossel dos cavalos vermelhos
parou de girar. súbita paragem
num tempo de madeira e ferro,
crianças e pouca melodia. mesmo assim,
perplexo e irritado, montei o pau do corcel
e forcei o mecanismo com os pés cravados
nos estribos… nada… nem um espasmo.
fujo.
já longe viro-me e olho os animais no círculo.
nem um se mexia.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
o carrossel dos cavalos vermelhos
parou de girar. súbita paragem
num tempo de madeira e ferro,
crianças e pouca melodia. mesmo assim,
perplexo e irritado, montei o pau do corcel
e forcei o mecanismo com os pés cravados
nos estribos… nada… nem um espasmo.
fujo.
já longe viro-me e olho os animais no círculo.
nem um se mexia.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
quarta-feira, dezembro 06, 2006
caligrafia inexplicável
# 12
bastou ver a pedra para saber que era um ovo.
o «seu» ovo, e pegou-lhe com cuidado –
quantos anos teria ¿
¿ milhões, milhares… – amortalhou-a
num lenço azul de linho e agora dorme com
ele-ela dando-lhe um materno calor:
daquela pedra-ovo há-de nascer um rei¡
quarta-feira, 6 de dezembro de 2006
bastou ver a pedra para saber que era um ovo.
o «seu» ovo, e pegou-lhe com cuidado –
quantos anos teria ¿
¿ milhões, milhares… – amortalhou-a
num lenço azul de linho e agora dorme com
ele-ela dando-lhe um materno calor:
daquela pedra-ovo há-de nascer um rei¡
quarta-feira, 6 de dezembro de 2006
terça-feira, dezembro 05, 2006
caligrafia inexplicável
# 11
falta enviar uma carta. uma árvore escrita
que ponha um final concreto a esta chuva de
relâmpagos. e a carta será escrita,
a árvore derrubada, o coração liberto.
terça-feira, 5 de dezembro de 2006
falta enviar uma carta. uma árvore escrita
que ponha um final concreto a esta chuva de
relâmpagos. e a carta será escrita,
a árvore derrubada, o coração liberto.
terça-feira, 5 de dezembro de 2006
segunda-feira, dezembro 04, 2006
caligrafia inexplicável
# 10
fecha os teus olhos querida.
deixa que o anjo mais leve te abrace,
nos seus braços revela a deus o teu verdadeiro rosto.
cavalga no dorso desse unicórnio celeste
e ri quando o vento te atirar gotas de mar
ao corpo. fecha agora os olhos querida.
junta em cruz as mãos no coração e flutua.
à tua frente brilha toda a liberdade dos astros.
segunda-feira, 4 de dezembro de 2006
em memória de beatriz
fecha os teus olhos querida.
deixa que o anjo mais leve te abrace,
nos seus braços revela a deus o teu verdadeiro rosto.
cavalga no dorso desse unicórnio celeste
e ri quando o vento te atirar gotas de mar
ao corpo. fecha agora os olhos querida.
junta em cruz as mãos no coração e flutua.
à tua frente brilha toda a liberdade dos astros.
segunda-feira, 4 de dezembro de 2006
em memória de beatriz
domingo, dezembro 03, 2006
caligrafia inexplicável
# 9
ao princípio da noite, oiço narrado,
como num teatro radiofónico,
o conto da serpente verde de goethe.
e os meus ouvidos estão calmos,
as mãos emparedadas. os sons da rádio
vão-se tornando em imagens e a serpente
enrola-se em mim. vai-se todo o ruído,
toda a ternura, a doçura. ao princípio da noite,
desta noite, começa a desenhar-se nos meus ossos
a dureza de olhar que devo ao mundo.
domingo, 3 de dezembro de 2006
ao princípio da noite, oiço narrado,
como num teatro radiofónico,
o conto da serpente verde de goethe.
e os meus ouvidos estão calmos,
as mãos emparedadas. os sons da rádio
vão-se tornando em imagens e a serpente
enrola-se em mim. vai-se todo o ruído,
toda a ternura, a doçura. ao princípio da noite,
desta noite, começa a desenhar-se nos meus ossos
a dureza de olhar que devo ao mundo.
domingo, 3 de dezembro de 2006
sexta-feira, dezembro 01, 2006
caligrafia inexplicável
# 8
frio.
as tílias deixam cair as folhas sem medo.
sol.
é quase dezembro. o terrível dezembro.
sento-me frente a uma estátua de buda
e ouço-o murmurar sedas em cascata.
quarta-feira, 29 de novembro de 2006
frio.
as tílias deixam cair as folhas sem medo.
sol.
é quase dezembro. o terrível dezembro.
sento-me frente a uma estátua de buda
e ouço-o murmurar sedas em cascata.
quarta-feira, 29 de novembro de 2006