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sexta-feira, junho 02, 2006

II - novos evangelhos - cartas de amor # 6 

# 6 – 1 de junho de 6006 – tchernobyl

conheci uma intimidade
que me fez não acreditar em deus
que nunca ouvi
mas viver um deus que está em todos
os lugares da minha intimidade

estou agora deitada com os pés cruzados
a olhar o tecto..........,mas não penso nisso
,sinto a tua presença santa
como se uma andorinha descesse
sobre mim como um falcão
certeiro a um rato e imagino que me levas
em silêncio ou em ruído

sei –
a verdade não está na cruz que guardo
nem no cálice que conduzes
sei –
estou deitada e oiço um comboio
e olho o tecto..........,mas não penso nisso
sei –
a exactidão está na intimidade
que me ensinaste e não há mistério em nada

há simplesmente coisas com existência
e é-me indiferente a continuidade da humanidade

tristes almas humanas e animais
que precisam de pernas para andar
quando na realidade todos desejam asas
sabendo que jamais terão asas
e por isso invejam os anjos – que invejam
os homens e os animais porque os homens e
os animais têm pernas para andar – pobres anjos
que invejam as caminhadas primaveris dos burros
e dos cavalos
e o cacarejo das galinhas num dia de sol –
pobres todos os que pensam num depois
de amanhã pressupondo sempre que haverá
amanhã e que esse amanhã poderá ser
conquistado e ultrapassado –
pobres os que pensam na passagem dos dias

estou deitada a olhar o tecto..........,mas não penso nisso

tenho os pés cruzados
e toda a minha intimidade se perderá ainda esta noite
porque a minha intimidade é tua
e tu não descerás sobre mim como uma andorinha-falcão
para me levar no silêncio ou no ruído

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