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domingo, junho 18, 2006

II - novos evangelhos - cartas de amor # 15 

# 15 – 16 de junho de 6006 – tchernobyl

? quem crê que os anjos se ajoelham
aos pés de deus ao sabor da inconsciente invocação
sacerdotal de alguém de cabelos longos
e quase brancos como os meus

os anjos não sabem o que fazem
nem sabem para o que nascem
os anjos são anjos ,se viessem a todo o instante
ajoelhar-se aos pés de deus
de cada vez que na missa uma mulher inválida
de tantas incapacidades os invoca
não seriam anjos...............,seriam
animais obedientes a cumprir ordens estúpidas
de gente enlouquecida pela falta de amor

quando hoje voltei ao teatro e de cálice
erguido à altura dos olhos
invoquei raphael para que me ajudasse
a salvar as almas dos penitentes
senti-me tão profundamente eu
tão profundamente
ridícula de tanto eu
senti-me a própria impotência do espírito santo
a impedir o contacto dos homens
com cristo – mesmo assim raphael veio
com um sorriso límpido e irónico
pronto para consagrar pelas minhas mãos
a hóstia que tenho no cérebro
e que hei-de pôr na língua desta gente católica
sem reino nem crença

hoje vi raphael humano a velar por mim
a obedecer como um animal ao meu chamado
ajoelhando-se aos pés de deus
e ainda assim sorrindo e perdoando-me

não...............,os anjos não são anjos
nem deuses nem poetas nem artistas
nem seres nem animais obedientes
apesar de fazerem de deuses e de poetas e de artistas
apesar de se deformarem até que os seus rostos
se afocinhem em bestiais criações de bosh

os anjos são exactamente aquilo que os filósofos dizem deles
os anjos são sensações tal como os filósofos as descrevem
os anjos são o riso de um cão quando o seu dono chega de uma longa ausência
os anjos são um ar que passa pelas paredes betonadas dos edifícios imitando o vento
os anjos são um piano com asas nos pedais e sinos nos martelos

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