quarta-feira, junho 14, 2006
II - novos evangelhos - cartas de amor # 13
# 13 – 14 de junho de 6006 – tchernobyl
quero que saibas que estou a chegar ao fim das letras
quero que saibas que
todas as orações deixaram de colher flores
e que tudo no meu corpo está perto de parar no silêncio
crucificado de uma azinheira junto à estrada
mas ainda te escreverei – amor
depois voltarei ao cuidado que devo ao santo lenho
à atenção presbiteriana aos fiéis
aos cânticos finais
..........decorados
..........repetidos
..........feridos
ainda te escreverei – arimateia
quero que saibas que os relâmpagos
que esta noite caíram sobre tchernobyl
me despertaram uma consciência lúcida
tão lúcida como a lucidez de uma túlipa que se levanta num
campo de rosas e se sabe cisne entre todas as rosas-pato
depois da ultima epístola não
ouvirás uma linha mais por mim caligrafada
esta trovoada que hoje me despertou
trouxe-me a doença terminal do corpo
e a iluminação total e irreversível do espírito
isto se é que há corpo
isto se é que há espírito
isto
se há doenças terminais
isto
se há
realmente
trovoadas como a trovoada desta noite
escrevo-te estas palavras – arimateia
e da janela vejo a multidão a empurrar-se em passos
quadrados encostados a um meio-dia
que nunca se tornará meia-noite
escrevo-te porque escrevendo-te me minto
com toda a verdade com que em verdade te amo
quero que saibas que estou a chegar ao fim das letras
quero que saibas que
todas as orações deixaram de colher flores
e que tudo no meu corpo está perto de parar no silêncio
crucificado de uma azinheira junto à estrada
mas ainda te escreverei – amor
depois voltarei ao cuidado que devo ao santo lenho
à atenção presbiteriana aos fiéis
aos cânticos finais
..........decorados
..........repetidos
..........feridos
ainda te escreverei – arimateia
quero que saibas que os relâmpagos
que esta noite caíram sobre tchernobyl
me despertaram uma consciência lúcida
tão lúcida como a lucidez de uma túlipa que se levanta num
campo de rosas e se sabe cisne entre todas as rosas-pato
depois da ultima epístola não
ouvirás uma linha mais por mim caligrafada
esta trovoada que hoje me despertou
trouxe-me a doença terminal do corpo
e a iluminação total e irreversível do espírito
isto se é que há corpo
isto se é que há espírito
isto
se há doenças terminais
isto
se há
realmente
trovoadas como a trovoada desta noite
escrevo-te estas palavras – arimateia
e da janela vejo a multidão a empurrar-se em passos
quadrados encostados a um meio-dia
que nunca se tornará meia-noite
escrevo-te porque escrevendo-te me minto
com toda a verdade com que em verdade te amo