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terça-feira, junho 13, 2006

II - novos evangelhos - cartas de amor # 12 

# 12 – 13 de junho de 6006 – tchernobyl

os dias não começam
os dias morrem logo de manhã
os dias morrem como um abraço morre depois de morrer o abraço
os dias morrem como morre um beijo depois de morrer o beijo
os dias não têm glória porque não há glória na terra
os dias são demasiado humanos para respirar
os dias não podem ser cantados porque ninguém os ouviu
os dias são um jogo de poetas a interrogarem-se
os dias são um jorro de palavras não proscritas
os dias são aquilo que podia ter sido se tivesse sido
os dias são como uma carta escrita que não chega
os dias são uma carta escrita cheia de amor a um amor que a não quer receber
os dias são um menino jesus morto num presépio
os dias são todas as coisas que nunca foram

penso nisto e não fico menos feliz

são coisas que sei
só coisas que sei
simples coisas que sei e de as saber tanto sei que as sei
não é a ausência da aurora que me arrebata a felicidade
não é a impossibilidade do içar do astro que me adoece
o que me conduz à febre
,à condição irreversível de criatura
,é saber-te perdido no ouro escuro do luar
julgando que nada mais existe no céu a contemplar-te
que os solares raios de deus e a
ilusão de que os deuses te saúdam

amo-te
como nenhuma pomba celeste seria capaz de te amar
e poderia até voar até aos teus lábios
se tivesses lábios – amo-te sabendo
que de tanto guardares o sangue do cálice
com o sangue das tuas veias
perdeste a memória das naves que te levaram
a vida e a força e beleza – amo-te ainda mais por isso

amo-te porque sei que não sabes amar-me

penso nisto e não fico menos feliz

afinal os dias não começam
os dias morrem logo de manhã
e é bela a noite que fica

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