quarta-feira, março 08, 2006
tratado secreto do teatro # 28
# 28 – cena vigésima oitava
a – ele esteve aqui?
b – quem?
a – aliás, «eles» estiveram aqui, diz-me a verdade, estiveram não estiveram?
b – minha querida, só cá estive eu. aqui, ao teu lado. e «eles» quem são «eles», há mais alguma «presença» para além do teu «coisa-violeta»? nem ouve uma linha de luz laranja.
a – já te falei dele. do mar. esteve aqui. eu sinto-o dentro de mim.
b – o diabo?
a – estiveram eu sei.
b – só as minhas mãos passearam o teu corpo.
a – entraste em mim enquanto dormia?
b – sim.
a – porco!
b – entrei em ti pelos poros, pela pele, pela respiração.
a – porco, eu sinto que entraste em mim.
b – não dessa maneira. não eu.
a – então foi «ele».
b – mas «ele» quem, já não te entendo. o diabo? o cavaleiro? a fada? quem?
a – o diabo, sim, gostas tanto de ouvir essa palavra, pois ouve DI-A-BO!
b – querida, não dormiste mais de quinze minutos. eu estive sempre acordado. aqui ao teu lado, e a única coisa que fiz foi acariciar-te o corpo. olhar para ti. ouvir-te a respirar. sonhaste outra vez com a cena da praia?
a – acabou. não confio numa palavra tua. tu disseste-me que não confiavas em mim. estamos na mesma situação. não penses que me inibes de continuar…
b – …eu quero continuar.
a – ora ainda bem. vai buscar a espada. o cálice será segurado por mim. executaremos o corte gutural, verteremos a oferenda no cálice, quando as nossas gargantas estiverem abertas, também o limo que nos agarra ao fundo do fundo será cortado. o que escorrer para o cálice será a nossa oferenda ao mundo que fica. quem o beber também se salvará. acabou a espera. é a hora. assim como eu o farei, faz cumpre tu o teu trabalho.
b – assim seja.
a – pega na espada de fogo.
b – aqui está.
a – vou buscar o cálice… vê como brilha, como espera pelo que de nós chorará.
b – sentemo-nos no chão. frente a frente. tu serás a primeira, depois eu.
a – aqui estamos. ainda bem que sinto o corpo assim penetrado e a pele invisivelmente marcada. tenhas sido tu ou não. perdi a segurança, a confiança, mas esta dor fina que sinto por dentro é a força que precisava para este momento.
b – diz as palavras, faz a invocação. já não estamos no mundo profano, deixámos tudo à porta do tempo, ergamos a espada e o cálice em sacrifício.
a – ele esteve aqui?
b – quem?
a – aliás, «eles» estiveram aqui, diz-me a verdade, estiveram não estiveram?
b – minha querida, só cá estive eu. aqui, ao teu lado. e «eles» quem são «eles», há mais alguma «presença» para além do teu «coisa-violeta»? nem ouve uma linha de luz laranja.
a – já te falei dele. do mar. esteve aqui. eu sinto-o dentro de mim.
b – o diabo?
a – estiveram eu sei.
b – só as minhas mãos passearam o teu corpo.
a – entraste em mim enquanto dormia?
b – sim.
a – porco!
b – entrei em ti pelos poros, pela pele, pela respiração.
a – porco, eu sinto que entraste em mim.
b – não dessa maneira. não eu.
a – então foi «ele».
b – mas «ele» quem, já não te entendo. o diabo? o cavaleiro? a fada? quem?
a – o diabo, sim, gostas tanto de ouvir essa palavra, pois ouve DI-A-BO!
b – querida, não dormiste mais de quinze minutos. eu estive sempre acordado. aqui ao teu lado, e a única coisa que fiz foi acariciar-te o corpo. olhar para ti. ouvir-te a respirar. sonhaste outra vez com a cena da praia?
a – acabou. não confio numa palavra tua. tu disseste-me que não confiavas em mim. estamos na mesma situação. não penses que me inibes de continuar…
b – …eu quero continuar.
a – ora ainda bem. vai buscar a espada. o cálice será segurado por mim. executaremos o corte gutural, verteremos a oferenda no cálice, quando as nossas gargantas estiverem abertas, também o limo que nos agarra ao fundo do fundo será cortado. o que escorrer para o cálice será a nossa oferenda ao mundo que fica. quem o beber também se salvará. acabou a espera. é a hora. assim como eu o farei, faz cumpre tu o teu trabalho.
b – assim seja.
a – pega na espada de fogo.
b – aqui está.
a – vou buscar o cálice… vê como brilha, como espera pelo que de nós chorará.
b – sentemo-nos no chão. frente a frente. tu serás a primeira, depois eu.
a – aqui estamos. ainda bem que sinto o corpo assim penetrado e a pele invisivelmente marcada. tenhas sido tu ou não. perdi a segurança, a confiança, mas esta dor fina que sinto por dentro é a força que precisava para este momento.
b – diz as palavras, faz a invocação. já não estamos no mundo profano, deixámos tudo à porta do tempo, ergamos a espada e o cálice em sacrifício.