terça-feira, março 07, 2006
tratado secreto do teatro # 25
# 25 – cena vigésima quinta
b – querida, não tens sangue nenhum. acalma-te.
(a coloca a mão nas pernas e mostra a b a mão vermelha de sangue.)
a – vês?
b – não querida, não vejo nada. estás descontrolada, é só isso. estás cheia de febre. não devias ter contado esta história. perturbou-te demasiado…
a – vê, merda! olha o colchão, passa a mão pelo meu corpo…
(a agarra na mão de b e obriga-o a percorrer-lhe as pernas. o corpo de a vai ficando sujo de vermelho-sangue à medida que a mão de b o percorre.)
b – querida, não tens nada. abraça-me, deixa-me adormecer-te. encosta-te a mim. tens de dormir. tens de te recompor. que estupidez esta história…
a – mas tu não vês mesmo? estás a querer pôr-me ainda mais louca?… não vale a pena… §
§ …estupidez? foste tu que me levaste outra vez para aquela praia, para «ele»…
b – pára. tenta dormir. se queres que diga que vejo o teu sangue eu digo. eu vejo. eu digo e vejo. vejo o que for preciso. vejo-te sangrar, vejo-te a ser possuída pelo diabo. se quiseres agarro-te enquanto o diabo te possui, mas por favor, acalma-te. diz-me o que devo fazer, ajuda-me a ajudar-te, a adormecer-te. pensa que será a última vez que te adormeço como antigamente, abraçada a mim, até as pálpebras te caírem de sono e tranquilidade.
a – negas tudo, principalmente o que vês. negas-me a mim. estás com pena é? pena de mim ou pena da tua incapacidade para ver o que tens em frente? negas tudo, sempre. é repugnante… estou com febre, sim. estou com espasmos que não consigo controlar, sim. e tenho SANGUE a escorrer de dentro de mim, um sangue antigo, putrefacto, TENHO SANGUE A SAIR DE MIM! §
§ eu adormeço, é assim que resolvemos tudo, não é verdade? a culpa é minha. há bocado foi a minha vez. adormeci-te para te trazer de novo aos carris desta tarefa que vamos realizar. agora é a tua vez. é a contracena. sempre a contra-cena. então? põe lá a minha cabeça no teu peito, «como antigamente». faz-me lá as festas. hipnotiza-me. leva-me para o teu limbozinho. apaga-me. amarra-me à tua negação, à tua providencial cegueira… até já está a dar efeito… és poderoso! isso, branqueia tudo o que te rodeia. uma e outra vez.
b – fica em silêncio, aquieta essa luta. não estou a fazer-te nada. só quero que descanses.
a – já estou a descansar… descansadíssima. repara nas minhas pálpebras, hã? a fecharem-se sobre o teu peito. §
§ é melhor silêncio, sim. é insuportável ouvir-te. é insuportável ouvir-me.
(a e b ficam em silêncio durante bastante tempo. a adormece com as festas calmas de b. b deixa cair o corpo de a sobre a cama. com um pedaço de pano e água do garrafão, limpa-lhe o sangue das pernas e das coxas. não fica uma marca daquele vermelho. tapa-a com o xaile. b levanta-se da cama, dirige-se à janela, acende um cigarro. a luz do quarto torna-se laranja. o corpo de b toma uma forte cor violeta.)
b – querida, não tens sangue nenhum. acalma-te.
(a coloca a mão nas pernas e mostra a b a mão vermelha de sangue.)
a – vês?
b – não querida, não vejo nada. estás descontrolada, é só isso. estás cheia de febre. não devias ter contado esta história. perturbou-te demasiado…
a – vê, merda! olha o colchão, passa a mão pelo meu corpo…
(a agarra na mão de b e obriga-o a percorrer-lhe as pernas. o corpo de a vai ficando sujo de vermelho-sangue à medida que a mão de b o percorre.)
b – querida, não tens nada. abraça-me, deixa-me adormecer-te. encosta-te a mim. tens de dormir. tens de te recompor. que estupidez esta história…
a – mas tu não vês mesmo? estás a querer pôr-me ainda mais louca?… não vale a pena… §
§ …estupidez? foste tu que me levaste outra vez para aquela praia, para «ele»…
b – pára. tenta dormir. se queres que diga que vejo o teu sangue eu digo. eu vejo. eu digo e vejo. vejo o que for preciso. vejo-te sangrar, vejo-te a ser possuída pelo diabo. se quiseres agarro-te enquanto o diabo te possui, mas por favor, acalma-te. diz-me o que devo fazer, ajuda-me a ajudar-te, a adormecer-te. pensa que será a última vez que te adormeço como antigamente, abraçada a mim, até as pálpebras te caírem de sono e tranquilidade.
a – negas tudo, principalmente o que vês. negas-me a mim. estás com pena é? pena de mim ou pena da tua incapacidade para ver o que tens em frente? negas tudo, sempre. é repugnante… estou com febre, sim. estou com espasmos que não consigo controlar, sim. e tenho SANGUE a escorrer de dentro de mim, um sangue antigo, putrefacto, TENHO SANGUE A SAIR DE MIM! §
§ eu adormeço, é assim que resolvemos tudo, não é verdade? a culpa é minha. há bocado foi a minha vez. adormeci-te para te trazer de novo aos carris desta tarefa que vamos realizar. agora é a tua vez. é a contracena. sempre a contra-cena. então? põe lá a minha cabeça no teu peito, «como antigamente». faz-me lá as festas. hipnotiza-me. leva-me para o teu limbozinho. apaga-me. amarra-me à tua negação, à tua providencial cegueira… até já está a dar efeito… és poderoso! isso, branqueia tudo o que te rodeia. uma e outra vez.
b – fica em silêncio, aquieta essa luta. não estou a fazer-te nada. só quero que descanses.
a – já estou a descansar… descansadíssima. repara nas minhas pálpebras, hã? a fecharem-se sobre o teu peito. §
§ é melhor silêncio, sim. é insuportável ouvir-te. é insuportável ouvir-me.
(a e b ficam em silêncio durante bastante tempo. a adormece com as festas calmas de b. b deixa cair o corpo de a sobre a cama. com um pedaço de pano e água do garrafão, limpa-lhe o sangue das pernas e das coxas. não fica uma marca daquele vermelho. tapa-a com o xaile. b levanta-se da cama, dirige-se à janela, acende um cigarro. a luz do quarto torna-se laranja. o corpo de b toma uma forte cor violeta.)