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sábado, fevereiro 18, 2006

tratado secreto do teatro # 9 

# 9 – cena nona

a – vês? assim. só ao de leve. vou esticar-te os dedos, posso?... devagar. um a um. queres que os beije para não doer tanto?… estás frio. olha para mim. não tenhas medo querido, deixa-me lavar-te a cara com a boca… eu aqueço-te. deixa-me continuar a lavar-te… não precisas de dizer nada. vou tentar esticar as tuas pernas. se te doer muito, basta que me olhes, ou toques ligeiramente, e eu paro. não está a doer muito pois não? tenta deitar-te… tenho de tirar estes lençóis… espera, não te deixes cair. eu amparo-te.

…vou lá dentro deitar os lençóis fora e já volto para continuar a tratar de ti…

… já aqui estou. posso continuar querido? não penses em nada. acalma agora enquanto a minha boca te lava. ou então pensa na praia, no escorpião, no menino branco… a minha boca não é assim tão repugnante. estás roxo de frio e tensão… é bom lavar-te com a língua. tu nunca sabes mal. nada em ti sabe mal. não importa o que seja. estás mais quente? tens sono? não tenhas medo de te deixar dormir. eu continuarei a lavar-te até que estejas macio e leve de toda esta porcaria. adormece com o teu menino branco. adormece querido. eu faço-te festas no peito e na cara. repara, à frente estás quase limpo. cada bocadinho de ti. deixa-me virar-te para te lavar atrás. devagar querido, senão tens muitas dores. o teu corpo está completamente preso. as minhas mãos e a minha boca hão-de trazer-te ao normal. só é preciso tempo. massajo-te os ombros enquanto te lambo e amacio. sei que estás quase a adormecer. conheço os teus olhos quando estás quase a adormecer, a maneira como inclinas o pescoço. se dormires umas horas vai ficar novamente preparado. vais poder ir à janela e ver o rio e os barcos, imaginar tu os marinheiros. já estás mais quente! a tua pele clara começa a renascer dessa tortura a que te sujeitaste. lavo-te. lavo-te. lavo-te. cada centímetro de pele. e aqueço-te. eu sei que a minha língua te aquece e que as minhas mãos ainda te descontraem. deixa-me agora deitar-me em cima de ti. fazer de cobertor. a minha pele aquece-te, não aquece? temos de descansar. os dois. uma hora que seja.
b – a tua boca… a tua língua a lavar-me… as tuas mãos… a tua pele sobre mim. eu adormeço debaixo do teu calor. mas adormeço de cansaço. de derrota. não confio em ti. não confio em nada. sei o que queres. sei para o que me preparas. adormeço sim. desta vez não por ti, não por nós, não por mim. por DERROTA. só por derrota.

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