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sábado, fevereiro 11, 2006

Luís Castro responde a João César das Neves 

RESPOSTA ABERTA a ARTIGO OFENSIVO de JOÃO CÉSAR DAS NEVES, publicado no DN do dia 06 de Janeiro de 2006


Senhor César das Neves,

Tenho quarenta e cinco anos de idade, chamo-me Luís Castro, sou produtor, encenador e actor, sou licenciado em Estudos Italianos e em Medicina Veterinária, e dirijo uma Associação Artística que em Lisboa cria espectáculos que cruzam o Teatro e as Artes Plásticas com a principal motivação de uma intervenção social que contrarie opiniões castrantes e retrógradas como as que o senhor expressa no seu artigo escrito no Diário de Notícias do passado dia 06 de Janeiro.

O senhor lembra-me um inquisidor extraterrestre trancado num corredor, iluminadíssimo artificialmente por todos os lados, fechado nos seus valores de cristal, aterrorizado pelo furacão que aí vem e que vai, com certeza, quebrar-lhe as loiças e porcelanas, partir-lhe as portas, violar-lhe as janelas.

Senhor César Das Neves, deixe viver quem tem posições diferentes das suas, quem tem opções diferentes das suas, quem quer ser feliz na sua genuinidade. Não seja chato, não seja imbecil, não seja antipático, não seja casmurro. Afinal até se diz que é professor universitário, tem imensas pós-graduações e mestrados, é quase culto portanto… Reconsidere. Deixe de nos (sim, porque eu faço parte do grupo pelos seus a abater) bombardear com as suas opiniões ultra conservadoras, deixe de nos querer matar, minimizar, enquistar, prender, torturar, abafar, babar em cima.

Repare que os grandes valores que defende, a Igreja presumo e a família paimãefilho una e imaculada, continuam a ser os grandes responsáveis pelo facto de o mundo, a espécie humana sobretudo, não evoluírem como naturalmente fariam. E de soçobrarem, morrerem em condições absolutamente indignas. Se cada indivíduo tivesse, por crescimento e por nunca lha tolherem, liberdade genuína, consciência dos outros e da sua diferença, se se respeitasse igualmente a mulher e o homem biológicos ou opcionais, se nos afirmássemos de acordo com a natureza e respondêssemos ao chamamento da arte, se adoptássemos todas as crianças abandonadas e olhássemos para o mundo com verdade, então senhor Das Neves garanto-lhe que ele seria completamente diferente, seria um lugar pacífico, maturo e prolífico.

Um lugar em que pessoas ?!!! frias, brancas, pálidas, torturadas e torturantes como o senhor, só caberiam depois de vestir roupas coloridas e usar flores no cabelo, depois de acariciarem e serem acariciadas, depois de ficarem uma noite inteira acordadas a ver as estrelas empalidecerem no céu e o sol a nascer grande e vermelho numa savana africana; dessa mesma África que hoje definha e morre indignamente por causa do vosso irresponsável e egoísta preconceito… seu, do senhor Ratzinger, e de outras moscas de gado, zumbideiras e estonteadas, que tentam a toda a força impedir que o planeta evolua! E que evolua naturalmente, percebe, naturalmente, como defendia Darwin já então perseguido pelos seus – seus senhor Das Neves! – antecessores…

Não consigo entender como, em pleno século XXI e depois de tudo o que o Homem devia ter aprendido com os seus erros, há pessoas que ainda pensam como o senhor! Desde que me descobri enquanto homem e cidadão passaram-se vinte e cinco anos… Vinte e cinco anos, em que homens e mulheres, cidadãos e cidadãs, lutam pela justiça social e pela liberdade de todos… mas sempre, sempre contra outros, contra aqueles que existem sempre, viscosos, palados…!

E nós é que fazemos parte das hostes inimigas!… Os inimigos são vocês, de vocês mesmos e dos vossos pobres suicidados filhos! Mais ninguém! E não percebo como há instituições que lhe permitem exercer o ensino.

Fixe bem o meu nome, porque eu fixei o seu. Estamos para o mundo e a sociedade como a noite para o dia ou o céu para o inferno.

E com que imenso prazer serei o seu inferno. O menino dança?



Luís Castro

Homem, encenador, actor, homossexual, criador, animal, artista, lutador, cineasta, instalador, bissexual, agricultor, cão e, especialmente para si, com um orgulho desmedido, veterinário, excremento, sedimento, borra, escória, matéria fecal!

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