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domingo, janeiro 29, 2006

tratado secreto da cidade # 29 

# 29 – noite nona – dezembro – évora

4h00

assinei pela primeira vez o livro dos segredos com o novo nome que me foi conferido. assinei-o com firmeza junto à janela de onde se vê a catedral. e a catedral estava branca, coberta de uma fina neve de anjos e arcanjos voando em torno da cruz. tive vontade de gritar de me desprender dos ossos e caminhar depressa até à grande basílica deixando as minhas pegadas no caminho. mas a solidão é total e só há razão para um grito ou um voo se há alguém a quem nos possamos dirigir, ainda que num breve pensamento. eis o primeiro segredo. a primeira página preenchida desse caderno de confissões que pressinto nunca completarei. aliás nunca conseguirei conhecer os meus segredos. os meus segredos não existem. eu é que existo em segredo no chão de uma catedral na negrura de um mar aéreo, flutuante e etéreo.

5h00

em frente à catedral um banco faz de cálice à neve, os meus sorrisos afundam-se no cálice o cálice é um poço e no poço a neve aguarda. não há cidade. não há céu. não há ventos, pensamentos ou desejos. há uma fonte de água sempre renascida. dores de cabeça. tenho o olhar condicionado pela cefaleia. neva e estou perante a verdade do olhar sem pensamento. tudo no plano. todas as casas e pessoas coladas a uma parede. existir é escalar uma parede cerebral. regozijo-me com a supressão, ainda que temporária, da horizontalidade. o topo da catedral permanece branco. aos seus pés a negrura das pegadas. os apóstolos.

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