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quarta-feira, janeiro 04, 2006

tratado secreto da cidade # 15 

# 15 – décimo primeiro dia – 11 de dezembro – lisboa

8h25

temos de mudar tudo. tudo. temos de mudar tudo. tudo. quando estiver a escrever o gato não virá pousar as asas na janela. tudo. temos de arranjar uns olhos novos, querido. uns olhos cegos. tudo tem de mudar. vamos ter que morrer depressa. e ver anjos ajoelhados, arcanjos rezando na sua magnífica altura. temos. mudar olhos. pele dos dedos. temos. de. ter um
................esqueleto
................querido,
................um
esqueleto como aqueles esqueletos de antigamente. inteiros. íntegros. róseos de coração e invioláveis de espinha. há muita coisa que me preocupa. demasiadas coisas que me preocupam. coisas puras. véus. um cristal que tenho dentro de mim e diz santo santo santo. onde escutarei o rio e as sirenes dos navios? aonde sentirei os marinheiros? em que corpo? querido
................dá-me pele
não a tua, nem quero a minha de volta. dá-me pele, só isso. querido
................dá-me pele
há palavras que devo manter, reproduzir e depois, quem sabe, transmitir. santo santo santo. temos de mudar tudo ainda hoje. ver o céu e as poucas estrelas que adornam o mar. ter o vento nas mãos a aquecer. aspergir o quarto de dormir com a água e o incenso em honra daquele pelos quais se tornam vapor. bênção de areia quente no verão. hoje relembro tudo, tudo. cada tudo. dá-me pele querido e faz de mim um milagre pelo teu corpo e sangue-exangue-transmissor de pó. um dia viveremos dessa pouca luz que nos entra pelos pés e vai subindo e subindo e se desenrola. até ao cérebro. como uma lesma para se aninhar numa casca. uma lesma renascendo caracol mesmo dentro. do cérebro. onde a dor e a vertigem são um contigo, como a fome e a tristeza são unas em mim. santo santo santo e. adorado. és.


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