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quarta-feira, dezembro 14, 2005

tratado secreto da cidade # 9 

# 9 – 9 de dezembro – lisboa

8h00

- padre?
- sim, estou a ouvir-te.
- é estranho não lhe ver a cara...
- preferes ver-me, queres falar comigo lá dentro?
- não, é só estranho, mas não me incomoda... prefiro assim.
- como queiras. diz-me então, porque me procuras, posso ajudar-te?
- não sei, pode?
- não sei, posso?
- padre?
- sim, eu estou a ouvir-te, não te preocupes com isso.
- não é isso, sei que me ouve. há quanto tempo é que é padre?
- três anos.
- quantas horas trabalha por dia?
- do meio-dia à meia-noite.
- padre?
- sim...
- que horas são?
- meio-dia em ponto.
- então está na hora de começar o seu trabalho.
- sim, queres acompanhar-me?
- acompanhá-lo? trabalhar consigo?
- sim.
- do meio-dia à meia noite?
- sim, do meio-dia à meia noite. [ouvem-se sinos] ouves? o trabalho foi declarado iniciado.
- iniciado?
- sim, tocam os sinos quando os trabalhos são declarados abertos.
- abertos?
- sim, quando está na hora. quando é a hora.
- meio-dia em ponto?
- meio-dia em ponto.
- padre?
- sim?
- não quero trabalhar aqui.
- então vai... és livre?
- sou.
- então se és livre vai, nada te cativa a mim ou a este lugar.
- padre?
- sim...
- acredita em deus?
- depende do que estiveres a falar.
- não sei explicar, só sei dizer a palavra, soletrar.
- então não te posso responder. como posso eu saber se estamos a falar da mesma coisa. se eu disser sim ou disser não... tu saberás a que sim me refiro, a que não?
- a palavra existe, não significa nada só por si?
- não sei, significa?
- padre?
- sim?
- é sempre assim, quer dizer, o seu trabalho é sempre assim?
- sempre, do meio-dia à meia-noite.
- padre?
- sim?
- que horas são?
- meia-noite em ponto. [ouvem-se sinos] os trabalhos estão encerrados por hoje.
- padre?
- sim?
- posso ir... em paz?
- és livre?

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