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quinta-feira, dezembro 15, 2005

tratado secreto da cidade # 10 

# 10 – décimo dia – 10 de dezembro – lisboa

21h00

já vai havendo menos árvores. a estrada. um ou outro caminho de terra batida. parece que o carro conhece o caminho. há menos milhafres. não há ninguém. um tractor. dantes fazia isto de bicicleta. o céu está a ficar negro. vai chover? aqui não chove. ou chove? como é que em dezembro ainda há papoilas? de verão somem-se e agora aparecem de inverno. está tudo ao contrário. terceiro cruzamento à esquerda. uma bala. cartuxos de caçadeira a dar com pau. bolachas, tostas, queijo la vache qui rit, pacotes pequeninos de manteiga. uma faca. cegonhas. já vai havendo menos postes de alta tensão. menos cegonhas por consequência. a igreja junto ao pomar. o cruzeiro. a fonte do cruzeiro. a quinta da família polaca. a seta que aponta o menir. já chove. já chove. tabaco, não esquecer: t-a-b-a-c-o. o veleiro junto ao carvalho, deve ter dado mais trabalho trazer para aqui o barco que pôr o menir em pé. uma bala. uma bala chegava. os comprimidos para as enxaquecas. já chove. ainda bem. aqui nunca chove. já chove, ainda bem. segundo cruzamento à esquerda. gasolina. já é o quinto cão morto que apanho. quase um a cada meia-hora. matam-se cães de trinta em trinta minutos aqui? o revolver. um tiro para o ar e acertava numa nuvem. é melhor não. ainda parava de chover e depois o peso na consciência? não. para o ar não. bolachas, la vache, manteiga, faca, paté de atum, porque não? paté de atum, está decidido. há flores e uma nossa senhora na curva. alguém que morreu ali. chocolates regina. isso, chocolates regina. o cemitério. finalmente o cemitério, depois em frente e à esquerda. um coelho a fugir da chuva. se fosse pato gostava. outro menir. tanto menir. muita pedra estes tipos carregavam. tanto obélix. outro cão. este tinha coleira. olha... uma mulher. e a andar. devia ter-lhe dado boleia? agora já está. quer dizer, não está. está ela, toda molhada. se o meu avô não tivesse morrido... uma baleia de mármore. é verdade. uma baleia de mármore em plena seara. ora, dou a volta à rotunda e há-de lá estar uma seta a dizer osso. lá está: osso. à direita. faço pisca. não vêm ninguém atrás de mim mas gosto deste barulho do pisca em sincronia com o limpa-pára-brisas. limpa depois pára depois brisas. não se percebe. perceber percebe. o vidro pára as brisas e as escovas limpam o vidro que pára as brisas. pois. mas limpa-pára-brisas fica estranho. lá está a placa: osso. deve haver lugar à porta da capela. deixo uma flores, um cartão na bandeja, dou um abraço ao tó e volto para trás. digo pêsames, ou sentimentos? logo vejo o que me sai. dez minutos e volto. paro no supermercado antes. ora, bolachas, a vaca, os pacotinhos de manteiga, os regina... pronto já me esqueci do resto. uma bala?

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