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sábado, outubro 15, 2005

tratado secreto da paisagem # 38 

a minha boca ainda te chama
os dedos a saliva
os vasos sanguíneos onde plantámos avencas
ainda estão obstruídos pelo
líquido amniótico
que sorvemos como um poema
escorrendo entre nós

ter morrido dá-me uma visão vegetal
do nosso amor
sinto-te como se um
cantor se tivesse instalado no cérebro
no lugar
onde antigamente as cefaleias
corroíam os momentos
de estarmos juntos
e sobre tudo isto a paisagem a imensa
paisagem de espigas cor-de-rosa
espigas de cereja
que nos serviram de cama
içadas à tempestade como um tremendo relâmpago
disparando pérolas sobre o mar
depois da morte
um cubo é um cubo e tu és tu
esplendorosamente calmo – vejo-te
gritando mudo as orações da tarde
eu ouço a mudez com que me chamas
e tento responder-te enquanto ainda habito este
lugar intermédio
só me ouvirás daqui a muitos anos
quando tudo o que me compõe já se tiver
desagregado por completo
aí sim estaremos juntos

ligados por um fio transparente
teremos descoberto as letras
caligrafadas por um deus menor
do tratado secreto da paisagem

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