<$BlogRSDUrl$>

quinta-feira, outubro 13, 2005

tratado secreto da paisagem # 35 

o amor resvala até ser só esqueleto
preso por cordas numa câmara escura
dantes
tinha asas
e dentes
unhas com sangue por baixo
ao fim da tarde via cavalos ao longe
baixando a cabeça numa espécie de pasto
e dantes nem foi ontem nem é hoje
nem um futuro marcado a vermelho
num número de calendário
dantes és tu
era ou é ou será
tu
infusão onde o meu coração cresceu e se fez
tisana de olhos brilhantes
por isso dantes
tinha dentes e asas – unhas com sangue por baixo
e via cavalos ao longe a quem chamava gente
até que
o amor resvalou
tu
o tempo
e
eu preso por cordas numa câmara escura
vomito este cheiro fétido
a porcelana a que chamam vida
ou existência ou lucidez

um dia
não sei se no passado se agora se no futuro
num «tu» – que é a minha única medida de tempo
hei-de ter uma casa-cama aonde regressar
um lugar aberto e almofadas quentes
nesse dia
hei-de entrar por uma porta branca
conduzido pela tua voz doce
cheirar-te o cabelo
e devorar morangos sob um grande cristo
espetado – duplamente espetado – na parede do quarto
para
finalmente
amar o meu corpo em pequenas parcelas de beijos

This page is powered by Blogger. Isn't yours?