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segunda-feira, outubro 10, 2005

tratado secreto da paisagem # 32 

quando hoje choveu cavando nos
vidros do escritório
o cântico estéril de uma água que não chega à terra
(porque não há terra na minha cidade)
soube-me bem sentar – sentir – roupa seca
e a ilusão lavada desta vida cheia de lixo

depois veio o sol
dissipando as colunas de nuvens
fez-se primavera mesmo sob
o céu pesado de um chumbo com odor a passado

só ficaram algumas marcas
afincadas aos troncos dos plátanos do hospital
por entre ambulâncias
gente a correr macas a rolar
rostos com ar de papeis por tratar

o dia acabou
a cidade acabou
tudo se dissipou na solidão da chuva
que já não verte

continuo sentado
já duvido que ela aqui esteve
que foi outono que fui vivo
ao som dos pontos físicos daquele aquoso combate
contra os vidros do escritório

continuo sentado



sentado

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