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domingo, outubro 09, 2005

tratado secreto da paisagem # 29 

o poeta é um cruel
cobarde
que dança depois de ferir es
condendo-
-se no poema – fazendo-se passar
por papel impresso por mago por criança
o poeta esmaga o tudo que lhe bate
no rosto desvairado de lágrimas

à espera que tudo pare

arrastando os meses

abandonando deus num deserto
conspirações flutuantes
caídas em sangue

os nomes e palavras amantes
prendem-se aos poemas
como os filhos
se prendem às pernas
das mães fingindo acreditar que estas os protegem
quando na realidade são elas que os condenam
e assim as palavras se aninham com garras
ao poema
fingindo acreditar na protecção do poeta
que as matará
cruel
cobarde
mago negro desfeito em cinzas procurando cristos
entre as ovelhas
os poetas e os poemas são a fonte da eternidade
e os cabelos que deles crescem até que o eterno
se reduza à infelicidade
não são mais que finas correntes
que os prendem a todos os mortos
do futuro

cruéis
cobardes – os poetas não morrem
e a dor
é uma bicicleta

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