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quinta-feira, setembro 15, 2005

tratado secreto da paisagem # 4 

são silenciosas
§
linhas de horizonte movidas por
espasmos sem nexo
seivas reencontradas – no rio
ou no trigo espargido verde
na paisagem que escorrega e há um traço
um grande navio deitado com ar de barco
vozes de um mastro com rosto

na paisagem tudo é insurrecto

são silenciosas como se vivesse
§
dunas e candeias – noites sem cobertor
calor de espíritos acordados
as naves
as sereias
assim se ouvissem violinos
e nas cordas o arco os fecundasse
como um braço amputado antes da escrita
antes do poema –
antes do peixe que recorta
a caligrafia montblanc de um verso

são silenciosas
§
na paisagem como tudo o que é secreto / pasmado
/ codificado nas páginas mestras de um tratado
os tigres avançam
os tigres-signo – os elefantes abertos no corpo dos
pequenos objectos cortantes
na aridez confluente de um dente de buda
num campo deserto junto ao ganges

caminha por mim a cima a memória do peixe em
ebulição de espumas – ?desastres?
?como pode um elefante provocar um desastre?
se um elefante é uma hélice que ama
em perfis de marfim em altas flores sentadas
equilibrando as suas linguagens imensas
na muralha a que chamamos precipício

cordas de violino
o ruído dos camponeses em fuga
afogados e descalços no ganges
perto do deserto
da linha secreta da paisagem secreta
de um dente de buda

estamos em 2005 em lisboa
é setembro / o ganges está gordo de elefantes equilibristas
a uma hora certa
gente corre em passo de enterro
à procura da linha do horizonte que não é mais
que um barco cor de laranja com destino ao barreiro

a paisagem é um segredo
uma sereia
um dente de buda na proa de barco para o barreiro
à hora de ponta

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