quarta-feira, setembro 14, 2005
tratado secreto da paisagem # 3
o filho senta-se diluído
à mesa com o pai como se tudo fosse
possível no aroma das amoras dos garfos e das facas
transcendentes ferramentas que se abrem nas ancas
filiais de onde o parto surge
espelhado nos flancos – semente do ar profundo
e eles vão contemplar no espaço os astros
vêem estrelas de açúcar e têm espasmos
de iluminação já esquecidos os pratos
os guardanapos os restos mortais do incenso
e de um cigarro no escuro
infelizes os que na ceia do senhor
não sabem reconhecer o sinal da ponta ardente
de um cigarro no escuro
o filho dá a mão
a si
próprio
e é ao pai que num amplexo lunar beija o reino
do imenso e musical tempo em que estão juntos
há entre eles uma espécie material de porta
uma entrada física – absolutamente física
e entre os dedos nasce sempre uma rosa
uma rosa-mãe enrolada na
escura almofada da porta – ele é afinal o pai
..........(por «ele» entenderemos filho
..........por «outro» entenderemos pai)
e o outro recebe-o numa amalgama de lágrimas-coração
recebe-o com lágrimas numa amalgama de rosa
só eles
..........(por eles entenderemos um só «paiefilho»
conhecem a dor que emerge da ombreira da porta
..........perfis flamejantes à espera do seu tempo
eles abrem uma fenda num lugar diurno
o gemido mudo de todo o sangue do mundo
o outro é um sopro invertido uma implosão
descontida – uma caixa onde ao espelho
roda uma pequena e sonhada bailarina
frente às estrelas eles vêem as bandeiras
as fontes que jorram nos planetas
:a toalha da mesa os copos os restos de pão
o tacho que ainda contém o olor a açafrão – o arroz
eles são a bailarina e a própria caixa
emergindo de um fundo atlântico de saliva
à mesa com o pai como se tudo fosse
possível no aroma das amoras dos garfos e das facas
transcendentes ferramentas que se abrem nas ancas
filiais de onde o parto surge
espelhado nos flancos – semente do ar profundo
e eles vão contemplar no espaço os astros
vêem estrelas de açúcar e têm espasmos
de iluminação já esquecidos os pratos
os guardanapos os restos mortais do incenso
e de um cigarro no escuro
infelizes os que na ceia do senhor
não sabem reconhecer o sinal da ponta ardente
de um cigarro no escuro
o filho dá a mão
a si
próprio
e é ao pai que num amplexo lunar beija o reino
do imenso e musical tempo em que estão juntos
há entre eles uma espécie material de porta
uma entrada física – absolutamente física
e entre os dedos nasce sempre uma rosa
uma rosa-mãe enrolada na
escura almofada da porta – ele é afinal o pai
..........(por «ele» entenderemos filho
..........por «outro» entenderemos pai)
e o outro recebe-o numa amalgama de lágrimas-coração
recebe-o com lágrimas numa amalgama de rosa
só eles
..........(por eles entenderemos um só «paiefilho»
conhecem a dor que emerge da ombreira da porta
..........perfis flamejantes à espera do seu tempo
eles abrem uma fenda num lugar diurno
o gemido mudo de todo o sangue do mundo
o outro é um sopro invertido uma implosão
descontida – uma caixa onde ao espelho
roda uma pequena e sonhada bailarina
frente às estrelas eles vêem as bandeiras
as fontes que jorram nos planetas
:a toalha da mesa os copos os restos de pão
o tacho que ainda contém o olor a açafrão – o arroz
eles são a bailarina e a própria caixa
emergindo de um fundo atlântico de saliva