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segunda-feira, setembro 12, 2005

tratado secreto da paisagem # 1 

até hoje tive a sensação de ter tido um rosto
o meu rosto – agora
pressinto que nem nas fotografias de criança reconheceria
os olhos que um dia
marcaram a margem das minhas pálpebras
o meu eu

deram-me espelhos e louvores animais
..........cantos milagrosos de sacerdotes
vou na rua e reconhecem-me
cumprimentam-me como se o meu eu fosse ainda o
canto brilhante dessas aves penadas
que suaves como um breve e férreo círculo
me tenta convencer do poder curativo de uma luz

mas já não é o eu dos meus olhos o que em mim habita
nem sou a transparência que
contemplou serenas paisagens decoradas

é esta minha voz o que me identifica
espargindo cinzas pela pele
sem acordar sem dormir sem pousar
.......tive tantas memórias – sei o espaço que ocupei
.......forçando as partículas do cosmo
.......que agora o mar devora
mas nada tenho que dizer
..........nem um «te» que acrescente
nada
além de um espelho que reflecte outro ser

sei que se fosse além de ter-
«-te»
nada mais seria que um defunto ausente

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