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sábado, setembro 03, 2005

não sei se isto é amor # 33 

tenho a lembrança dos quase cem azuis
que os teus olhos espalhavam em mim
imaginava que todos os olhos eram assim
faiscantes azuis como os teus
um dia tive medo que se fechassem em
cinzento – nesse dia havias de mudar a cor do corpo
e desfazer as tardes de que o nosso amor era feito

..........(quando hoje olho para o meu destro dedo anular
..........e encontro o teu anel de ouro [a tua mais preciosa marca]
– e me lembro da noite em que me consagraste
supremo sacerdote da tua eternidade –
..........pergunto-me se alguma vez terás tido dúvidas
..........sobre as coisas
..........ou se as coisas
..........terão tido dúvidas sobre ti)

vi-te numa pose de morta dentro de um caixão
senti-te neutra debaixo de um lenço de renda
?e isso que prova
?quantas vezes estiveste tu dentro de
um caixão ainda mais caixão que aquele
e todos te chamavam viva
?quantas vezes suspendeste o sopro debaixo do lençol
para não veres nada
para não seres nada

a única coisa que me faz duvidar da tua presença
entre cálices de quase-cem-azuis-olhar
é este meu dedo anular – tu
que terias preferido o eterno
fim do sol a separar-te deste milagroso brasão

vejo-te ainda sentada
naquele trono de onde recebias as pessoas
se morreste ainda não renasceste
porque o teu perfume a vestidos roxos
ainda paira – irremediavelmente louco –
..........à procura
junto à saia púrpura do teu amado jazigo

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