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sexta-feira, setembro 02, 2005

não sei se isto é amor # 32 

o campo dorme um intenso sono indiligente
nutrida sesta neste prometido princípio de setembro
há deuses por todo o lado
voam as cegonhas – silenciosas – com pudor
não vá um descuidado bater de asas des
entorpecer a seara e acordar a revolta d
as numerosas espigas de trigo

um navio espera com leões no coração
empatado num brilhante canal de uma veneza seca
afluente sorridente de um rio seco – navio ocultando
a sirene e as tripas indecisas dos motores

em todo aquele amarelo não há um só
tripulante do ruído
nem monges
nem lisas raparigas
nem relógios inaugurais de igrejas a nascer
não há sequer uma aura
uma sombra
um ver que possa ver-se com a certeza de se estar a ver

o campo dorme um sono implacável
estar ali é como esperar alguém que não sabemos
[terá morrido ou existido] – alguém
que não sabemos se sequer chegámos a conceber

mas sentado – honrando um encontro que não marquei
fico ali – tão alucinado como se no meio do mar
esperasse numa estação de comboios
um que me levasse às tuas mãos
e me deixasse – uma só
vez
mais
beijar o teu ombro
sentindo aquele cheiro que só tu tens – o teu cheiro a chá
a água morna
e deixar-me cair nas tuas pernas

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