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quinta-feira, setembro 01, 2005

não sei se isto é amor # 31 

a terra é débil neste país – nem as flores
transfiguram o lar
aqui
o chão concentra-se numa explosão de ladrilhos

é primeiro de setembro – finalmente
agosto ficou nessa ilusão de comboio onde sozinhos
todos nos afogaremos inundados de carris
vendo passar mortos luzentes em fatos de ir à missa

é quase sábado e se setembro tivesse trazido
o cheiro dos círios ou pequenas árvores
que dessem o toque da terra à ponta dos meus dedos
ganharia – talvez – o céu de um lugar
onde pudesse pousar a cabeça
..........mas sou um simples caroço
..........que aos ossos do pescoço se agarra
[com garras de um pequeno tordo]
..........um lacerado casco pensante sem autorização
..........para o descanso ou para a simples interrupção da dor

neste país a terra é tão débil que tenho medo
de a pisar / de plantar –
como ambicionava
um efémero trabalho de jardim*
noutros agostos – quando ainda corriam rios de veias entre
outro e eu
tinha a incumbência de regar as flores de um quintal
e era uma bênção eucarística – uma chuva de neve angélica
eram os agostos de uma pequenina vida

nesta morte de que me alimento
anseio por um poema que possa esquecer
um agosto finalmente ceifador
que com amor me levasse mais que para a terra para a areia
e aí eu pudesse eclodir em forma de acácia flamejante

* título de livro de cristina tavares

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