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quarta-feira, maio 04, 2005

o livro das noivas # 14 

# 14 – a mesa


há pedras à superfície e pedras so
terradas – eis o mundo –
escrevem-se poemas na terra
e eu aqui a ver-te sentada a essa mesa de luxolendo
embalada pelo som dos comboios
sinto-me a morrer com o desejo de te tocar nos pés
[tentativa vã de te ressuscitar para mim] – chama-me grande sacerdotiza
ou rãzinha / a memória tem os dias e os dedos contados
tem os anéis empobrecidos e paredes erguidas
entre mim e a lamparina que dá a luz à tua leitura
há uma unha
se soprasse apagaria todas
as letras o mundo que julgas conhecer embalada
p
e
l
o
som
d
o
s
comboios
eis o mundo – tu és uma pedra à superficie
e eu uma pedra soterrada inspirando e expirando
eu a louca ametista com cabelos de cão que te ama
eu o asteróide que gravita à volta do teu pescoço comprido
rezo pela aurora pela saúde dos ossos pela cadeira
de luxo que te serve de trono – beijar-te-ia até à morte
beijar-me-ia até à morte – quero engolir as tuas pernas inteiras
chama-se rãzinha bruxa como dantes
basta um gesto meu um bocejo
e ressuscito-te ao som dos comboios
tu passarias a ser a pedra soterrada
e eu a própria superfície – eis o mundo

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