segunda-feira, abril 18, 2005
quarenta romances de cavalaria # 38
# 38 – sábado
NÃO SEI SE É HOJE QUE TERMINA TUDO dizem que sabemos quando fim se aproxima mas ao que parece é impossível determinar o momento exacto em que tudo cessa esta noite tive um sonho e no sonho algo me avisava de que poderia ser desenhado hoje o último recorte da minha vida foi o anúncio onírico da entrada no lugar dos anjos e dos demónios do fogo e dos grandes mares claro que os sonhos não são coisas certas não os podemos levar à letra mas a tentação é grande no sonho caminhava numa grande avenida de paris à noite e sozinho e dava de caras com um tigre gigante das neves um tigre mutante que me devorava quando fui criança vivia no jardim zoológico um grande tigre mutante apesar de nascido em cativeiro e no século XX a sua aparência recuava a milhares de anos o animal ainda sobreviveu três anos estava numa jaula à parte de todos os outros tigres e tinha pendurado ao pescoço um cartaz que dizia grande tigre mutante trinta anos depois no meu sonho esse mesmo tigre devorou-me numa avenida de paris tenho passado o dia à espera de algo imprevisto que me ponha termo à existência durante a manhã pensei várias vezes na hipótese de ser atropelado ao almoço que a comida estivesse envenenada mas até agora nada ainda assim a sensação perdura é quase impossível de explicar isto sinto as artérias contraídas pelo corpo todo o cérebro anormalmente lúcido vejo melhor ao longe e ao perto então nem se fala sou capaz de ouvir vozes a uma distância considerável o mais leve olor afoga-me como se tivesse caído num caldeirão de perfume ou de excrementos li uma vez que antes da morte os sentidos se exaltam e se alcançam vidências extraordinárias bate tudo certo o mais estranho é que no caminho para casa me cruzei com o tigre mutante das neves e ele ignorou-me completamente nem um olhar de soslaio me deitou cruzou-se comigo e foi como se eu não existisse e nesse momento não estava a sonhar ou penso que não estava racionalmente não podia ter sido o mesmo tigre do zoológico esse já morreu há trinta anos podia ter-me aparecido em sonhos mas na realidade acho que não será que é outro só se não morreu terá ele fugido do jardim e espalharam a notícia de que tinha morrido só para não alarmar as pessoas não sei nada e se já tiver chegado o fim quer dizer falando sem rodeios e se já tiver morrido e não souber também já li muitas histórias assim se bem que isso não explique porque me devorou um grande tigre mutante em sonho e quando me cruzei com ele na realidade nem miou não sei interpretar sinais passei demasiado tempo de volta dos símbolos pensando que os símbolos eram tudo que continham tudo e afinal de que me serve agora a simbologia se ao surgir um sinal nada em mim se ilumina de uma forma ou de outra o que mais me inquieta ainda mais do que me saber vivo ou morto é saber se este será o último texto ou será que este texto nem sequer foi escrito_
NÃO SEI SE É HOJE QUE TERMINA TUDO dizem que sabemos quando fim se aproxima mas ao que parece é impossível determinar o momento exacto em que tudo cessa esta noite tive um sonho e no sonho algo me avisava de que poderia ser desenhado hoje o último recorte da minha vida foi o anúncio onírico da entrada no lugar dos anjos e dos demónios do fogo e dos grandes mares claro que os sonhos não são coisas certas não os podemos levar à letra mas a tentação é grande no sonho caminhava numa grande avenida de paris à noite e sozinho e dava de caras com um tigre gigante das neves um tigre mutante que me devorava quando fui criança vivia no jardim zoológico um grande tigre mutante apesar de nascido em cativeiro e no século XX a sua aparência recuava a milhares de anos o animal ainda sobreviveu três anos estava numa jaula à parte de todos os outros tigres e tinha pendurado ao pescoço um cartaz que dizia grande tigre mutante trinta anos depois no meu sonho esse mesmo tigre devorou-me numa avenida de paris tenho passado o dia à espera de algo imprevisto que me ponha termo à existência durante a manhã pensei várias vezes na hipótese de ser atropelado ao almoço que a comida estivesse envenenada mas até agora nada ainda assim a sensação perdura é quase impossível de explicar isto sinto as artérias contraídas pelo corpo todo o cérebro anormalmente lúcido vejo melhor ao longe e ao perto então nem se fala sou capaz de ouvir vozes a uma distância considerável o mais leve olor afoga-me como se tivesse caído num caldeirão de perfume ou de excrementos li uma vez que antes da morte os sentidos se exaltam e se alcançam vidências extraordinárias bate tudo certo o mais estranho é que no caminho para casa me cruzei com o tigre mutante das neves e ele ignorou-me completamente nem um olhar de soslaio me deitou cruzou-se comigo e foi como se eu não existisse e nesse momento não estava a sonhar ou penso que não estava racionalmente não podia ter sido o mesmo tigre do zoológico esse já morreu há trinta anos podia ter-me aparecido em sonhos mas na realidade acho que não será que é outro só se não morreu terá ele fugido do jardim e espalharam a notícia de que tinha morrido só para não alarmar as pessoas não sei nada e se já tiver chegado o fim quer dizer falando sem rodeios e se já tiver morrido e não souber também já li muitas histórias assim se bem que isso não explique porque me devorou um grande tigre mutante em sonho e quando me cruzei com ele na realidade nem miou não sei interpretar sinais passei demasiado tempo de volta dos símbolos pensando que os símbolos eram tudo que continham tudo e afinal de que me serve agora a simbologia se ao surgir um sinal nada em mim se ilumina de uma forma ou de outra o que mais me inquieta ainda mais do que me saber vivo ou morto é saber se este será o último texto ou será que este texto nem sequer foi escrito_