quinta-feira, abril 14, 2005
quarenta romances de cavalaria # 34
# 34 – terça-feira
CHEGUEI TARDE ao cais apesar de ter corrido o mais que pude quando me abeirei do rio já não havia nada a fazer a jangada tinha partido como um herói que se atrasa para a vitória fiquei preso nesta ilha com um cão um rato e todos os projectos de viagem os mais belos planos de vida os desejos mais íntimos tudo ancorado em terra o rato mal viu que não tinha barco desertou o cão olhou-me com um desprezo máximo como se eu não passasse de uma mosca na verdade não passo de uma mosca mas sem asas que se as tivesse voaria até à outra margem e encontrar-me-ia com os meus sonhos com a beleza infinita das plantações de jasmim e rosas de santa teresinha naquele cais nem mosca mereço ser apesar disso o cão como é cão ficou mas com os olhos baixos de vergonha e desapontamento só não me abandona por piedade canina mas juro que daqui não saio quero lá saber do cão e do que ele pensa secarei à beira d'água se não posso alcançar a outra margem com o corpo alcanço-a com os olhos sim porque daqui vejo-a e talvez isso me baste vejo aqueles guindastes os poços de petróleo os aviões a aterrar e levantar voo a imaginação preencherá o resto inventarei os passeios que não darei pelos claustros da grande fábrica de pesticida criarei tardes de verão para adormecer na relva daqui não saio o rato foi-se portanto não lhe terei que dar explicações de nada o cão não me fala pois então que se afogue na sua arrogância talvez até tenha sido melhor assim deus escreve direito por linhas tortas quem sabe se não seriam só desilusões se tivesse chegado a tempo de embarcar na jangada e posto os pés do outro lado deus escreve direito por linhas tortas aqui estarei a salvo de todas as desilusões até que seque à beira d'água dormirei sobre o imaculado leito da beleza das plantações de jasmim e rosas de santa teresinha_
CHEGUEI TARDE ao cais apesar de ter corrido o mais que pude quando me abeirei do rio já não havia nada a fazer a jangada tinha partido como um herói que se atrasa para a vitória fiquei preso nesta ilha com um cão um rato e todos os projectos de viagem os mais belos planos de vida os desejos mais íntimos tudo ancorado em terra o rato mal viu que não tinha barco desertou o cão olhou-me com um desprezo máximo como se eu não passasse de uma mosca na verdade não passo de uma mosca mas sem asas que se as tivesse voaria até à outra margem e encontrar-me-ia com os meus sonhos com a beleza infinita das plantações de jasmim e rosas de santa teresinha naquele cais nem mosca mereço ser apesar disso o cão como é cão ficou mas com os olhos baixos de vergonha e desapontamento só não me abandona por piedade canina mas juro que daqui não saio quero lá saber do cão e do que ele pensa secarei à beira d'água se não posso alcançar a outra margem com o corpo alcanço-a com os olhos sim porque daqui vejo-a e talvez isso me baste vejo aqueles guindastes os poços de petróleo os aviões a aterrar e levantar voo a imaginação preencherá o resto inventarei os passeios que não darei pelos claustros da grande fábrica de pesticida criarei tardes de verão para adormecer na relva daqui não saio o rato foi-se portanto não lhe terei que dar explicações de nada o cão não me fala pois então que se afogue na sua arrogância talvez até tenha sido melhor assim deus escreve direito por linhas tortas quem sabe se não seriam só desilusões se tivesse chegado a tempo de embarcar na jangada e posto os pés do outro lado deus escreve direito por linhas tortas aqui estarei a salvo de todas as desilusões até que seque à beira d'água dormirei sobre o imaculado leito da beleza das plantações de jasmim e rosas de santa teresinha_