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quarta-feira, abril 13, 2005

quarenta romances de cavalaria # 33 

# 33 – segunda-feira

HAVERÁ NO MUNDO coisa mais detestável que uma valsa o locutor com a voz melosa e arrastada das horas mortas diz que vamos ouvir mais uma gravação histórica do cavaleiro da rosa de strauss tenho pena destes locutores imagino-os a suar colados ao microfone com as cabeças ligadas à electricidade para se manterem acordados há duas horas que ouço gravações históricas de valsas esta foi a última é a vez de um pianista um tal friedrich qualquer coisa são dezanove horas e cinco minutos temos que ir a correr para o rol de livros vem ao microfone uma senhora com uma voz de setenta anos ainda que tenha vinte e cinco fala de um dicionário analítico de literatura medieval escrito evidentemente pelos mais reputados especialistas do mundo não percebi se o dicionário era bom ou mau só o que disse é que o índice onomástico não prestava porque nem todas as entradas estavam sob a regra da colocação dos nomes pelos apelidos sem pausa ou silêncio volta o locutor da voz arrastada com um discurso sobre o papa nicolau segundo que decretou em mil e cinquenta e nove que só os cardeais poderiam escolher o sumo pontífice tudo isto para pôr no ar um coro a cantar louvores ao tal nicolau fico contente ao menos acabaram-se as valsas as duas longas horas do pior que a humanidade produziu para os ouvidos não voltarão até um friedrich qualquer coisa é melhor que valsas aleluia e o coro foi-se a musica foi-se agora é altura de dar bilhetes para o teatro já é quase noite é quase impossível sobreviver o nosso quotidiano é uma valsa permanente paciente esperarei até ao fim por um momento de radical dissonância de turbulência absoluta de total rompimento das membranas de unto que temos coladas ao corpo a vida não pode ser só isto a morte é uma esperança mas não é certa_

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