sexta-feira, março 18, 2005
quarenta romances de cavalaria # 9
# 9 - sexta-feira
SÓ EU E O CAVALO antes de partir garantiram-me que aquela extensão desértica era possível percorrer em poucos dias no entanto já há três meses que andamos nisto fomos ganhando confiança e como o cavalo fala português passamos muitas horas a conversar e tem-se mostrado uma belo contador de histórias numa destas tardes de conversa solta contou-me esta extraordinária narrativa de quando ele era novo e foi chamado a fazer a entrega de um cavaleiro do exército português isto é coisa para se ter passado há uns bons quatrocentos anos ou mais o alazão lá foi ter ao sítio combinado e quando viu o cavaleiro não se conteve e desarticulou-se todo a rir o homem não tinha mais que metro e meio e não pesava mais de quarenta quilos de volta dele andavam três musculosos coronéis a tentar enfiar o desgraçado numa armadura de ouro que no mínimo tinha o dobro do pequenote depois de lá enfiado tiveram que o amarrar pelo pescoço com umas correias para ele não cair por ali abaixo como se isso não bastasse um padre cristão quis dar-lhe uma bênção qualquer e oferendar-lhe uma espada lá voltaram coronéis a pôr-se de volta do valente para o fazer ajoelhar por fim pregaram-lhe um elmo coroado na cabeça e içaram-no para o lombo do corcel como é seu costume sempre que apanha um passageiro o meu amigo perguntou para onde era a viagem para mais no papel passado pelo serviço de entregas não vinha especificado o destino da corrida o cavaleiro abafado no elmo disse que ia tomar o castelo de s. jorge a lisboa coitado já delira pensou o cavalo estamos nós em áfrica e este diz que vai para lisboa resolveu continuar a caminhada até que pudesse telefonar para a central e esclarecer o assunto nisto adormeceu no passo lento daquele calor quando acordou sentiu-se demasiado leve olhou para cima e reparou que o digno conquistador já lá não estava então não é que tinha deixado o homem cair pelo caminho ainda andou por ali às voltas a ver se o via mas nada já de regresso à cidade quando lhe perguntaram pelo serviço com medo de ser despedido respondeu que tudo se passara como previsto e que o fidalgo mandava dizer que quando chovesse por aquelas bandas telefonaria a encomendar transporte _
SÓ EU E O CAVALO antes de partir garantiram-me que aquela extensão desértica era possível percorrer em poucos dias no entanto já há três meses que andamos nisto fomos ganhando confiança e como o cavalo fala português passamos muitas horas a conversar e tem-se mostrado uma belo contador de histórias numa destas tardes de conversa solta contou-me esta extraordinária narrativa de quando ele era novo e foi chamado a fazer a entrega de um cavaleiro do exército português isto é coisa para se ter passado há uns bons quatrocentos anos ou mais o alazão lá foi ter ao sítio combinado e quando viu o cavaleiro não se conteve e desarticulou-se todo a rir o homem não tinha mais que metro e meio e não pesava mais de quarenta quilos de volta dele andavam três musculosos coronéis a tentar enfiar o desgraçado numa armadura de ouro que no mínimo tinha o dobro do pequenote depois de lá enfiado tiveram que o amarrar pelo pescoço com umas correias para ele não cair por ali abaixo como se isso não bastasse um padre cristão quis dar-lhe uma bênção qualquer e oferendar-lhe uma espada lá voltaram coronéis a pôr-se de volta do valente para o fazer ajoelhar por fim pregaram-lhe um elmo coroado na cabeça e içaram-no para o lombo do corcel como é seu costume sempre que apanha um passageiro o meu amigo perguntou para onde era a viagem para mais no papel passado pelo serviço de entregas não vinha especificado o destino da corrida o cavaleiro abafado no elmo disse que ia tomar o castelo de s. jorge a lisboa coitado já delira pensou o cavalo estamos nós em áfrica e este diz que vai para lisboa resolveu continuar a caminhada até que pudesse telefonar para a central e esclarecer o assunto nisto adormeceu no passo lento daquele calor quando acordou sentiu-se demasiado leve olhou para cima e reparou que o digno conquistador já lá não estava então não é que tinha deixado o homem cair pelo caminho ainda andou por ali às voltas a ver se o via mas nada já de regresso à cidade quando lhe perguntaram pelo serviço com medo de ser despedido respondeu que tudo se passara como previsto e que o fidalgo mandava dizer que quando chovesse por aquelas bandas telefonaria a encomendar transporte _