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domingo, março 13, 2005

quarenta romances de cavalaria # 3 

# 4 – domingo

É COMO SE UMA COLMEIA EXPLODISSE por excesso de abelhas e se espalhassem dezenas de ferrões e presa a cada um deles viesse uma abelha agarrada tentando voar desesperada no sentido contrário da força do torpedo quer queira quer não queira tenho que tomar os comprimidos e deixar-me estar preso a uma cadeira sem ver sem querer ver sem ouvir sem querer ouvir sem saber sem querer saber é quando os olhos implodem e deixamos de conseguir orientar os globos oculares que ficam a gravitar como no espaço os astros que realmente passamos a conhecer o que nos passa pela cabeça o que pensamos só é um mistério até nos caírem os olhos no líquido cerebral aí é como se uma colmeia explodisse por excesso de abelhas espalhando centenas de ferrões e atrás deles viessem agarradas minúsculas abelhinhas de asas muito abertas tentando contrariar a força do torpedo então tomam-se os comprimidos sejam eles pequenos pedaços de mel e luz sejam visões de santos aparições celestes de pequenas sereias cansadas ou cítaras indianas é espantosa a quantidade de cavalos marinhos que há dentro de nós a querer sair e se saíssem seria a salvação das pequenas horas e dos segundos perdidos nos bolsos uma profusão silabar de cavalgadas funâmbulas a boca faria então sentido os dentes seriam teclas d’órgão envés de pedaços cariados de osso presos a bife ou gengivas também as gengivas não seriam gengivas mas martelos almofadados de percussão batendo suavemente nas cordas esticadas do piano bocal mas não o que acontece é o que acontece continuamos a acreditar na arquitectura na edificação nos projectos globais sem darmos conta que o corpo já não aguenta que não passamos de um desastre doméstico de uma lata de tinta entornada como uma colmeia que explodisse por excesso de abelhas e pelo espaço fossem disparados biliões de ferrões e agarradas a eles abelhas tentando voar contra a força implacável do torpedo_

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