sábado, março 12, 2005
quarenta romances de cavalaria # 2
# 2 – sábado
SÃO TODOS JUÍZES recebo mais de trezentas sentenças por dia eles conhecem-me eles dizem que me conhecem eles pensam coisas sobre mim vaticinam sobre o fim do meu presente como se falassem de gravatas mas a única coisa que me interessa é ter gás no isqueiro as minhas mãos já não vão parar de tremer e mais tarde ou mais cedo terei a cabeça decepada mas vou todos os dias ao tribunal e ouço-os e até lhes respondo às vezes exalto-me que é para parecer que estou envolvido na minha defesa ao sábado de manhã os juízes podem assumir as formas mais intrigantes ainda há pouco estava um cão moribundo a ser devorado por vermes tentei ajudar o cão e os vermes que fui arrancando à carne do cão com a boca para tentar não magoar nem o cão nem os vermes e mal o cão ficou mais aliviado redigiu logo um tratado de opiniões sobre a minha vida também os vermes vestiam togas e diziam conhecer-me desde bébé e há o pior de todos os juízes o poema que se entranha no músculo cardíaco e ataca os rins e produz sílabas de navalha nos pés continuarei a andar e acatar as sentenças sem as ouvir já falta pouco tempo é necessário que eles não se apercebam da minha voluntária surdez enquanto esta espera dura para que continuem a abastecer o meu isqueiro de gás ainda na semana passada reparei nos troncos dos outros sobreiros que o último de nós tinha sido decepado em dois mil e quatro portanto pela ordem estabelecida sou o próximo mais a mais não dou cortiça há doze anos eles não precisam de mim para nada só aqui ando por causa dos papéis a tratar dos carimbos das assinaturas mas eles conseguem sempre chegar ao fim dos processos não tarda e o meu dossier estará concluído talvez até antes do verão ou coisa assim e quando estiver em rodelas a arder na salamandra de uma consagrada família gente casada e de lei serei um fumo opaco e eruptivo que se espalhará no vácuo espaço entre o céu e a misteriosa massa densa que há escondida no éter deixarei de ocupar espaço e terei tempo para as aulas de dança será nessa altura que lhes escapo eles são juízes e mandam nos canhões mas nunca conseguirão controlar o refractário efeito de turbulência que nem a matemática consegue explicar dum fio de fumo a subir_
SÃO TODOS JUÍZES recebo mais de trezentas sentenças por dia eles conhecem-me eles dizem que me conhecem eles pensam coisas sobre mim vaticinam sobre o fim do meu presente como se falassem de gravatas mas a única coisa que me interessa é ter gás no isqueiro as minhas mãos já não vão parar de tremer e mais tarde ou mais cedo terei a cabeça decepada mas vou todos os dias ao tribunal e ouço-os e até lhes respondo às vezes exalto-me que é para parecer que estou envolvido na minha defesa ao sábado de manhã os juízes podem assumir as formas mais intrigantes ainda há pouco estava um cão moribundo a ser devorado por vermes tentei ajudar o cão e os vermes que fui arrancando à carne do cão com a boca para tentar não magoar nem o cão nem os vermes e mal o cão ficou mais aliviado redigiu logo um tratado de opiniões sobre a minha vida também os vermes vestiam togas e diziam conhecer-me desde bébé e há o pior de todos os juízes o poema que se entranha no músculo cardíaco e ataca os rins e produz sílabas de navalha nos pés continuarei a andar e acatar as sentenças sem as ouvir já falta pouco tempo é necessário que eles não se apercebam da minha voluntária surdez enquanto esta espera dura para que continuem a abastecer o meu isqueiro de gás ainda na semana passada reparei nos troncos dos outros sobreiros que o último de nós tinha sido decepado em dois mil e quatro portanto pela ordem estabelecida sou o próximo mais a mais não dou cortiça há doze anos eles não precisam de mim para nada só aqui ando por causa dos papéis a tratar dos carimbos das assinaturas mas eles conseguem sempre chegar ao fim dos processos não tarda e o meu dossier estará concluído talvez até antes do verão ou coisa assim e quando estiver em rodelas a arder na salamandra de uma consagrada família gente casada e de lei serei um fumo opaco e eruptivo que se espalhará no vácuo espaço entre o céu e a misteriosa massa densa que há escondida no éter deixarei de ocupar espaço e terei tempo para as aulas de dança será nessa altura que lhes escapo eles são juízes e mandam nos canhões mas nunca conseguirão controlar o refractário efeito de turbulência que nem a matemática consegue explicar dum fio de fumo a subir_