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quinta-feira, março 24, 2005

quarenta romances de cavalaria # 15 

# 15 - quinta-feira

DEZ PARA AS NOVE estamos na semana santa e por isso em nome de deus não se trabalha é pecado e não se devem cometer pecados cometer pecados é mau três linhas é já são sete para as nove não devia estar a escrever não devia estar a fazer nada nem a dormir nem acordado nem a fazer ioga é pecado o trabalho na semana em que se celebra a paixão do senhor jesus apaguei o cigarro já estou outra vez a pecar tê-lo apagado é um pecado ainda maior que tê-lo acendido porque é um pecado continuado e já acendi outro e também tomei comprimidos cinco para as nove e não consigo deixar de pecar peco impulsivamente e sei que peco o que talvez seja pior não faço ideia aos olhos de deus é melhor pecar com consciência do acto ou com inconsciência do acto por isso te peço senhor dai-me penitências e mais penitências e mais penitências faz com que pare de escrever faz-me parar de pecar durante esta semana de rememoração do teu sacrifício do teu sublime sacrifício eu sei eu sei mal passe esta semana e tudo voltará ao normal o pecado já não será o do trabalho serão outras as causas da nossa infinita culpa mas hoje às nove horas da manhã por favor senhor dá-me a tua gorda mão e faz parar em mim a incontinência pecadora faz com que não apague o cigarro que tenho na mão faz com que esta folha de papel não se continue a preencher desta forma tão indecentemente rápida e pecaminosa em que as letras se alinham em comboio como piolhos a nascer se ao menos a tinta que sai da ponta da caneta tivesse a cor do teu sagrado sangue talvez por analogia simbólica algum perdão houvesse para os meus actos o cigarro está quase a chegar ao fim vá dá-me forças para que não o apague nove e cinco e apaguei o cigarro porque me abandonas porque não me cobres com o véu da tua casta inspiração será que não consigo comunicar contigo não me ouvirás lá onde estás ou serei eu quem não te ouve aqui onde estou será a voz do burro que não chega ao céu ou o céu que não chega ao coração do burro nem isso interessa a ordem dos factores é indiferente na multiplicação dos pecados nove e dez toda a minha eternidade está posta em causa e deus não me ajuda em nada senhor espero por ti até às nove e um quarto se não vieres em meu auxílio entenderei essa ausência como um sinal do teu definitivo abandono_

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