sexta-feira, março 11, 2005
quarenta romances de cavalaria # 1
# 1 - sexta-feira
VEM COMO UMA RODA DE ESTANHO uma rosa cerúlea dispo a saia e sinto o vento num pulmão que abre e fecha como um fole de acordeão faz-me mal este metal que tenho nos dentes enquanto procuro o anel depois de ter lavado as mãos quando acordei e te vi ali a cheirar a mim e eu sem saber nomear-te como uma roda de estanho quis acordar-te mas para quê só me irias fazer recordar coisas e palavras ditas calço um sapato depois outro e depois as luvas primeiro a esquerda depois a direita que horas serão sai um rato castanho do chão que já conhecia de outra casa de outro chão de outra mulher nem nos cumprimentámos tive que tirar outra vez os sapatos não tinha ainda vestido as calças o rato fugiu é o costume os seres inteligentes fogem assim que podem da bestialidade humana a janela está fechada ou talvez nem haja janela há é uma coisa redonda no tecto por onde deveria passar a luz da manhã mas não passa pego na espada em brasa desço a escada de ferro com uma forte dor num joelho a espada ilumina tudo eu próprio me sinto flamejante apesar da minha pele verde e dos olhos cegos tenho que sair para a rua com o temor de sempre as pessoas vão estranhar as minhas mãos as minhas elegantes mãos enluvadas talvez não reparem na cor da pele antes de sair engulo a espada o que não é difícil ao contrário do que se possa pensar apesar de ser obrigatório um cuidado especial com a traqueia que se deixa queimar com facilidade mas nunca me aconteceu abro devagar a porta da rua já as asas cresceram no meu peito como é sexta-feira nasceram brancas magnificat o gato acompanha-me na saída para o jardim e segue-me até aos táxis dentro de meia hora estarei no hospital sentado naquela cadeira eléctrica comandada por um pequeno manipulo cadeira que se move como uma roda de estanho pelos corredores será só mais um dia_
VEM COMO UMA RODA DE ESTANHO uma rosa cerúlea dispo a saia e sinto o vento num pulmão que abre e fecha como um fole de acordeão faz-me mal este metal que tenho nos dentes enquanto procuro o anel depois de ter lavado as mãos quando acordei e te vi ali a cheirar a mim e eu sem saber nomear-te como uma roda de estanho quis acordar-te mas para quê só me irias fazer recordar coisas e palavras ditas calço um sapato depois outro e depois as luvas primeiro a esquerda depois a direita que horas serão sai um rato castanho do chão que já conhecia de outra casa de outro chão de outra mulher nem nos cumprimentámos tive que tirar outra vez os sapatos não tinha ainda vestido as calças o rato fugiu é o costume os seres inteligentes fogem assim que podem da bestialidade humana a janela está fechada ou talvez nem haja janela há é uma coisa redonda no tecto por onde deveria passar a luz da manhã mas não passa pego na espada em brasa desço a escada de ferro com uma forte dor num joelho a espada ilumina tudo eu próprio me sinto flamejante apesar da minha pele verde e dos olhos cegos tenho que sair para a rua com o temor de sempre as pessoas vão estranhar as minhas mãos as minhas elegantes mãos enluvadas talvez não reparem na cor da pele antes de sair engulo a espada o que não é difícil ao contrário do que se possa pensar apesar de ser obrigatório um cuidado especial com a traqueia que se deixa queimar com facilidade mas nunca me aconteceu abro devagar a porta da rua já as asas cresceram no meu peito como é sexta-feira nasceram brancas magnificat o gato acompanha-me na saída para o jardim e segue-me até aos táxis dentro de meia hora estarei no hospital sentado naquela cadeira eléctrica comandada por um pequeno manipulo cadeira que se move como uma roda de estanho pelos corredores será só mais um dia_