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terça-feira, fevereiro 08, 2005

metrónomo # 4 

as noites sangram trémulos cardos no peito de uma pureza
já quase extinta – como estacas no amor
sou como uma coruja-do-mato com o seu canto de presságio
fazendo sucumbir nas suas garras a ínfima parte do que restava
da iluminação
sinto o crescimento diário dessas garras e dos grandes olhos negros que tudo vêem
no desfalecimento solar
é a funesta acção das asas cor de camurça – a desproporção
da cabeça em relação ao corpo-coruja/o provocado desequilíbrio
de um voo de rapina descontrolado e sem rota
descubro-me ao espelho um ser predador
afundando impotente o navio das pequenas felicidades que
arrebatei à claridade
sobrevivo
sorvendo o sopro de uma candeia por entre raízes
esqueletos amorosos clamando de dor contra mim
quando for disparado o lucífugo tiro de misericórdia
já estarei preso à terra esperando os dentes inocentes dos cães
que arda – eu – nesta amálgama de penas
no momento do impacto será em ti que penso –
eis o que de nada serve – apenas mais um canto
uma derradeira prestação musical – a inútil oferenda dos mortos
que – já tarde – sonham assumir perante os que amam
a forma espectral das andorinhas-das-barreiras


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