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segunda-feira, fevereiro 07, 2005

metrónomo # 3 

gostava que me dissesses qualquer coisa [ou]
que uma placa de mel pudesse ser a fundação de um edifício
[ou] que as estrelas na sua cadência centrífuga
parassem um átimo o ciclo dos seus desastres

se chego ao fim do dia é porque o relógio pára
à minha frente tenho um muro de espíritos que não
me puxa para dentro dele – nada
muda o sentido dos sorrisos
uma casa onde as portas fossem só entradas
e toda a gente entrasse e fosse picada
– um nada cheio/uma casa possuída por abelhas furiosas
com gente e gente a entrar e entrar e depois
acordadas das suas íntimas apatias por ferrões
de uma morte secreta num espaço cubicular

à minha frente tenho uma mesa pensante
que é o contrário de todo este desejo de floração
um rectângulo inteligente que cala o grito e metamorfose
das bandeiras em agitação desesperada

o relógio parou/como o dia eu cessarei a mecânica esquelética/sei
que a madrugada será oval como são ovais os bicos dos patos de bico oval
por dentro do sangue as veias correm álgidas levando ao coração
um leveza inteira
e é nesse percurso gélido
intrasanguíneo
que reside o sentido último do verso


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