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domingo, fevereiro 06, 2005

metrónomo # 2 

abri-lhe uma asa com todo o escrúpulo:
alares/escapulares/subcaudais/supra-alares secundárias
rémiges primárias/rémiges secundárias/rémiges terceárias
não havia dúvida
uma asa
pousei-o no cinzeiro e observei-o:
crista/bico/nuca/dorso/pescoço/franjas alares/uropígio/peito
rectrizes externas/flancos/ventre/mento e garganta
um ser voador não havia dúvida – um guincho comum
trinta e oito centímetros de comprimento

as beatas e a cinza fria no cinzeiro não pareciam incomodá-lo
achei estranho que tivesse a cabeça parda pois os guinchos no inverno
assumem uma plumagem branca e é janeiro – três graus negativos...
acendi-lhe um cigarro que fumou até os olhos se raiarem de vermelho
o café estava cheio/tinha mais coisas que fazer – nada a conversar
levantei-me/deixei-lhe mais dois cigarros sobre a mesa e saí
agora que está escrito não pensarei mais nisto
tentarei ignorar a visão que ainda tive quando na procissão
do angelus o voltei a ver num trono
coberto de jóias
venerado à passagem do andor
ao som de ladainhas em honra do arcanjo raphael vivo e entre nós


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