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terça-feira, fevereiro 15, 2005

metrónomo # 14 

as deslocações – a falta de dinheiro – a ausência de cor na
ponta dos dedos – dias parados/mudez
são tantas as coisas que
caem por terra sem a tocar
se os gestos tivessem a voltaica potência dos limões... das sementes

os gatos inventam rosas para se orientarem na cegueira
dos seus olhos vulvares – e encontram caminhos
picam-se
nessas fabulizadas roseiras – crêem-se
físicos no encontro com
pequenas felicidades delirantes

olho uma romãzeira lutando para cumprir a sua promessa de multiplicação
vejo como tudo está primordialmente arquitectado
para a existência de uma estrutura de doçura plena
de morangos de folha perene ou estradas desérticas onde a areia
absorve compassiva a obrigatoriedade de acordar

os castanheiros da índia observam-nos com as suas folhas agudas
mas há tantas coisas a consumar
de que serve olhá-los/responder-lhes/se no limite solar
o que prevalece é a exigência material de uma conta telefónica?

o mundo não foi criado
foi aparecendo
e desaparecendo
não há já espaço para a beleza navegações de espanto
nem lagos de deslumbramentos simples
secou o mar que fluía na cavidade uterina do cérebro

esta manhã gostava de ter percorrido uma rota concreta/como a dos cometas
ter-te encontrado num pontão sobre um rio de peixes vermelhos
gostava de ter tido a oportunidade de circular em imaginários percursos
pedestres de coloração oblíqua
mas a realidade/o dever
é a negociação implacável do milho com os pombos
instituição bancária
de asas cinzentas
e bicos contadores de moedas amarelas

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