domingo, fevereiro 27, 2005
atlas amarelo para um actor # 26
detestava ser espelho e ter todos os dias uma alice qualquer a querer furar-me as entranhas com a ideia fixa de que há qualquer coisa oculta do outro lado detestava ser um roupeiro sem fundo por onde um rapazinho órfão passa diariamente e sem pedir licença como acesso a um reino mágico a que dá o pomposo nome de narnia o que gostava mesmo era ser uma alice qualquer e em frente de um espelho estripar-lhe o ventre com a ideia fixa que há qualquer coisa de oculto do outro lado e ainda gostava mais de ser um menino órfão e saber entrar pelo fundo de um roupeiro num universo astral bastar-me-ia ter acesso a um banal cerejal e já tudo teria valido a pena –