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domingo, janeiro 30, 2005

breve gramática das raízes # 36 

que esta noite passasse devagar que fosse só madrugada
que as luzes fossem anzóis onde a minha boca se cravasse
e me puxassem para um planeta de olhos abertos
o casulo está novamente a fechar-se
a crisálida a perder a autonomia eléctrica
que lhe daria a liberdade das borboletas nocturnas/como
o pequeno pavão-da-noite que não mede mais que quarenta milímetros
e em adulto nem sequer se alimenta

não me importam as estrelas
nem a via-láctea nem as amendoeiras em flor nem as pirâmides do egipto
queria a paz lenta dos ossos e a fluidez tranquila do plasma
no exímios vasos sanguíneos dos olhos
quero pousar as pálpebras e não ter frio
quero só ter mão esquerda
quero só o lado esquerdo do meu corpo
quero sentir a tua mão picar-se nos espinhos de uma urtiga
venenosa
quero que sejas livre – percebes?

mas a noite é rápida/implacável/a noite
é um alfinete
e todo o imenso espaço um lago cenográfico
com patos e peixes vermelhos como naves atlânticas
num teatro do sec. XIX


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