sexta-feira, dezembro 17, 2004
o princípio # 38
tenho que escrever baixinho há muitos olhos nas paredes:
queria fugir – hoje – queria fugir já
queria que o mar se entornasse todo pelo hemisfério sul
e eu pudesse correr até não ter pés
nu em pleno chão atlântico
queria que todas as coisas voadoras deixassem de voar
e que caíssem os olhos a todas as coisas com olhos à face da terra
não quero sentir as estrelas não quero saber se o sol nasce/se
há mais homens e mulheres no mundo – ou qualquer outro animal
queria fugir
só isso
caminhar descalço pelo fundo do mar sem o mar por cima
nem um céu a afogar-me
quero ter dores/dores até que os ossos se retorçam sem forma
quero sentir uma culpa nova sem salvação
quero recusar a graça do arrependimento
se isto se cumprisse até oferecia um braço
oferecia-me a deus dava-me à terra
chupava a língua da besta casava-me com buda e os seus discípulos
um a um
faria tudo para fugir esta madrugada
mas que não viessem anjos aflitos atrás de mim
com as suas caixas de primeiros socorros e aquelas
ridículas asas feitas com penas de ganso
mas sabem...
é impossível
a roseta celeste que tudo comanda vigia-me
insuportável
sempre a organizar constelações
montada em nuvens falsas - coisas do teatro
mais meia hora e vestem-me o pijama com
sinos a tocar/tu vens dar-me beijos e assim
nem faltará o cheiro da vizinha/cheiro quente
a carne assada expandindo-se no éter da rádio
estou pregado a um chão de almofadas sob um céu imenso
vigilante/galáxias e galáxias concentradas em mim/prontas a atacar
deitado numa moderna cama japonesa
envés de mesa de cabeceira
tenho de um lado josé
do outro maria
e seis ou sete reis magos/bruxos/coisas negras/cabeludas
a barricarem a minha única saída
eu digo-vos – eu juro
a bondade humana não tem limite
queria fugir – hoje – queria fugir já
queria que o mar se entornasse todo pelo hemisfério sul
e eu pudesse correr até não ter pés
nu em pleno chão atlântico
queria que todas as coisas voadoras deixassem de voar
e que caíssem os olhos a todas as coisas com olhos à face da terra
não quero sentir as estrelas não quero saber se o sol nasce/se
há mais homens e mulheres no mundo – ou qualquer outro animal
queria fugir
só isso
caminhar descalço pelo fundo do mar sem o mar por cima
nem um céu a afogar-me
quero ter dores/dores até que os ossos se retorçam sem forma
quero sentir uma culpa nova sem salvação
quero recusar a graça do arrependimento
se isto se cumprisse até oferecia um braço
oferecia-me a deus dava-me à terra
chupava a língua da besta casava-me com buda e os seus discípulos
um a um
faria tudo para fugir esta madrugada
mas que não viessem anjos aflitos atrás de mim
com as suas caixas de primeiros socorros e aquelas
ridículas asas feitas com penas de ganso
mas sabem...
é impossível
a roseta celeste que tudo comanda vigia-me
insuportável
sempre a organizar constelações
montada em nuvens falsas - coisas do teatro
mais meia hora e vestem-me o pijama com
sinos a tocar/tu vens dar-me beijos e assim
nem faltará o cheiro da vizinha/cheiro quente
a carne assada expandindo-se no éter da rádio
estou pregado a um chão de almofadas sob um céu imenso
vigilante/galáxias e galáxias concentradas em mim/prontas a atacar
deitado numa moderna cama japonesa
envés de mesa de cabeceira
tenho de um lado josé
do outro maria
e seis ou sete reis magos/bruxos/coisas negras/cabeludas
a barricarem a minha única saída
eu digo-vos – eu juro
a bondade humana não tem limite