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quarta-feira, dezembro 15, 2004

o princípio # 35 

ainda sinto o espanto a maravilha o encantamento
daquele jardim
onde a minha avó foi depositada depois de cremada

antes da cerimónia sentei-me alguns instantes dentro da igreja
senti aquelas velhas madeiras anglicanas
vergarem-se sobre mim como rosas
em cada cadeira jazia um pequeno livro de cânticos
todos em inglês e meticulosamente desenhados
cada página um desenho
cada desenho um momento da eucaristia
letras a negro gravuras a sépia e muitas notas musicais
também desenhos afinal
estava feliz – tão inesperadamente feliz
antes de sair roubei um desses missais e durante alguns anos até
o
guardei
agora não sei dele nem sei se realmente o guardei durante alguns anos
ou se o deitei fora logo após a cerimónia do semear das cinzas

tinham aberto uma frincha na terra/sem lápide/sem nome
na frincha o meu pai encaixou a avó
.....naquele estado não mediria mais de 50 cm
como se escondesse um osso de vaca no quintal
não fosse um cão dar com ele/com ela

sob uma araucária anglófona
a minha tia emma forrou o chão com gerânios e viemos embora
já quase de noite
antes que chovesse

na rua tinha acabado de se acender uma magnífica luz amarela
e a basílica da estrela parecia encher lisboa com o excesso da sua redondeza

um bitoque
foi o que jantámos
no café império – em memória da avó elisabeth


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