quinta-feira, dezembro 02, 2004
o princípio # 28
especialmente dedicado a cineastas
a matança impôs-se pelos vidros do carro
lancetando flores e perfumes
fazendo vozear algumas árvores gritadoras
e ao longe o porco
alastrando em máximas contracções
como gigantes gaivotas numa seara de alturas
como é bela aquela mesa ornamentada
por onde escorrem os fluidos sanguíneos do porco
e os homens –
estátuas gregas em movimento
sócrates ter-se-ia apaixonado por aqueles homens
afiados
enquanto fincam os pés no chão
deixam gotejar urina nas cuecas
na excitação avermelhada de uma erecção de boné
agarram
as patas do porco como hércules teria agarrado as patas
do imperador do hades
o carro enche-se de cravos enquanto
a morte devassa a intimidade do sacrifício
mesmo ao lado –
junto à porta por onde hei-de sair no fim da viagem -
um único amor-perfeito resiste
preso a uma videira
na mudez de uma rosa
à nossa frente passa uma mulher
uma delicada e bonita magra mulher
carregando dois baldes de sangue
olha para nós
colados aos assentos do automóvel
e sorri
uma delicada e bonita mulher magra
grávida
carregando dois baldes de sangue
o porco já não grita
o porco já não tem forma
e os homens limpam das calças
com a mão
as viris manchas da ejaculação
a mulher passa à nossa frente
e sorri
«boa-tarde senhores»
e levanta os baldes à força de braços acima
da barriga prenhe de feto ou de chouriço
«é para o arroz senhores»
abro a porta do automóvel
deito a mão ao único amor-perfeito
arrancando-o silencioso
não sendo tradição
é uma recordação
uma morte silenciosa sem histerias
de facas e ainda assim tão igual
com os cravos dá bem para encher dois baldes
de vermelho
para o arroz
a matança impôs-se pelos vidros do carro
lancetando flores e perfumes
fazendo vozear algumas árvores gritadoras
e ao longe o porco
alastrando em máximas contracções
como gigantes gaivotas numa seara de alturas
como é bela aquela mesa ornamentada
por onde escorrem os fluidos sanguíneos do porco
e os homens –
estátuas gregas em movimento
sócrates ter-se-ia apaixonado por aqueles homens
afiados
enquanto fincam os pés no chão
deixam gotejar urina nas cuecas
na excitação avermelhada de uma erecção de boné
agarram
as patas do porco como hércules teria agarrado as patas
do imperador do hades
o carro enche-se de cravos enquanto
a morte devassa a intimidade do sacrifício
mesmo ao lado –
junto à porta por onde hei-de sair no fim da viagem -
um único amor-perfeito resiste
preso a uma videira
na mudez de uma rosa
à nossa frente passa uma mulher
uma delicada e bonita magra mulher
carregando dois baldes de sangue
olha para nós
colados aos assentos do automóvel
e sorri
uma delicada e bonita mulher magra
grávida
carregando dois baldes de sangue
o porco já não grita
o porco já não tem forma
e os homens limpam das calças
com a mão
as viris manchas da ejaculação
a mulher passa à nossa frente
e sorri
«boa-tarde senhores»
e levanta os baldes à força de braços acima
da barriga prenhe de feto ou de chouriço
«é para o arroz senhores»
abro a porta do automóvel
deito a mão ao único amor-perfeito
arrancando-o silencioso
não sendo tradição
é uma recordação
uma morte silenciosa sem histerias
de facas e ainda assim tão igual
com os cravos dá bem para encher dois baldes
de vermelho
para o arroz