quinta-feira, dezembro 23, 2004
de te reler - o espelho # 9
não está desidratado nem mumificado o corpo de um sacerdote
budista que faleceu há setenta e sete anos na russia/continua
intacto no templo de um mosteiro siberiano – um santo!
...quando o teu corpo caiu em dormência/era janeiro/mil novecentos e vinte
sete/perto do lago baïkal – coloquei à volta do teu magro pescoço uma
fita branca com a cuidadosa impressão de uma palavra tibetana: porco
– porco foi o que escrevi naquele colar
quem assistiu à transladação jura que o teu suposto cadáver tem o aspecto
de quem morreu há apenas trinta e seis horas setenta e sete anos depois de teres morrido
...trinta e seis horas...ainda deves ter sangue nas veias...sémen a escorrer
irão visitar o teu sepulcro cientistas de todas as nações
ajoujados como burros com computadores e aparelhos sofisticados de todo o género
querem determinar se estás vivo ou morto/milagres das tomografias
talvez reparem na fina fita de seda e lendo-a compreendam que não é o sublime
nirvana o lugar que habitas e que o teu corpo incorrupto denuncia
a tua verdadeira condição é a condenação sufocante de seres um venerável porco
acorrentado ao altar de um mosteiro – nada mais
budista que faleceu há setenta e sete anos na russia/continua
intacto no templo de um mosteiro siberiano – um santo!
...quando o teu corpo caiu em dormência/era janeiro/mil novecentos e vinte
sete/perto do lago baïkal – coloquei à volta do teu magro pescoço uma
fita branca com a cuidadosa impressão de uma palavra tibetana: porco
– porco foi o que escrevi naquele colar
quem assistiu à transladação jura que o teu suposto cadáver tem o aspecto
de quem morreu há apenas trinta e seis horas setenta e sete anos depois de teres morrido
...trinta e seis horas...ainda deves ter sangue nas veias...sémen a escorrer
irão visitar o teu sepulcro cientistas de todas as nações
ajoujados como burros com computadores e aparelhos sofisticados de todo o género
querem determinar se estás vivo ou morto/milagres das tomografias
talvez reparem na fina fita de seda e lendo-a compreendam que não é o sublime
nirvana o lugar que habitas e que o teu corpo incorrupto denuncia
a tua verdadeira condição é a condenação sufocante de seres um venerável porco
acorrentado ao altar de um mosteiro – nada mais