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sexta-feira, dezembro 31, 2004

de te reler - o espelho # 30 

não posso negar o prazer deste meu cansaço/da dor no joelho/do batimento explosivo
do coração/da cabeça em ferida que trago no olhar já desfeito destas manhãs sem voo
tudo isto é
também
um prazer profundo/não negarei que gosto de ver mal – gosto de óculos – não direi que
as tonturas permanentes e os desequilíbrios me desesperam completamente
é um facto que a tortura física se pode tornar num pretexto para existir –
uma máquina que funciona mal/dolorosamente/é uma máquina que funciona
pretextos para existir – nada mais que pretextos para existir – no entanto
irremediavelmente – os pretextos esgotar-se-ão/a existência extinguir-se-á – tu não virás
(meu pretexto de dor – meu mel)
agarrado a uns óculos de leitura aqui continuarei sentado na ilusão de mais um dia


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